A polonesa Olga Tokarczuk, de 57 anos, é a ganhadora do Prêmio Nobel de Literatura 2018 e o austríaco Peter Handke, de 76, é o vencedor da premiação em 2019. O anúncio foi feito pela Academia Sueca nesta quinta-feira, 10 de outubro, depois desta viver um grande escândalo de assédio sexual e de vazamento de informações, iniciado em 2017, que a fez suspender a premiação no ano passado.
Olga Tokarczuk nasceu em 1962, estreou na literatura em 1993 e ganhou Booker International em 2018 com “Flight”. Dela, o leitor brasileiro encontra “Os Vagantes”, publicado em 2014 pela Tinta Negra. De Peter Handke, a Perspectiva publicou, em 2015, a antologia “Peter Handke: Peças Faladas”, com quatro textos de meados dos anos 1960 (“Predição”, “Insulto ao Público”, “Autoacusação” e “Gritos de Socorro”).
A Academia Sueca destacou que Olga foi escolhida por “imaginação narrativa que, com paixão enciclopédica, representa o cruzamento de fronteiras como uma forma de vida”. Já Handke, “por um trabalho influente que, com engenhosidade linguística, explorou a periferia e a especificidade da experiência humana”.
Desde que foi criado, em 1901, o Prêmio Nobel de Literatura já foi concedido 110 vezes e premiou 114 pessoas (em 1904, 1917, 1966 e 1974 ele foi dividido entre dois premiados). Dos 114 premiados, apenas 14 são mulheres. A média de idade dos vencedores é 65 anos – Rudyard Kipling foi o mais jovem, com 41, e Doris Lessing a mais velha, com 88.
Crise em 2018
Em novembro de 2017, 18 mulheres acusaram uma conhecida personalidade da cultura francesa, com quem a prestigiada instituição tinha vínculos estreitos, de violência e/ou assédio sexual. O episódio envolvia o dramaturgo Jean-Claude Arnault, uma grande figura cultural na Suécia e marido da poeta Katarina Frostenson, membro da Academia.
A Academia cortou relações com Arnault e determinou uma auditoria sobre suas relações com a instituição, mas desacordos internos nas medidas a tomar geraram confusão. Diante das circunstâncias, sete membros da Academia – de um total de 18 – renunciaram, incluindo a secretária permanente, Sara Danius. Eles eram designados de forma vitalícia e não tinham “autorização” para renunciar, mas poderiam optar por não participar das reuniões e decisões.
O relatório da auditoria descartou que Arnault tenha influenciado em decisões sobre prêmios e confirmou que a confidencialidade sobre o ganhador do Nobel foi violada em várias ocasiões. O escândalo provocou especulações nos meios de comunicação sobre o destino do prêmio literário, que foi entregue em 2017 ao autor britânico-japonês Kazuo Ishiguro, e no ano anterior ao cantor e compositor americano Bob Dylan.
O rei da Suécia, Carlos XVI Gustavo, que é o principal responsável pela Academia fundada em 1786, concordou em modificar os estatutos para permitir que os membros renunciem e sejam substituídos, garantindo assim a sobrevivência da instituição. Em maio, a edição 2018 do Prêmio Nobel de Literatura foi adiada para 2019.
Um novo capítulo da novela do Nobel foi acrescentado à história no dia 1º de outubro de 2018. Aos 72 anos, Jean-Claude Arnault foi condenado a dois anos de prisão por estuprar duas vezes, em outubro e dezembro de 2011, uma jovem em um apartamento em Estocolmo. Em janeiro de 2019, Katarina Frostenson deixou a Academia Sueca. A investigação sobre se ela vazou informações não foi levada adiante, e em comum acordo com a instituição ela formalizou sua saída.