O Escritório de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) informou nesta quarta-feira, 9 de março, que foram confirmadas 1.424 vítimas civis desde que o conflito na Ucrânia começou há duas semanas – 516 mortos e 908 feridos. A organização disse acreditar, porém, que os números reais sejam “consideravelmente mais altos”.
O número de vítimas civis relatado na véspera foi de 1.335 – sendo 474 mortos e 861 feridos – desde que a invasão russa começou em 24 de fevereiro. A maioria das baixas civis foi causada por armas explosivas, incluindo bombardeios e ataques aéreos e de mísseis, informou a organização.
Os números atualizados de vítimas das cidades de Volnovakha, Mariupol e Izium ainda estavam sendo corroborados em meio a alegações de centenas de vítimas civis, acrescentou. A Rússia nega ter civis como alvo nos ataques à Ucrânia. Um ataque russo danificou gravemente um hospital infantil e maternidade na cidade portuária sitiada de Mariupol.
O presidente do país, Volodymyr Zelensky, escreveu no Twitter que havia “pessoas, crianças sob os destroços” do hospital e chamou o ataque de “atrocidade”. As autoridades disseram que estão tentando estabelecer quantas pessoas foram mortas ou feridas. O conselho da cidade de Mariupol informou, em perfil na rede social, que o dano foi “colossal”.
Enquanto isso, civis que tentavam escapar do subúrbio de Irpin, em Kiev, foram forçados a atravessar pranchas de madeira escorregadias de uma ponte improvisada, porque os ucranianos explodiram o vão de concreto para Kiev dias atrás para retardar o avanço russo. O governo da Rússia diz ter visto progresso nas negociações, duas semanas depois do início da invasão ao país.
A Rússia anunciou novo cessar-fogo na Ucrânia para permitir que civis fujam de cidades sitiadas, após dias de promessas fracassadas que deixaram centenas de milhares de pessoas retidas sem acesso a remédios ou água potável. O anúncio de “silêncio” de quarta-feira foi semelhante ao de terça-feira (8) que prometia passagem segura das cidades de Kiev, Kharkiv, Chernihiv, Sumy e Mariupol. Até agora, apenas um corredor foi aberto, saindo de Sumy, nessa terça-feira.
A Ucrânia disse que também concordou em interromper o fogo entre as nove e as 21 horas (quatro e 16 horas em Brasília) para deixar os civis escaparem das cidades sitiadas por meio de seis corredores. Em declaração divulgada pela TV, a vice-primeira-ministra Iryna Vereshchuk pediu a Moscou que respeite o cessar-fogo local.
Em meio a negociações intermediadas pelos governos de Belarus e da Turquia, os chanceleres Sergei Lavrov e Dmytro Kuleba devem se reunir nesta quinta-feira (10) em território turco para discutir novos passos para o fim do confronto, depois de o presidente russo, Vladimir Putin, ter mencionado na segunda-feira (7) a neutralidade da Ucrânia frente à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e o reconhecimento de províncias pró-Rússia como condições para um acordo.
Na terça-feira (8), Volodmir Zelensky deu indícios de que aceitaria negociar essas questões. Também afirmou estar preparado para fazer concessões em prol de terminar a guerra com a Rússia, em entrevista ao jornal alemão Bild. Ele havia sido questionado se pode reconhecer a região de Donbass como independente e a Crimeia parte da Rússia, duas das exigências do presidente russo, Vladimir Putin, para remover as tropas do território ucraniano.
“Concessões podem ser feitas, mas não devem ser a traição do meu país”, diz.
As conversas ocorrem em meio ao aumento de volume de sanções contra Moscou. Anteontem, os Estados Unidos anunciaram o boicote à compra do petróleo russo. A União Europeia cogita restringir a importação de gás do país. Na semana passada, os aliados ocidentais congelaram os ativos do BC russo em moeda forte, precipitando uma grave crise na economia russa.
A usina nuclear ucraniana de Chernobyl foi desconectada da rede elétrica do país pelas forças russas, disse a operadora estatal Ukrenergo nesta quarta-feira. A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) não vê impacto crítico na segurança. Um alerta de ataque aéreo foi declarado na manhã desta quarta-feira na capital da Ucrânia, Kiev, e em seus arredores.
O chefe da administração regional, Oleksiy Kuleba, pediu que toda a população fosse “imediatamente para os abrigos antiaéreos”, em publicação no Telegram. Quase duas semanas após a invasão, as tropas russas avançaram profundamente ao longo da costa da Ucrânia.
A cidade de Mariupol, que fica no mar de Azov, está cercada por soldados russos há dias e uma crise humanitária acontece no município de 430 mil habitantes. O Instituto para o Estudo da Guerra, centro de reflexão com sede em Washington, concluiu que a Rússia está resolvendo problemas logísticos e pode atacar Kiev nas próximas 24 a 96 horas.