O Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou na quinta-feira, 27 de maio, uma investigação internacional sobre possíveis crimes ocorridos nos onze dias de conflito entre Israel e Hamas na Faixa de Gaza. A resolução também pede que uma comissão de especialistas estude as raízes das tensões, incluindo a discriminação e a repressão sistemática com base na identidade nacional, étnica, racial ou religiosa.
O texto foi aprovado com 24 votos a favor, nove contra e 14 abstenções, incluindo a do Brasil. A investigação busca recolher provas e elementos que possam ser utilizados na abertura de um processo judicial e na identificação e julgamento de culpados. Segundo o texto da resolução, a impunidade antiga e sistemática minou todos os esforços para se chegar a uma solução justa e pacífica para a crise.
O chanceler palestino, Riyad al-Maliki, participou da reunião remotamente e acusou Israel de ter estabelecido um regime de apartheid com base na opressão do povo palestino e de seu deslocamento forçado. Ele também reivindicou o direito dos palestinos de resistirem à ocupação e disse que colonos israelenses deveriam estar na lista de terroristas.
O embaixador de Israel na ONU, Meirav Eilon Shahar, acusou o Hamas de ter iniciado o conflito e garantiu que seu país fará o possível para reduzir as tensões. Esta é a primeira vez que o Conselho de Direitos Humanos institui uma comissão com mandato indefinido. Em outros casos, como o da Síria, ele é renovado todos os anos.
O conflito entre Israel e o Hamas começou no dia 10. Os bombardeios israelenses contra Gaza mataram 254 palestinos, incluindo 66 crianças. O Hamas disparou mais de quatro mil foguetes e matou doze pessoas em Israel. A alta comissária da ONU para os direitos humanos, Michelle Bachelet, criticou as mortes e a destruição causadas pelos ataques israelenses, que afetaram muitos civis.
“Apesar das alegações de Israel de que muitos desses edifícios (atingidos pelos bombardeios) abrigavam grupos armados ou eram usados para fins militares, não vimos evidências disso. Se for verificado que o impacto sofrido por civis foi indiscriminado e desproporcional, este ataque pode constituir um crime de guerra”, disse, acrescentando que os foguetes do Hamas foram indiscriminados. A chancelaria de Israel afirmou que o país não cooperará com a investigação, que considera a comissão uma tentativa de encobrir os crimes cometidos pelo Hamas.