No artigo de Jessé de Souza, de que falamos no último sábado, ele aponta as razões que podem explicar os motivos de boa parte dos pobres ter votado em Bolsonaro e continuar apoiando a sua agenda conservadora. Para quem Bolsonaro fala quando diz suas maluquices e suas agressões grosseiras? “Ele fala, antes de tudo, para a baixa classe média iletrada dos setores mais conservadores do público evangélico”, afirma o articulista. Este público que ganha entre dois e cinco salários mínimos é um pobre remediado que odeia o mais pobre e idealiza o rico.
O anticomunismo anacrônico deste público tem o efeito de tornarem irmãos este pobre remediado com o rico, já que é uma oportunidade de se solidarizar com este e não com seu vizinho mais pobre com quem não quer ter nada em comum. Isso o faz pensar que ele, o pobre remediado, de certa forma, também é rico – ou em vias de ser –, já que se posiciona como ele.
O anti-intelectualismo também está na cabeça deste público. É o que podemos perceber quando Bolsonaro ataca, por exemplo, as universidades e o conhecimento. A relação desta baixa classe média com o conhecimento é ambivalente: ela inveja e odeia, ao mesmo tempo, o conhecimento que não possui. Daí o ódio aos intelectuais, à universidade (esta então, nem se fala…), à sociologia ou à filosofia.
Odeia até os professores dos seus próprios filhos por causa de pretensas “mamadeiras de piroca” levadas para a sala de aula, como faz crer a vereadora de Ribeirão. Este é o público verdadeiramente cativo de Bolsonaro. Obviamente esta classe é indefesa contra a mentira da elite e de sua imprensa. Ela é vítima tanto do ódio de classe contra ela própria, que cria uma raiva que não se compreende de onde vem, e da manipulação de seu medo de se proletarizar.
E continua Jessé de Souza: “Sérgio Moro foi uma ponte para cima com a classe média tradicional que também odeia os pobres, inveja os ricos e se imagina moralmente perfeita porque se escandaliza com a corrupção seletiva dos tolos. Mas, apesar de conservadora, ela não se identifica com a moralidade rígida nos costumes dos bolsonaristas de raiz”. Já Paulo Guedes é o lacaio dos ricos que fica com o quinhão destinado a todos aqueles que buscam aumentar a riqueza dos já poderosos.
Bolsonaro mostra até agora que a convivência desses aliados de ocasião é difícil. A elite não quer o barulho e a baixaria de Bolsonaro e sua claque, que só prejudicam os negócios. Também a classe média tradicional se envergonha crescentemente do “capitão pateta”. Mas sem barulho nem baixaria, Bolsonaro não existe. Bolsonaro “é” a própria baixaria, para Jessé de Souza. Concordo totalmente.
Já estão fritando Sérgio Moro já que o Estado policial que ele deseja para o controle seletivo dos pobres e da política, em favor dos interesses corporativos do aparelho jurídico-policial do Estado, não interessa de verdade à elite. Sem a mídia a blindá-lo, Moro é um fantoche em busca de uma voz. Bolsonaro foi útil para vencer o PT, mas é tão grotesco e primitivo que governar com ele é literalmente impossível. Sua idiotice e a da sua claque no governo é literal no sentido da patologia que o termo define, como afirma Jessé de Souza.
Vivem em meio ao anti-intelectualismo militante, o qual não envolve apenas uma percepção distorcida do mundo. O idiota é também levado a agir segundo pulsões e afetos que não respeitam o controle da realidade externa. Um idiota de verdade no comando da nação é um preço muito alto até para uma elite e uma classe média sem compromisso com a população nem com a sociedade como um todo. Esse é o dilema do idiota Jair no poder.