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Operação Sevandija – Vereadores citados negam atos ilícitos

O Tribuna teve acesso aos esclarecimentos de nove vereadores citados pelo empresário Marcelo Plastino em planilhas

O presidente da Casa, vereador Rodrigo Simões é acusado de receber R$ 5 mil por mês da Atmosphera. Ele nega.

Nicola Tornatore

Os vereadores da atual legislatura da Câmara de Ribeirão Preto que foram citados em relatório da Polícia Federal sobre as investigações da Operação Sevandija negam a prática de atos ilícitos nos esclarecimentos prévios que encaminharam ao Conselho de Ética do Legislativo. O Tribuna teve acesso aos documentos, por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI), e constatou que parágrafos inteiros são idênticos nas defesas de vários parlamentares.
Nove vereadores foram citados no total. Os nomes de seis deles – do presidente da Casa de Leis, Rodrigo Simões (PDT), Ariovaldo de Souza, o “Dadinho (PTB, assumiu a vaga de Waldyr Villela, do PSD, afastado), Jean Corauci m(PDT), Adauto Marmita (PR), Maurício Gasparini (PSDB) e Alessandro Maraca (PMDB) – aparecem em relatório produzido pela PF após perícia em aparelho celular do empresário Marcelo Plastino, dono da Atmosphera Construções e Empreendimentos, protagonista de um dos núcleos de investigação da Operação Sevandija e que cometeu o suicídio em novembro do ano passado.
Sobre o atual presidente da Câmara, Rodrigo Simões, o relatório da PF cita que Marcelo Plastino teria escrito que pagava ao vereador R$ 5 mil por mês. Com relação a Gasparini, Plastino teria afirmado que, em um encontro em um restaurante da cidade, um irmão do vereador pediu doação de R$ 20 mil para a campanha de outubro do ano passado.
Sobre Adauto Marmita, Plastino teria citado que ele era funcionário fantasma da Atmosphera – o ponto de presença seria falsificado. Jean Corauci também teria recebido salário por dois meses mesmo com a folha de presença em branco. Com relação a Maraca, o empresário teria dito que ele indicava correligionários para cargos. Dadinho, suplente que assumiu a cadeira de Villela, era, segundo Plastino, indicado de Walter Gomes (PTB, ex-vereador preso em Tremembé) na Atmosphera e que também falsificava as folhas de ponto.
A mais extensa entre as defesas dos seis vereadores é a de Maurício Gasparini. O advogado dele destaca que o tucano “não figura como réu no processo criminal” que corre na 4ª Vara Criminal, decorrente da Operação Sevandija” e que “não pende nenhuma acusação de natureza criminal relativa ao recebimento de vantagens indevidas”. Sobre o encontro do irmão do vereador, Marcelo Gasparini, com Marcelo Plastino, a defesa confirma ter ocorrido, e argumenta que foi solicitada uma doação de R$ 20 mil devidamente registrada na Justiça Eleitoral – doação que nunca se efetivou.
Rodrigo Simões, acusado de receber “mensalinho” de R$ 5 mil, nega a denúncia, diz que nunca pediu nada a Plastino e desafia a todos a encontrar uma ligação telefônica, foto ou filmagem dele com o dono da Atmosphera. Dadinho, por sua vez, além de negar ter sido funcionário fantasma da Atmosphera, ataca o próprio Conselho de Ética da Câmara.
Ele diz em sua defesa que o órgão “agiu de ofício”, contrariando resolução de 2011, segundo a qual o referido conselho deve agir “mediante provocação do mesa diretora”. Dadinho diz que o Conselho de Ética “extrapolou competência legal” e pede o “imediato arquivamento do procedimento instaurado”.
Maraca é quem faz mais ataques à imprensa em sua defesa. Ele reclama da “forma distorcida e contraditória” das matérias veiculadas, se queixa do “descaso” em relação à sua pessoa e sustenta que as reportagens são “desprovidas de veracidade”. E nega ter feito indicações para cargos na Atmosphera.
Marmita e Corauci, ambos acusados de serem funcionários fantasmas, têm defesas diferentes. O primeiro diz que foi funcionário da Atmosphera de 10 de abril de 2013 a 13 de janeiro de 2015 e que trabalhou como ajudante de pedreiro, jardineiro e pintor; nunca recebeu sem trabalhar e que nunca na vida viu ou conversou com Marcelo Plastino. Já Corauci diz que as folhas de presença em branco têm uma explicação simples – ele estava em férias naquele período.

Mais três – O Conselho de Ética notificou e pediu esclarecimentos aos seis vereadores que aparecem no relatório da PF, mas outros três citados na delação premiada de Alexandra Ferreira Martins e Paulo Roberto de Abreu Junior (respectivamente ex-namorada e ex-sócio de Marcelo Plastino), homologada pela Justiça em 15 de setembro, também apresentaram seus esclarecimentos, voluntariamente.
Maurício de Vila Abranches (PTB), que, segundo a delação premiada, teria sido indicado pelo PMDB para ser contratado pela Atmosphera e que não trabalhava, fraudando o ponto, se diz inocente. “Desempenhei com pontualidade, assiduidade e afinco o trabalho durante os anos em que fui empregado da empresa Atmosphera”.  Ao longo de 13 páginas, o vereador não diz qual função desempenhou.
Paulo Modas (Pros), que segundo a delação teria recebido dinheiro de Marcelo Platino para não levar adiante uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre a Atmosphera, nega as irregularidades. “Nunca tratei, nunca solicitei, nunca me reuni, nunca firmei qualquer ligação com o empresário e ainda nunca recebi qualquer vantagem ou valor advindo de Marcelo Platino”, diz.
Por fim, Elizeu Rocha (PP), em esclarecimento voluntário de apenas sete linhas, diz que “desconhece qualquer ocorrência que guarde relação com o conteúdo da reportagem” e que “repudia veementemente o uso de seu nome”.

Conselho não arquiva o caso
O Conselho de Ética da Câmara Municipal abriu procedimento e encaminhou ofício aos seis vereadores pedindo esclarecimentos prévios, mas não instaurou processo investigativo, uma vez que não recebeu qualquer representação nesse sentido. O procedimento, no entanto, não foi arquivado. A pedido do Tribuna, o Conselho de Ética emitiu a seguinte nota, assinada pelo vereador Lincoln Fernandes (PDT): “Após receber os esclarecimentos prévios dos vereadores, o Conselho de Ética da Câmara Municipal de Ribeirão Preto, por consulta e recomendação do Departamento Jurídico, monitora o andamento do processo 0028367-15.2016.8.26.0506, que tramita pela 4ª Vara Criminal desta Comarca”.

 

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