Rosemary Conceição dos Santos*
O que é a felicidade? Essa é a primeira pergunta com a qual Paul Dolan, professor da London School of Economics, a partir de sua perspectiva de economista trabalhando, interdisciplinarmente, com psicologia, filosofia e políticas públicas, inicia seu livro “Felicidade Construída: como encontrar prazer e propósito no seu dia a dia”. Sua definição? A de que felicidade são experiências de prazer e propósito ao longo do tempo. A novidade que ela congrega? A de felicidade ser algo mensurável, ou seja, possível de ser medida, característica, esta, segundo Dolan, “crucial, se quisermos avançar em relação a nossa compreensão da felicidade”. Habituados que estamos a computar nossa felicidade pelos momentos em que a experenciamos, ou seja, como está nossa vida de forma geral, esta nova definição nos coloca diante não da felicidade experenciada, mas, sim, da felicidade avaliada. Deixando, portanto, de focar o que “achamos que deveria nos fazer mais felizes” para focarmos, sim, “o que realmente nos faz felizes”.
Respostas a perguntas sobre satisfação com a vida (“De modo geral, até que ponto você está satisfeito com a sua vida?”) raramente levam em conta a satisfação geral com esta, construindo uma imagem similar a daquele indivíduo que “posou para a câmera de um jeito que não refletia seus sentimentos naquele momento”, com os resultados nos dizendo muito mais sobre o que surge em nossa cabeça quando respondemos a essas perguntas do que, realmente, sobre nossas experiências de felicidade no cotidiano. O que precisamos, segundo Dolan, é nos afastar “dos retratos instantâneos da satisfação geral com a vida e, em vez disso, dar mais atenção aos nossos sentimentos do dia a dia”. Ser mais rico, na reflexão do autor, pode fazer você “pensar” que é mais feliz, mas não faz você necessariamente “se sentir mais feliz”.
Defendendo a ideia de que “o que sentimos é determinado pelo que nos acontece, mas também pelo tipo de pessoa que somos”, Dolan concebe que, de modo geral, cada um de nós pode ser categorizado de acordo com a preponderância de diferentes tipos de sentimentos. “Quanto mais frequentes e intensos são nossos diversos sentimentos de prazer, mais felizes somos… Mas existem outros sentimentos importantes, além das categorias de prazer e dor?”. Ao que, imediatamente, responde afirmativamente, “ Sim, existe outra importante categoria, a dos sentimentos ‘de propósito’ (bons, não provocados) e ‘despropósito’ (ruins, que geram desconforto pela falta de sentido e pela inutilidade), palavras, estas, utilizadas como abreviações para uma gama de sentimentos positivos e negativos, tais como “realização”, “significado” e “compensação”, de um lado, e “tédio” e “inutilidade”, do outro. Para o autor, sermos felizes de verdade depende de sentirmos prazer e propósito.
Somos mais felizes quando nos sentimos melhor — e por mais tempo. Na verdade, segundo o autor, somos mais felizes, precisamente, quando nos sentimos melhor durante um tempo que parece maior. São nossas percepções de duração que governam as experiências que temos. Felicidade é algo que inclui boas lembranças de boas experiências.” Na prática, é difícil saber como decisões diferentes vão se desdobrar plenamente no tempo, mas isso não contraria o fato de que, a princípio, abordar a felicidade no âmbito de uma vida inteira é a análise correta. O quanto um conjunto de experiências lhe proporcionará mais (ou menos) prazer e propósito em comparação com outro depende, segundo o autor, do que você estaria sentindo no outro caso. Mais uma vez, é impossível pensar nos benefícios de todas as atividades passadas ou futuras. No entanto, por definição, “fazer uma coisa significa que você perde a felicidade de fazer outra coisa”.
Professora Universitária*