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O valor econômico e social do Agro

Nas minhas andanças pelo mundo afora nos mais de 65 anos de carreira profissional, sempre observei que onde os investimentos do Agro chegam, todo o entorno se fortalece, indústrias se instalam, a região se desenvolve e a população evolui. E isso claro, faz com que os indicadores sociais tam­bém melhorem e em muitos casos surpreendam.

Essa constatação começou a ser mais fortemente verificada a partir da década de 70, com a criação do Proálcool e o fortaleci­mento da Embrapa, que modernizou o agronegócio. O Proálcool floresceu incialmente na região de Ribeirão Preto, que evoluiu por conta da agricultura, desde a época do café, passando pela cana e hoje com uma diversificação de culturas. O Agro trouxe a industrialização, as universidades, os serviços e a infraestrutura. Vi cidades que estavam desaparecendo no mapa ressurgirem à época. Ouso dizer que mais de 200 municípios Brasil afora tive­ram reflexos positivos com a expansão do Proálcool.

Essa era minha visão empírica, de observador, mas nunca consegui provar com uma metodologia adequada. Recentemen­te li uma matéria no Estadão com o título: Centro-Oeste ruma para ter a menor desigualdade do Brasil, no rastro do sucesso do agronegócio. Nem comecei a ler o texto e pensei: é a confirmação da minha observação, com base em dados. Bingo!

A reportagem abriu com uma informação importantíssima: desde que o IBGE começou a abrir os dados trimestrais de cresci­mento do PIB, em 1986, não houve um período sequer no qual o agronegócio não tenha crescido mais do que o resto da economia do País. E que nos estados da região centro-oeste, que respondem por mais da metade da produção agropecuária brasileira, esse crescimento começa a se refletir na queda da desigualdade social.

A reportagem também trouxe que, após ultrapassar o Sudeste no indicador de todas as rendas do trabalhador e manter a conquista nos últimos cinco anos, o Centro-Oeste pode liderar o índice no País. Levantamento da consultoria MB Associados, considerando as projeções para 2023 e 2024, aponta que o Mato Grosso deve crescer 782% desde 1986, por exemplo. Ou seja, ten­dência clara de descentralizar a produção de riqueza, fortemente concentrada até então somente no Sul e Sudeste.

Com bons índices sociais melhorando, a expectativa de vida, a saúde e a educação no Centro-Oeste têm se aproxima­do rapidamente da região Sul. O IDH (Índice de Desenvolvi­mento Humano) da região Sul e do Centro-Oeste é parecido e até o fim da década, o Centro-Oeste pode ultrapassar o Sul e se tornar o maior do País nesse quesito. Essa pujança também é comprovada pelo ranking das 10 cidades com maior PIB no Agro de acordo com o IBGE, oito estão na região centro­-oeste, sendo seis no Mato Grosso: Sorriso – R$ 11,4 bilhões; Campo Novo do Parecis – R$ 8,1 bilhões; Sapezal – R$ 8 bilhões; Nova Ubiratã – R$ 6,8 bilhões; Nova Mutum – R$ 6,3 bilhões e Diamantino (MT) – R$ 5,8 bilhões. As outras duas em Goiás: Rio Verde – R$ 7,9 bilhões e Jataí – R$ 6,2 bilhões.

Mesmo assim ainda existe um grande desafio: a falta de mão de obra, seja ela qualificada ou não. Claro que temos que nos preocupar com a tecnologia, as pesquisas e sua aplicação no campo. Afinal, foram elas as principais responsáveis por cres­cermos mais em produtividade do que em área plantada e che­garmos onde chegamos. Enquanto a produção brasileira obteve média de crescimento anual de 4,22% até a safra 2022/2023, a área utilizada para o plantio cresceu 1,6%, ao ano.

E a previsão é que continuemos a crescer, com sustenta­bilidade. Mas se não investirmos na formação de pessoas, vamos continuar a ter esse gargalo. Como dizia meu falecido pai, Maurílio Biagi, cujo nome eu carrego com muito orgulho e responsabilidade: “Eu acredito muito na capacidade dos homens. A tarefa mais importante de uma empresa é formar pessoas. O administrador que espera encontrar homens feitos, fracassará. Eles não existem”.

O outro gargalo do Agro é a comunicação: fazer quem não é da área, ou não conhece tanto aqui como no mundo, compreender sua real importância com dados, como os que acabamos de ler. Mas isso é assunto para outro artigo.

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