Rui Flávio Chúfalo Guião *
[email protected]
Caminho com passos lentos pela esplanada deserta. Meus olhos se levantam para apreciar a fachada majestosa do teatro, suas colunas, suas guirlandas, sua sacada, de onde emanam os sons de seus concertos. Lembro das dificuldades de sua construção, no meio da grande crise de 1929, que não desanimou os empresários que o conceberam. Seus alicerces foram lançados quanto Ribeirão era a capital mundial do café. Depois da revolução de 30 e do crash de Nova York, uma cidade em busca de seu rumo.
Muitos perderam a fé em seu progresso, mas os mais fortes resistiram: o Quarteirão Paulista, cujo nome lembra a empresa cervejeira que o ergueu, o Edifício Diederichsen, o primeiro da cidade, o monumento ao soldado constitucionalista…
Ah! O monumento: símbolo da adesão dos jovens ribeirãopretanos à guerra paulista de 1932, quando famílias se angustiaram com seus filhos lutando nas margens do Rio Pardo, mas os apoiando, pois a causa era justa.
Muitos voltaram, alguns poucos ficaram no campo de batalha. Em honra dos que lutaram e em memória dos que partiram, ergueu-se o monumento, o mais bonito e expressivo de Ribeirão.
A modernização da Biblioteca Sinhá Junqueira chama minha atenção. No velho casarão dos Junqueiras, obra de Ramos de Azevedo, mais de uma geração de senhores da terra tomaram decisões, viveram amores, conflitos, realizações. Lembro-me de um dia, quando na casa ainda morava, D. Sinhá acolheu imagem trazida de Fátima, em procissão seguida por muitos. A velha senhora, cabelos brancos, passos indecisos, aproxima-se do andor e lança seus braços na santa e passa as mãos nos olhos, pedindo que eles funcionem por mais tempo, num ato de fé e esperança. Esperança que a biblioteca representa, como depositária de livros, de futuro tão incerto pelas inovações online.
O quase centenário relógio, doação da Associação Comercial para a reurbanização da Praça XV, com seu estilo anos 1930, há muito é testemunha dos que ali passam todos os dias, em busca de acesso ao trabalho, momento de lazer, procura de empregos.
Fecho os olhos e relembro os desfiles que ocorreram na esplanada. Deles participei estudante, várias vezes no batalhão dos ciclistas. Com alvaiade, pintávamos de branco as laterais dos pneus. Decorávamos os raios das rodas com fitas verdes e amarelas, intercaladas e desfilávamos garbosos, senhores de que, naquele momento representávamos a escola, nas comemorações do Sete de Setembro.
As velhas árvores que sobreviveram guardam majestosas formas. Nelas, pássaros fazem seus ninhos, cantam suas canções, enfeitam a praça. Foram testemunhas do desenvolvimento da cidade e se refrescam com o borrifar da fonte restaurada, que dá esplendor e nobreza à velha praça.
Ribeirão onde nasci, estudei, cresci, é sempre bom visitar seu centro, caminhar por suas ruas, vivenciar a mágica Única, beber o famoso chope do Pinguim, embora este centro esteja necessitando de maiores cuidados para combater a sua decadência.
Louvo a ti, minha cidade, neste seu jovem aniversário de 167 anos ! Cidade que conquista os que tiveram o privilégio de nela nascer e os que a escolheram para nela morar. Cidade aberta a todos, sem distinção ou preconceito, abençoada pela sua terra roxa – razão de sua riqueza -, pelo sol sempre presente, pela água de seu aquífero, por suas escolas, por suas universidades,por seus serviços médicos e hospitais, por suas startups, por seu comércio, sua indústria e, sobretudo, por seu povo valoroso.
Parabéns, Ribeirão Preto.
* Advogado, empresário, presidente do Conselho da Santa Emília Automóveis e secretário-geral da Academia Ribeirãopretana de Letras
Ode a Ribeirão Preto, no seu aniversário
