O Departamento de Água e Esgotos de Ribeirão Preto (Daerp) divulgou, na tarde de terça-feira, 26 de outubro, em sua página no Facebook, um comunicado para informar sobre uma obra na Zona Norte da cidade que pode afetar o abastecimento em dez dos 207 bairros ribeirão-pretanos.
Segundo o aviso, a paralisação no poço do Jardim Independência terá início nesta quinta-feira (28) e deve durar 30 dias, período previsto para a execução da obra de recuperação do equipamento. O Daerp diz que a reforma tem o objetivo de melhorar o serviço de abastecimento de água na região.
Entre os dez bairros que podem ter o abastecimento de água comprometido estão o próprio Jardim Independência e o Campos Elíseos, um dos mais populosos da cidade e importante centro comercial. A lista traz ainda Vila Mariana, Vila Morandini, Parque Industrial Tanquinho, Vila Elisa, Vila Tamandaré, Jardim Jóquei Clube, Jardim Aeroporto e Jardim Porto Seguro.
Segundo o Daerp, os moradores que ficarem sem água podem pedir caminhões-pipa pelo telefone 0800-1150115. Ainda de acordo com a autarquia, a população desses bairros deve evitar o desperdício e usar a água armazenada nas caixas para consumo pessoal.
Novo manancial
A prefeitura de Ribeirão Preto, por meio do Daerp, poderá financiar R$ 2,9 milhões em recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para elaborar projeto básico e estudos ambientais para aproveitamento da água do Rio Pardo no abastecimento público da cidade.
O valor total previsto para a elaboração de estudos e do projeto é de R$ 3.118.368,93, dos quais R$ 2.962.450,48 serão financiados pelo Ministério do Desenvolvimento Regional e os R$ 155.918,45 restantes serão contrapartida do Daerp.
O Daerp pretende usar o rio como novo manancial. O projeto deve apontar alternativas para o aumento da oferta e o equilíbrio entre a captação subterrânea no Aquífero Guarani e a captação superficial no Pardo, potencializando o uso racional dos recursos naturais disponíveis e permitindo a ampliação da produção de água tratada no município.
A expectativa é que 209 mil famílias da região sejam beneficiadas com as obras posteriores à realização dos estudos. Deverão ser projetados os reservatórios, as adutoras e estações elevatórias de água tratada que interligarão o sistema de captação superficial ao sistema de distribuição existente, de modo que a água captada superficialmente também seja distribuída para todas as regiões da cidade.
Atualmente, o abastecimento de água em Ribeirão Preto é totalmente feito a partir do Aquífero Guarani, mas estudos geológicos apontam queda nos níveis do manancial, o que acende um alerta quanto à preservação da fonte e necessidade de busca de novas alternativas de captação de água.
A atual concepção da operação do abastecimento de água de Ribeirão Preto já está sendo revista e reestruturada pelo Daerp, através de um programa amplo de gestão, controle e redução de perdas. Com os investimentos feitos até o momento, o desperdício no sistema de abastecimento foi reduzido em 25,3%, passando de 61,48%, em 2016, para 49,06% em 2020.
O programa pretende reduzir ainda mais essas perdas e recuperar um volume aproximado de um metro cúbico por segundo (m³/s), a fim de garantir o abastecimento da cidade no médio prazo e diminuir a pressão sobre o Aquífero Guarani. O reservatório subterrâneo de água tem cerca de 1,2 milhão de quilômetros quadrados de extensão e se estende por oito estados do Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai.
Em Ribeirão Preto, cidade que mais usa o manancial – todo o abastecimento da população de 720.116 habitantes é feito via poços artesianos –, o nível do aquífero caiu 120 metros em 71 anos, segundo estudos feitos pelo geólogo Júlio Perroni, da Universidade de São Paulo. A mesma pesquisa concluiu que atualmente a queda chega a dois metros a cada ano, o dobro do registrado em 2012.
Segundo o pesquisador, os resultados colocam o aquífero entre aqueles não considerados renováveis. “O consenso mundial para você considerar o aquífero como renovável é quando o tempo de renovação da água é inferior a 500 anos. Em Ribeirão Preto, o período estimado de seis mil anos coloca o Aquífero Guarani na categoria de não renovável”, diz.
Em 2013, no segundo mandato de Dárcy Vera, por meio de um anteprojeto elaborado pela prefeitura, o Departamento de Água e Esgotos de Ribeirão chegou a cogitar a captação de água do Rio Pardo a partir de 2015. O custo total da obra estava orçado em R$ 630 milhões, depois caiu para R$ 530 milhões.
O Daerp é especializado em saneamento básico e conta com controle financeiro próprio. Administra cerca de 209 mil ligações de água e tem uma previsão de receita para este ano de R$ 332 milhões. Opera 120 poços que abastecem a cidade.
São cerca de 770 funcionários e uma folha de pagamento mensal em torno de R$ 3,9 milhões. No ano passado, segundo dados do site da autarquia, arrecadou R$ 281 milhões contra uma previsão de receita de R$ 328 milhões. A inadimplência atual do Daerp é de aproximadamente 25%.