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Os desafios de estudar a percepção do tempo (17): Traumatismo Craniano

Traumatismo craniano, lesão que atinge somente o crânio, normalmente ocasio­nada por um forte impacto, é um problema de saúde que pode causar danos graves ao cérebro, frequentemente lesões nos lóbulos frontal e temporal, acompanhadas por uma perda de consciência e um período de confusão. As sequelas neurológicas podem ser mais ou menos severas mas mudanças cognitivas de longo prazo são frequentemente observadas, incluindo déficits atentivos, perda de memória e difi­culdades no processamento de velocidade. Pela natureza dos problemas acarretados por estes traumatismo, pesquisadores têm hipotetizado que os pacientes com esse tipo de lesão apresentam problemas de disfunções temporais, exatamente por causa dos déficits de atenção e mnemônicos.

Um estudo comparando pacientes com lesões cranianas e pacientes controle, solicitou a ambos a estimação de duração de intervalos temporais de 10, 25, 45 e 60 segundos. Os dados observados mostraram que as estimativas foram significativamente menores em pacientes sob as condições de 45 e 60 segundos. Por exemplo, na condição de 60 segundos, enquanto o desvio médio da duração padrão foi menor que 20 segundos no grupo controle, esse mesmo desvio foi maior do que 20 segundos nos pacientes. Estudo similar, que usou as durações de 25, 45 e 65 segundos, mostrou que os pacientes com traumatismo craniano subestimaram as estimativas temporais quando comparados aos resultados dos participantes saudáveis, mas esta observação foi válida apenas para a 1ª avaliação. Posteriormente, enquanto os déficits da memória episódica persistem, as diferenças entre ambos os grupos desaparece, fato que levou os pesquisadores a concluírem que a memória episódica não desempenha um papel crítico na recuperação dos pacientes lesiona­dos para estimação verbal da duração.

Quando os métodos de reprodução de intervalos foram usados, as conclusões sobre diferenças entre grupos não foram similares àquelas baseadas usando-se o método de estimativa verbal. Por exemplo, um estudo envolvendo os dois primeiros métodos e utilizando os intervalos de 5, 14 e 18 segundos, mostraram que não houve diferença significativa entre pacientes com traumatismo craniano e participantes num grupo controle quando a tarefa temporal tinha de ser completada num contexto onde uma tarefa cognitiva, como leitura, por exemplo, tinha que ser feita concomitantemente. Todavia, participantes em ambos os grupos tendem a subrepresentar o intervalo padrão quando uma tarefa secundária não temporal é requerida em adição à tarefa temporal. Outro indicador interessante, que tem sido investigado, é a variabilidade entre os participantes quan­do efetuando tarefas temporais. De fato, curiosamente, estudos têm revelado que há diferenças entre ambos os grupos (lesionados e saudáveis) para as estimativas verbais de intervalos de 45 e 60 segundos. Mas não houve diferenças na variabilida­de para todas as durações estudadas ao longo da pesquisa.

Em relação à tarefa de discriminação de intervalos-padrão de 500 e 1300 milissegundos, pesquisadores demonstraram que pacientes com traumatismo craniano têm muito mais dificuldades que um grupo de participantes saudáveis em discriminar entre intervalos. Por adição, comparando-se não pacientes com pacien­tes lesionados, testes neuropsicológicos revelaram que os lesionados têm tempos de reação menores e menores escores em testes avaliando memória de trabalho ou memória episódica.

Segundo Simon Grondin em seu livro “The perception of time: your questions answered” (2020), nota-se que a maioria desses estudos não considera a percep­ção de tempo baseada na memória prospectiva, que consiste em relembrar que, em algum ponto, no futuro, alguma coisa terá que ser feita. Em tarefas similares, pacientes com traumatismo craniano tendem a monitorar o tempo mais frequen­temente e serem menos específicos do que os não pacientes. Em adição, os desempenhos dessas tarefas temporais são fortemente relacionados às funções executivas, especialmente nas habilidades de atualização e inibição.

Considerados juntos, os diferentes estudos revelam que os problemas encon­trados pelos pacientes com traumatismo craniano não têm, estritamente falando, raízes temporais, mas surgem de outros déficits cognitivos ou mnemônicos.

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