Tribuna Ribeirão
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O uso de máscara na pandemia foi prejudicial? 

José Moacir Marin *

A pandemia da COVID-19 foi um evento único e trágico na história da humanidade. Único porque nunca antes tantas informações foram disseminadas sobre uma doença — muitas delas apresentadas como verdades absolutas, mas que hoje se revelam meros palpites infelizes. Trágico porque algumas dessas “certezas” resultaram em consequências desastrosas.

Exemplo claro disso foi o uso obrigatório de máscaras, inclusive em crianças. Diversos estudos científicos já demonstraram que essa medida foi um erro monumental e desnecessário. O próprio Dr. Anthony Fauci admitiu perante um subcomitê do Congresso dos Estados Unidos que não há comprovação clara de que o uso de máscaras cirúrgicas reduza significativamente infecções respiratórias. Uma das pesquisas mais respeitadas sobre o tema, conduzida pela COCHRANE – organização internacional independente que se dedica à revisar e sintetizar evidências científicas sobre saúde – (Tom Jefferson et al., 30 de janeiro de 2023), já havia concluído que as máscaras são ineficazes no controle da disseminação de vírus respiratórios.

Mais recentemente, o impacto do uso de máscaras voltou a ser questionado em estudo conduzido por dois pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), Daniel V. Tausk e BenySpira, publicado na BMC Public Health (2025) 25:913. O estudo, intitulado “O uso de máscaras está correlacionado com um excesso de mortalidade? Averiguação em 24 países europeus”, trouxe conclusões preocupantes.

Os pesquisadores analisaram dados de 24 países europeus entre 2020 e 2021 e identificaram correlação significativa entre a obrigatoriedade do uso de máscaras, a mortalidade por COVID-19 e o excesso de mortes. A escolha de países europeus para a análise se baseou na confiabilidade das informações e no fato de que todos adotaram medidas semelhantes de obrigatoriedade ou recomendação do uso de máscaras na mesma época.

Os resultados são alarmantes: países que impuseram o uso obrigatório de máscaras na primavera de 2020, como Itália, Espanha e Portugal, registraram um índice de mortalidade 7,5 vezes maior do que nações como Dinamarca e Suécia, onde as máscaras foram apenas recomendadas e pouco utilizadas durante o mesmo período de dois anos.

Mas o que explicaria essa associação entre máscaras e excesso de mortes? Uma hipótese levantada pelos pesquisadores sugere que a máscara poderia favorecer a reinfecção do vírus, agravando o quadro clínico. No entanto, os próprios autores ressaltam que essa hipótese precisa de mais estudos aprofundados para ser confirmada.

O estudo dos erros cometidos durante a pandemia da COVID-19 ainda trará novas revelações no futuro. É fundamental que as lições aprendidas sirvam para evitar que equívocos semelhantes se repitam em crises sanitárias futuras.

* Professor aposentado de Genética e Biologia Molecular da USP/ Campus Ribeirão Preto. 

 

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