De acordo com estudo da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados Estatísticos (Seade), os efeitos negativos da pandemia de covid-19 sobre a atividade econômica influenciam diretamente o mercado de trabalho, afetando de forma desigual os grupos populacionais, notadamente a população negra no Estado de São Paulo.
No segundo trimestre, momento de maior força da pandemia de covid-19 no Estado, a retração do nível ocupacional foi intensa, sendo novamente maior para negros (-15,9%, ou -1,4 milhão de ocupados) do que para não negros (-7,1%, ou -949 mil ocupados).
Em relação ao quarto trimestre de 2019, estima-se que os contingentes no segundo trimestre de 2020, período em que se observa o declínio no número de ocupados, tenham diminuído em 1,7 milhão (18,2%) de ocupados negros e 1,2 milhão (8,8%) de não negros no mercado de trabalho paulista.
O comportamento do nível de ocupação por raça/cor e sexo mostra que, no segundo semestre de 2020, homens e mulheres negros foram os mais afetados, em termos relativos e absolutos. Entre os ocupados, houve redução de 762 mil homens negros (-15,4%) e de 646 mil mulheres negras (-16,6%).
Já os homens e mulheres não negras tiveram reduções menores: respectivamente, -6,3% (ou -453 mil) e -8,0% (ou -496 mil). Entre o primeiro e o segundo trimestres de 2020, os negros que contribuíam à previdência (os formais) tiveram redução de 12,4% e os que não contribuíam (os informais), de 23,5%, bem superiores às verificadas entre os não negros: 5,7% e 11,2%, respectivamente.
A taxa de desocupação, que apresentava uma trajetória de suave declínio durante 2019, registrou forte crescimento entre o primeiro e segundo trimestres de 2020, em especial entre os negros, cuja taxa passou de 14,3% para 17,1%, enquanto a dos não negros ampliou-se de 10,8% para 11,3%.
Para os negros, a taxa de subutilização da força de trabalho (desocupados mais ocupados com jornada menor mais pessoas que não procuraram trabalho mas precisam trabalhar e estão disponíveis para começar imediatamente) aumentou de 23,1% para 29,9%, entre o primeiro e segundo trimestres de 2020, um aumento maior do que a dos não negros, que passou de 18,3% para 22,6%.
Essa taxa para as mulheres negras alcançou 36,0%, o maior aumento nesse período. O segundo trimestre de 2020 foi marcado pela redução do rendimento médio efetivamente recebido pelos ocupados, sendo que a retração foi semelhante para negros (-15,0%) e não negros (-15,4%). O valor médio recebido pelos negros (R$ 1.921) manteve expressiva diferença (55%) quando comparado àquele recebido pelos não negros (R$ 3.468).