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Os desafios de estudar a percepção do tempo (14): Diferenças individuais

Conhecemos pessoas que são mais ou menos organizadas para as quais os apontamentos, reuniões e outras atividades agendadas não parecem pertur­bá-las ou provocar nas mesmas qualquer preocupação. São sempre pontuais. Também, ao contrário, conhecemos inúmeras outras pessoas para as quais o tempo é uma preocupação constante e têm arranjado sua vida em função de um cronômetro ou metrônomo para que cada coisa possa funcionar. O fato é que as pessoas são muito diferentes das outras em seus arranjos e manejo do tempo e, também em suas diferentes facetas. São as diferenças individuais.

Segundo Simon Grondin em seu livro “The perception of time: your questions answered” (2020), uma maneira de analisar como nós diferimos em nosso relacionamento com o tempo é observar as dimensões temporais que os estudiosos têm tentado avaliar ao longo dos anos de pesquisa sobre esta temática. Tal como ocorre com os estudos acerca de outros constructos ou fenômenos psicológicos, questionários ou inventários têm sido usados para investigar as diferenças indi­viduais. Por exemplo, o Inventário de Personalidade Temporal (IPT) inclui 43 questões e avalia os comportamentos, cognições e emoções de cinco dimensões de personalidade temporal: consciência do tempo livre, pontualidade, plane­jamento, policronicidade e impaciência. Estes são traços, isto é, predisposições para sermos ou agirmos de certa maneira.

Outro questionário utilizado no campo do tempo psicológico é conhecido como Inventário de Perspectiva Temporal Zimbardo. O IPTZ requer que os participantes respondam a uma série de afirmativas numa escala de cinco cate­gorias distribuídas em 5 dimensões. Assim, os indivíduos têm, variando em diferentes graus, uma visão geralmente negativa ou aversiva do passado (1: passado negativo), uma atitude sentimental ou positiva em re­lação ao passado (2: passado positivo), uma atitude de desamparo ou de desesperança em relação à vida (3: presente fatalístico), uma atitude ao tomar risco, orientado em direção ao prazer e ao momento presente, sem reflexão sobre as conseqüências futu­ras (4: presente hedonístico) e, finalmente, uma inclinação geral em direção ao futuro (5: orientado para o futuro).

A despeito de muitas dimensões que podem distinguir uma pessoa da outra em relação ao tempo e seu manejo, há frequentemente dentro de uma sociedade modos comuns para agir em função do tempo. Todavia, o valor e o significa­do dados ao tempo podem diferir consideravelmente de uma sociedade para outra. Vários estudos têm analisado o ritmo de vida em diferentes países. Por exemplo, há estudos comparativos mostrando que o ritmo de vida no Japão e na Europa Ocidental é muito mais rápido enquanto o mesmo é muito mais lento nos países em desenvolvimento. O ritmo de vida, de fato, é geralmente mais rápido em nações com uma cultura individualista, naquelas que tem uma economia mais próspera e naquelas onde o clima é muito mais frio.

Em adição, nações ocidentais, onde os valores individuais são impor­tantes, são caracterizadas por uma orientação e planeja­mento de curto prazo e o oposto ocorre para orientação a longo-prazo como no caso de Taiwan ou China, onde há o respeito às tradições e a necessidade de preencher as obrigações sociais.

Tomadas juntas, além de nossas diferenças individuais em relação à percepção do tempo, as análises mostram que o nosso relacionamento com o tempo é também parcialmente uma reflexão do contexto cultural no qual nós esta­mos inseridos, de forma que o ambiente social determina um certo estilo de vida e nos impõe um certo ritmo de vida.

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