A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou estado de emergência global em razão da disseminação do coronavírus (2019-nCoV). A entidade fez o anúncio à imprensa em sua sede, em Genebra, na Suíça, nesta quinta-feira, 30 de janeiro, após uma reunião com especialistas. A Comissão Nacional de Saúde da China informou que o número de casos no país subiu para 9.692 e o total de mortes aumentou para 213. Na atualização anterior, haviam 8.149 casos confirmados e 171 óbitos no país asiático.
Em comunicado, o órgão afirmou ainda que há 15.238 casos suspeitos na China e que 171 pessoas já foram curadas. O documento informa, também, que há doze confirmações em Hong Kong, sete em Macau e nove em Taiwan. As autoridades sanitárias italianas confirmaram dois casos de pacientes com o coronavírus. São dois turistas chineses que chegaram ao país há poucos dias. Já são 20 países com 100 casos registrados. Além da própria China, estão com infectados Estados Unidos, Canadá, Austrália, Camboja, França, Alemanha, Japão, Malásia, Nepal, Sri Lanka, Cingapura, Tailândia, Coreia do Sul, Emirados Árabes, Vietnã, Finlândia, Índia, Filipinas e Itália.
De acordo com a OMS, os casos abrangem pessoas que viajaram para Wuhan, foco do surto, ou que tiveram contato com pessoas com histórico de passagem pela cidade. Os representantes da entidade, contudo, negaram que o anúncio signifique uma manifestação de desconfiança com a China. “A China está tendo um novo patamar para este surto. Meu respeito e agradecimento para os profissionais de saúde que, no meio do Festival de Primavera, estão trabalhando por 24 horas, durante sete dias por semana, para salvar vidas e colocar o surto em controle”, afirmou o diretor da organização, Tedros Adhanom.
Autoridades de saúde do Estado de Illinois, nos Estados Unidos, confirmaram um caso de transmissão em solo americano, o primeiro do tipo no país. O paciente contraiu a doença após a mulher dele ter viajado a Wuhan, na China, epicentro do surto da doença. A OMS afirmou que não há necessidade de medidas para evitar viagens ou comércio internacional com a China. Além disso, apresentou um conjunto de recomendações, como apoio a países com sistemas de saúde mais precários, combate a rumores e desinformação, desenvolvimento de recursos para identificar, isolar e cuidar dos casos, além do compartilhamento de dados e conhecimento sobre o vírus.
“Países devem trabalhar juntos no espírito de solidariedade e cooperação. Estamos nessa juntos e só podemos parar juntos. Este é o tempo de fatos, não medo, para ciência, não rumores, para solidariedade, não estigma”, destacou Adhanom. Os coronavírus são conhecidos desde meados dos anos 1960 e já estiveram associados a outros episódios de alerta internacional nos últimos anos.
Em 2002, uma variante gerou um surto de síndrome respiratória aguda grave (Sars) que também teve início na China e atingiu mais de oito mil pessoas. Em 2012, um novo coronavírus causou uma síndrome respiratória no Oriente Médio que foi chamada de Mers. A atual transmissão foi identificada em 7 de janeiro. O escritório da OMS na China buscava respostas para casos de uma pneumonia de etiologia até então desconhecida que afetava moradores na cidade de Wuhan.
No dia 11 de janeiro foi apontado um mercado de frutos do mar como o local de origem da transmissão. O espaço foi fechado pelo governo chinês. Uma emergência de saúde pública de interesse internacional (PHEIC, na sigla em inglês) é uma declaração formal da OMS de “um evento extraordinário que pode constituir um risco de saúde pública a outros países por meio da disseminação, e que requer uma resposta internacional coordenada”.
De acordo com o diretor-geral da OMS, o coronavírus (2019-nCoV) atende aos critérios da declaração de emergência. Essa é a sexta vez em que o recurso é usado. A declaração de emergência havia sido emitida no surto de síndrome respiratória aguda grave (Sars), em 2002/2003; na pandemia de 2009 de H1N1 (também chamada de febre suína); na declaração de emergência de poliomielite, em 2014; na epidemia de ebola na África Ocidental, também em 2014; no surto de microcefalia em decorrência vírus Zika, cujo principal foco de infestação foi o Brasil, em 2015/2016, e na epidemia de ebola em Kivu, no Congo, em 2019.
Para acompanhar o avanço do coronavírus, o Palácio do Planalto informou que será recriado o Grupo Executivo Interministerial de Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional e Internacional (GEI-ESPII). O colegiado terá competência para “articulação de ação governamental e de assessoria”, informou o Planalto em nota. A recriação do grupo foi publicada em edição extra do Diário Oficial da União (DOU).