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Omissão e hipocrisia!

O presente artigo não pretende esgotar a reflexão sobre a omissão compreendida como parente da hipocrisia, já que nos porões de minha consciência amadurece um pequeno livrinho sobre o candente tema. Mas há frequente coceira em meus dedos, pedindo-me digitar pelo menos algumas linhas, que possam provocar nossa relação humana diante desse mau hábito!

A omissão, embora declarada “pecado” na fórmula penitencial que tanto pronunciamos em nossas celebrações católicas – “confesso a Deus… que pequei por pensamentos, palavras, atos e omissões…” – parece não ser muito conside­rada em nossas relações, a começar da própria família. Desde a educação familiar, sabemos de mães que omitem erros cometidos pelos filhos, aos maridos, para evitar agressões, transtornos e tantos outros tipos de confusão.

As pessoas se omitem com muita facilidade, quando conclamadas a tomar decisões, comprometerem-se com situações que ameacem seu prestígio ou cargos que se lhes foram confiados. “Não sei de nada… Não vi nada… Não ouvi e tais coisas não me dizem respeito…” são desculpas da maioria de agrupamento de pessoas, quando responsáveis pelas mais variadas instituições de nossa sociedade, especialmente de nossos governantes!

As omissões são frequentes na esfera social, política e também eclesial. Enquanto determinadas pessoas nos con­vém, somos coniventes até mesmo com atitudes nem sempre recomendadas ou “politicamente incorretas”. A partir do momento em que não preenchem mais nossos caprichos, princípios lícitos ou não; quando perguntam o desnecessário ou se tornam inconvenientes, nossa tendência é imediata­mente a omissão, chegando a excluir tais indivíduos de nossa relação. Não poucas vezes por pura inveja!

Inquieta-se minha consciência quando me dou conta de ser omisso, uma vez que toda criatura humana é chamada a ser comprometida com valores que a configuram com seu Criador: a Verdade, a Justiça, a Liberdade e o Amor. Ouve-se muito que “há coisas que não se diz, nem se escreve e muito menos se discute…”. Assim instaura-se o que gosto de chamar de “paz de cemitério”!

Porém como ser profeta, missionário, discípulo de Jesus Cristo numa sociedade onde a omissão se revela parente da hipocrisia? João Batista perdeu a cabeça porque não foi omisso. Jesus Cristo derramou o sangue na cruz porque não foi omisso. Talvez Públios Lentulus, que descreve o Jesus Histórico, nos ajude a sermos mais autênticos do que hipó­critas. Descreve Jesus em algumas atitudes: “Até nos rigores é afável e benévolo”… “Diz-se ainda que ele nunca desgostou ninguém, antes se esforça para fazer toda gente venturosa!”.

Se a omissão não for superada em nossas relações, conti­nuaremos vestindo a sobreveste da hipocrisia, varrendo sujei­ras para debaixo de tapetes até não aguentarmos mais o mau cheiro de nossas mentiras, que tentamos servir como “verda­des” abomináveis, que nos conduzem sobre areias movediças, aumentando o número de nossas vítimas. E como então viver dignamente, se continuarmos mergulhados na lama de nossas mentiras, mesmo as institucionais?

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