Muitas vezes nos perguntamos quanto tempo o tempo tem. Do mesmo modo, também nos perguntamos como nossa percepção do tempo pode ser mensurada, perturbada e enriquecida. É também comum as pessoas perguntarem como as desordens psicológicas, mentais e cognitivas, como esquizofrenia, ansiedade e depressão, além de insônia e medo, entre outros, podem perturbar os nossos julgamentos temporais. Por adição, como nossas emoções afetam os nossos julgamentos da duração temporal? Nossa relação com o tempo difere de uma pessoa para outra?
Aqueles que estudam a percepção do tempo sabem que os participantes de qualquer experimento sobre o mesmo, quando solicitados a fazerem julgamentos explícitos sobre duração temporal, podem fazê-los em duas categorias, a saber, prospectiva ou retrospectiva. De acordo com Simon Grondin, em seu “The perception of time: your questions answers” (2020), na retrospectiva, os participantes não conhecem, a priori (previamente), que eles terão de estimar a duração de um evento ou de uma atividade qualquer. Na prospectiva, quando os julgamentos se referem às condições onde os participantes são informados previamente por um experimentador que o tempo, a duração de um intervalo definido de algum modo, deverá ser estimado.
Assim considerando, nos julgamentos retrospectivos, os intervalos a serem julgados serão longos enquanto que, nas condições de julgamentos prospectivos, os intervalos serão curtos, variando de milissegundos a poucos segundos. Esses estudiosos também entendem que dois indicadores da percepção de tempo podem ser analisados. Um deles refere-se às estimativas médias, em oposição á variabilidade dessas estimativas. Por exemplo, você pode querer conhecer a eficiência de uma pessoa que afirma ser muito hábil estimar, com precisão, o tempo transcorrido. Para isso, você pode requerer a essa pessoa que faça duas estimativas diferentes da duração de 1 minuto. Na primeira estimativa, essa pessoa indica que 1 minuto foi estimado como 59 segundos. Na segunda, o tempo estimado teve 61 segundos. Certamente, o tempo médio dessa pessoa será perfeito, exatamente 60 segundos.
Suponha, agora, que outra pessoa faça estimativas similares e indique que 1 minuto tenha 55 e 59 segundos, respectivamente, em relação à primeira estimativa. Obviamente as estimativas médias dessas duas serão, também, 1 minuto, mas essa segunda pessoa exibirá uma maior variabilidade que a primeira pessoa ( colocou maior variabilidade de segundos que a primeira pessoa ). Logo, quando estudamos os julgamentos temporais de diferentes pessoas, torna-se necessário verificar se temos interesse na média da duração percebida ou na capacidade de uma pessoa minimizar a amplitude entre as várias estimativas de tempo, isto é, a variabilidade de seus julgamentos.
Os estudiosos interessados em estudar o tempo psicológico frequentemente distinguem quatro métodos distintos. O primeiro é chamado estimação verbal, que requer a apresentação de um intervalo-alvo para uma pessoa que, então, tem de fornecer, verbalmente, em segundos ou minutos, uma estimativa do intervalo previamente dado pelo experimentador. O segundo método é chamado produção de um intervalo e, nele, o experimentador indica um intervalo temporal a um participante por meio de unidades cronométricas conhecidas, solicitando ao participante que produza este mesmo intervalo utilizando duas teclas digitais, ou a tecla de espaço de um teclado de computador, a fim de marcar o início e fim do intervalo criado. Neste caso, também é permitido que o participante pressione uma tecla pela duração considerada equivalente à duração fornecida pelo experimentador.
O terceiro método é chamado reprodução, requerendo a apresentação, por um experimentador, de um intervalo-alvo. Esse intervalo sendo marcado por um som ou por um estímulo visual contínuo, ou por dois sinais breves, determinando o início e o fim do intervalo a ser reproduzido. Neste caso, o participante pode, em seguida, pressionar uma tecla apenas no final do intervalo-alvo, seguindo um sinal, um som ou um flash de luz breve indicando o começo do intervalo a ser reproduzido, ou pressionar a tecla duas vezes para indicar o começo e o fim do intervalo reproduzido, ou, ainda, pressionar a tecla de maneira contínua, durante toda a duração do intervalo a ser reproduzido. Decorre, claramente, que, por ocasião de as investigações incluírem julgamentos retrospectivos, os métodos de estimação verbal, ou de reprodução de um intervalo, são mais apropriados. Com os julgamentos prospectivos, esses três métodos, já descritos, podem ser apropriadamente usados, bem como, o quarto método a ser descrito a seguir.
O quarto método é chamado de método de comparação e, algumas vezes, pode ser considerado como uma tarefa de discriminação. Através dele, um participante é sucessivamente apresentado com um intervalo-padrão e com um intervalo de comparação. O participante tem que ajustar a duração do intervalo de comparação até que o mesmo pareça igual à duração do intervalo padrão. Após uma série de tentativas, torna-se possível obter um ponto de igualdade subjetiva (TIS), que indica a duração percebida do intervalo de comparação e a variabilidade dos diversos ajustamentos, conhecida como desvio-padrão, que pode ser interpretada como um valor do que se chama tecnicamente de limiar diferencial.
Assim iniciado, iremos conhecer as múltiplas facetas que o tempo psicológico tem.