Tribuna Ribeirão
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O vira-lata e os pitbulls 

Luiz Paulo Tupynambá * 
blog: www.tupyweb.com 
 
Não sou especialista em transtornos mentais, mas penso que a maioria da extrema-direita brasileira sofre em grau intenso de TAG ou Transtorno de Ansiedade Generalizada, agravada com umas pitadas de TOC, conhecido como Transtorno Obsessivo Compulsivo. A TAG se manifesta como uma preocupação intensa e persistente sobre situações normais e cotidianas. Quem tem este tipo de transtorno pode se preocupar incontrolavelmente com algo, várias vezes ao dia, mesmo que não haja motivo real para isso. Veja o que acontece quando se trata ou se fala do Supremo Tribunal Federal. Quando o nome do Ministro Alexandre de Moraes é citado, bocas espumam, unhas arranham e grosserias são latidas a boca cheia nos corredores pelos pit bulls de terno e gravata das casas legislativas. Esta semana que se finda foi tomada por uma cacofonia escabrosa de acusações, ataques pessoais contra o STF e ao Ministro Moraes. E louvores indevidos foram prestados, por parte desses parlamentares, a uma indecente ingerência estrangeira em assuntos brasileiros. Menos mal que o Deputado Chiquinho Brazão teve sua prisão mantida pela Casa, em votação apertada. 
 
Para coroar o festival de más ações da extrema-direita, resolveu-se, sob a batuta do presidente Arthur Lira, refazer de cabo a rabo o Projeto de Lei n° 2630, de 2020, conhecido como Projeto de Lei das Fake News, que já fora remendado e aprovado no Senado Federal, mas que está com a tramitação parada na Câmara dos Deputados desde 3 de julho de 2020. Agora, depois da repercussão das asneiras proferidas por Elon Musk sobre liberdade de expressão, resolveu-se criar um grupo de estudos na Câmara para redesenhar o projeto, sob a luz dos avanços da Inteligência Artificial Generativa. Desde 2020, muita coisa nova foi criada para ser usada na geração de imagens, áudios e vídeos. Mas, enquanto o mundo girava, os nobres representantes legislativos estavam preocupados com a eleição de 2022, ou em pegar uma carona no golpe que o pífio queria dar e, como sempre, tentar arrebentar com o STF, com acusações e proposições de leis inconstitucionais. Nesse meio tempo, União Europeia, Reino Unido e outras democracias criaram e aprovaram leis específicas para regular a atuação das big-techs em seus territórios, limitando o uso político das mídias sociais e protegendo o direito autoral de produtores de conteúdo intelectual. 
 
Fica aqui a sugestão aos nossos congressistas: leiam, mesmo que rapidamente, essas legislações. Recomendo, em especial, a legislação europeia que tem um capítulo dedicado totalmente à liberdade de imprensa. Sei que é ano eleitoral, que os senhores e senhoras congressistas têm que dar assistência a seus aliados regionais. Mas peçam para um assessor, e tem muitos à disposição, baixar as leis pelo Google. Se estiverem naquela língua dificílima que é o inglês, peça que o iluminado Google traduza para você. Basta clicar com o lado direito do mouse e escolher “Traduzir para o português”. Fica tranquilo que não paga nada por isso. 
 
Musk 
 
O papelão da extrema-direita ao aprovar uma moção de apoio e aplausos para o senhor Elon Musk, na Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado, depois de seu ataque verbal contra o STF, foi a mais abjeta “baixada de cabeça e rabo” que a nossa famosa síndrome de vira-lata produziu nos últimos anos. Elogiar oficialmente um sujeito que nunca gastou um real aqui e que sai por aí alardeando que o nosso STF é uma instituição ditatorial e que mantém Lula no cabresto, deveria ser alvo de execração pública de todo brasileiro com vergonha na cara. Ter muito dinheiro não justifica que homens que se dizem “patriotas” tenham a cara-de-pau de concordar com afirmações falsas, de uma pessoa que diz não respeitar qualquer decisão da Justiça brasileira que não a agrade. 
 
Logo se viu que tudo não passa de mais um embuste armado pelo mesmo cidadão que, por azar ou malefício do destino, ocupou o cargo de presidente do Brasil até 2022. Membros ativos da “Internacional da extrema-direita”, a família do ex-presidente e seus aliados armaram essa “trampa” (não é trocadilho com a palavra Trump, mas poderia ser), para continuar o trabalho de solapar a nossa democracia. É muito triste ver tantos brasileiros caindo nessa conversa. O Brasil é bem maior do que qualquer coisa que Elon Musk sequer cogite em ter na vida. O povo brasileiro não coaduna com a ditadura, não confraterniza com a mentira e a maledicência. Tenho fé que isso tudo vai acabar logo. 
 
Só para não esquecer: esse tal Musk, amigo de Jair Bolsonaro, é amigo e sócio do príncipe assassino da Arábia Saudita (mandou matar, confessadamente, o jornalista Jamal Khashoggi), o mesmo que deu aquelas joias de presente para o ex-presidente e a esposa. Também é sócio de empresários chineses, os mesmos chineses que Bolsonaro chama de comunistas, mas que compram praticamente tudo o que o agro brasileiro produz. O interessante é que nem na Arábia Saudita, nem na China, tem liberdade de expressão como ele diz querer em todo o mundo. A tal plataforma X não entra na China nem que a vaca tussa em ritmo de bolero. Sugestão para a próxima tacada internacional do Musk: vai lá e fala mal da justiça chinesa. Ou melhor, chama o príncipe da Arábia Saudita de ditador sanguinário. Ou o senhor é tão covarde como os seus amigos da “Internacional da extrema-direita” já demonstraram ser? 
 
Semana que vem tem mais. 
 
* Jornalista e fotógrafo de rua  

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