Rui Flávio Chúfalo Guião *
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Dias atrás, num happy hour, meu querido primo, grande amigo e meu médico eficientíssimo Dr. Ênio Pasquali Júnior sugeriu que eu escrevesse sobre os cinemas de nossa cidade. Com minhas lembranças de morador de Ribeirão Preto e algumas pesquisas, fiz esta crônica, que dedico ao Ênio.
Não se pode falar sobre cinema em nossa cidade sem nos lembrarmos dos anos de grande prosperidade e riqueza que a atingiram na época do café. Os grandes fazendeiros, patrocinadores da República, resolveram investir na modernização e embelezamento da jovem vila, que importou ideias europeias e fez nascer uma vida cultural ímpar no país.
Outra causa do desenvolvimento de Ribeirão Preto foi a chegada dos trilhos da Cia. Mogiana de Estrada de Ferro, que abriu a cidade para vários e rápidos contatos
Ribeirão era chamada de Petit Paris, a pequena Paris caipira do nordeste paulista. O ponto principal e inicial desta vida cultural marcante foi a construção do Teatro Carlos Gomes, em 1897, patrocinado por um grupo de fazendeiros, liderados por Francisco Schmidt, grande e refinada obra.
Junto com o teatro, veio o cinema. Invenção de 1895 dos franceses irmãos Lumière, culminou várias pesquisas para se conseguir a movimentação e projeção da imagem. Eram filmes mudos, inicialmente mostrando imagens de cidades e depois de pessoas em eventos.
O primeiro contato que a população teve com a arte iniciante deu-se quando exibidores ambulantes traziam suas máquinas pela Mogiana e mostravam precários filmes em salas alugadas.
Em 1908, o Teatro Carlos Gomes começou a exibir filmes, conjuntamente com sua programação de óperas, operetas, revistas. Seguiram-no o BijouTheatre, em 1909,o Cassino Eldorado, em 1910, o Paris Theatre e o Odeon, de 1914 e o Cine Eldorado, de 1917. Os filmes eram mudos e um pianista ou uma pequena orquestra tocava durante a exibição. O projetor ficava atrás da tela, que precisava ser molhada algumas vezes para a melhor visualização das imagem projetadas.
Personagem importante na infância do cinema em Ribeirão Preto foi Aristides Motta, que não só mantinha o Teatro Polyteama, para shows de variedades e apresentações cinematográficas, como era produtor de filmes. Ficaram famosas as tomadas dos frequentadores das confeitarias da cidade, exibidas depois em sua sala.
Nos ano de 1927, os americanos inventam os filmes sonoros, dando outra dimensão para a sétima arte e abrindo nova fase na vida do cinema em nossa cidade.
No mesmo ano, inaugura-se o Cine Avenida, na Jerônimo Gonçalves. Em 1930, o majestoso e recém inaugurado Theatro Pedro II passa a exibir filmes. Em 1936 é a vez do Cine São Paulo, no Edifício Diederichsen, sendo da mesma época o Cine São Pedro, no centro da cidade.
Nos anos de 1950, Ribeirão Preto testemunha o surgimento de várias salas de exibição: Cine Centenário, Cine São Jorge , com 1.682 lugares, o maior da cidade, Cine Campos Elíseos, Cine Santana, Cine São Luís, Cine Santo Antônio, Cine Marrocos, Cine Suez, Cine Cairo, Cine Ipiranga, Cine Mirage, Cine Windsor, culminando, na década de 1970, com os cines Plaza, Bristol e Comodoro.
Hoje, todos eles estão desativados, pois não venceram a concorrência da televisão, dos vídeos clubes e dos streamings, que levaram o prazer do cinema para o recanto dos lares.
Em nossa cidade, sobrevivem somente as salas localizadas nos nossos shoppings.
* Advogado e empresário, é presidente do Conselho da Santa Emília Automóveis e Motos e Secretário-Geral da Academia Ribeirãopretana de Letras