Ao longo de nossa trajetória de vida, muitos eventos e circunstâncias individuais e coletivas criam fortes emoções, que afetam nossos processos mentais e corporais. Vejam, em particular, a pandemia da COVID-19 que tem afetado muitas das arenas de nossa vida. Segundo Simon Grondin em seu livro “The perception of time: your questions answered” (2020), temos, muitas vezes, a impressão de que o tempo é, de algum modo, suspenso, parado, interrompido. Nestas ocasiões, se questionados a estimar a duração temporal na qual nos encontramos em tais estados mentais, é possível que essa estimativa não corresponda, exatamente, à duração real. Considerando a conexão entre duração percebida e emoção, muitos estudiosos têm focado tanto julgamentos retrospectivos, que ocorrem quando avaliamos um intervalo de tempo que não é previamente conhecido, quanto julgamentos prospectivos, que ocorrem em intervalos de tempo curtos, usualmente estimados por métodos psicofísicos e perceptuais.
Em relação aos julgamentos retrospectivos, num estudo típico, os participantes tiveram de atender a uma aula de 12 minutos e, então, ler por 7 minutos. A duração dessas duas atividades poderia, eventualmente, serem estimadas retrospectivamente. Todavia, entre essas duas tarefas, o humor foi manipulado por uma técnica envolvendo a leitura de uma série de afirmações prováveis de induzir uma emoção positiva ou negativa seja, por exemplo, por um filme curto, com conteúdo feliz ou triste. Os resultados deste estudo revelaram que o estado de felicidade leva a uma subestimação significativa da duração temporal e que o estado de tristeza tende a criar uma superestimação dessa mesma duração. Em outras palavras, se os participantes estavam no estado alterado (leitura) ou não (apenas fazendo o curso) no momento da atividade, a duração da qual teriam de estimar mostravam resultados iguais. É o estado emocional do momento de fazer o julgamento que parece influenciar a estimativa pessoal.
Em outros estudos, participantes assistiram a vídeos curtos por 15 minutos, os quais geravam felicidade ou tristeza, ou, ainda, deixavam as pessoas neutras. A retrospectiva dessa duração de 15 minutos ocorreu imediatamente após a apresentação dos vídeos, uma semana depois ou um mês depois. Os resultados mostraram que a duração é fortemente superestimada após uma semana ou um mês, mas não quando a estimativa é feita imediatamente após assistir os vídeos. Não houve diferença na estimação temporal em função do estado emocional gerado pelos vídeos.
Em relação aos julgamentos prospectivos, estudos têm investigado se imagens neutras, como, por exemplo, apresentação de faces, cuja duração simule intervalos maiores ou menores, revelam, quando comparadas às imagens neutras, a duração da apresentação de faces expressando medo, raiva ou felicidade percebidas como mais longa, mas aquelas de faces expressando vergonha é subestimada. O efeito é particularmente forte com faces famintas, mas pode não se manifestar com esta expressão facial quando uma tarefa de generalização ou de reprodução temporal é utilizada. Também tem se observado que a duração é percebida como sendo maior quando imagens provocam desgosto. Por exemplo, quando imagens de mutilação são apresentadas e comparadas com apresentação de imagens neutras ou de expressões faciais de desgosto. Interessante é que mulheres sofrendo de anorexia superestimam a duração de figuras de alimento em comparação àquelas neutras, por causa da reação emocional causada pelo alimento.
Tomados juntos, os estudos previamente sumariados, e muitos outros, afetam, de algum modo, tanto julgamentos retrospectivos quanto os prospectivos, mas o efeito de qualquer excitação fisiológica poderá depender da valência da emoção.