Tribuna Ribeirão
Artigos

Os Desafios de Estudar a Percepção do Tempo (20): Relembrar Eventos Ocorridos

Pode ser difícil identificar, algumas vezes, quando ou há quanto tempo, exatamente, um evento ocorreu. E isso inclui a cronologia dos eventos na vida de alguém. Esta questão é difícil porque não parece haver qualquer demarcação temporal em nossas numerosas memórias, ou trajetória temporal direta, quando navegamos em nossas memórias de eventos passados para identificar o exato momento da ocorrência dos mesmos. A questão do entendimento dos mecanismos pelos quais os estudiosos podem traçar a data de um evento na memória assemelha-se àquela de um arqueólogo tentando identificar as origens de certos artefatos. Os arqueólogos devem tentar estabelecer a idade de um dado objeto, para ver se este objeto pertence ou não ao nível de desenvolvimento tecnológico da era presumida e determinar se alguma coisa desse objeto possibilita situá-lo cronologicamente em relação aos demais.

Segundo Simon Grondin, em seu livro “The perception of time: your questions answered” (2020), há três hipóteses relacionadas à memória do tempo. A primeira é baseada na distância que existe entre o evento ocorrido e a data presente. A segunda é baseada identificando-se o lugar em que o evento ocorreu, bem como, a informação deixada pelo mesmo na codificação do tempo. A terceira, por sua vez, é baseada no momento da ocorrência relativa aos outros eventos.

Nas interpretações baseadas em distância, a informação sobre quando uma memó­ria ocorreu é um processo funcionando entre o momento de codificação do fato ocorrido e o relembrar do mesmo. De­preende-se, assim, que há uma estipulação de que a habilidade para relembrar depende da robustez do traço que um evento deixa na memória, de forma que, quanto mais forte esse traço, mais recente esse evento pode parecer. A segunda explicação é baseada na informação capturada no momento da codificação do tempo ou da reconstrução da memória. A terceira explica­ção é baseada no momento da ocorrência de um evento em comparação a outros eventos.

Vejamos alguns fatos. Em estudos de laboratórios, listas de palavras são ensinadas aos participantes e es­tes são solicitados para indicar qual era a posição relativa dessas palavras sem, necessariamente, informá-los, a priori, que o aspecto temporal, ordem ou aparecimento é importante. Outro tipo de pesquisa lida com as memórias biográficas, ou do cotidiano. Os dados do primeiro tipo de experimento, estudo de laboratório, mostram que os participantes localizam mais precisamente as palavras que primeiramente aparecem na lista inicial do que aquelas palavras localizadas no final da lista. Assim, a trajetória na memória deixada pelas palavras indica que as mais antigas são supostas terem menos robustez que as mais recentes. Por sua vez, nos estudos autobiográ­ficos revela-se certa precisão no relembrar cronológico dos eventos. Mas, algumas vezes, alguns vieses podem ocorrer no contexto. Por exemplo, participantes podem, algumas vezes, relembrar, claramente, que eventos podem ter ocorrido em um momento específico do dia, mas sem relembrar em qual dia, mês e ano isso ocorreu. Devemos lembrar, também, que as pessoas, de modo geral, tendem a acreditar que os eventos mais antigos não ocorreram há tanto tempo atrás, enquanto que os eventos mais recentes tendem a ser relembrados, algumas vezes, como sendo mais velhos do que eles realmente o são.

As pessoas também en­contram dificuldade em situar eventos passados no momento certo, e até mesmo podem perder sua referência de tempo relativa a dias, a anos e mesmo a décadas. Essas pessoas, todavia, podem não ter problemas em fazer certas tarefas temporais envolvendo curtos inter­valos de tempo, como, por exemplo, menos de 1 minuto. Para entender um pouco o que acontece, deve ser destacado que há duas categorias de desordens no funcionamento da memória. Algumas vezes as pessoas são incapazes de re­lembrar fatos que acontecem há mais de 1 minuto atrás. Os sêniores tendem a repetir a mesma questão após poucos minutos de conversação, frequentemente incapaz de codificar a resposta. Eles podem ter dificuldade em registrar nova informação, mas serão hábeis em relembrar, com grande acurácia, eventos de um passado distante. Essa inabilidade para reter nova informação é chamada amnésia anterógrada. Em contraste, pessoas podem não ser hábeis em relembrar memórias muito antigas, o que é chamado amnésia retrógrada.

Considerados em conjunto, esses dados revelam que a codifi­cação e o relembrar de uma crono­logia correta de eventos é crucial para que se tenha um completo entendimento desses eventos.

Postagens relacionadas

O epitáfio da educação básica

Redação 1

Um dia o Brasil será pacífico?

William Teodoro

Ideologia é só de esquerda?

Redação 1

Utilizamos cookies para melhorar a sua experiência no site. Ao continuar navegando, você concorda com a nossa Política de Privacidade. Aceitar Política de Privacidade

Social Media Auto Publish Powered By : XYZScripts.com