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O Uruguai e sua Literatura (15): Eduardo Galeano

Eduardo Hughes Galeano, escritor uruguaio, nasceu em 1940, em Montevidéu, ali também falecendo em 15 de abril de 2015, aos 75 anos. Em suas palavras, acerca de seu nascimento e experiência de vida angariada, disse o autor “Soy testemonio de que vivir vale la pena, que vivir está mucho más allá de las pequeñezas de la realidad política […]. Lo que puedes ganar o perder en tu vida, importa poco. Hay un otro mundo que te espera.” De que mundo fala o autor? Daquele que desfaz o limite entre o sujeito e o mundo: o mundo literatura. Autor de mais de 40 livros, traduzidos em diversos idiomas, Galeano construiu uma obra híbrida, unindo ficção, jornalismo, análise política e História. Obra, esta, que lhe angariou ser reconhecido como um dos principais expoentes do Antiamericanismo, posição hostil em relação à política, à cultura e à sociedade americana, e do Anticapitalismo, posição dos que, através de movimentos, ideologias, atitudes de oposição e correntes de pensamento no Século XX, promovem oposição ao capitalismo na América Latina.

De acordo com especialistas, “suas primeiras publicações foram caricaturas políticas em um semanário socialista uruguaio. Depois começou a escrever suas primeiras crônicas sobre temas muito diversos, desde exposições de pintura até greves sindicais. Durante esse período, com o vigor da juventude, o escritor viu na imprensa um mecanismo de combate à exploração do homem por seus pares. Em virtude dessa percepção, passou a conceber a palavra como um sinônimo de compromisso e de poder discursivo. É nesse momento que o autor uruguaio inicia seus estu­dos sobre a sociologia marxista e, mais tarde, sobre o existencialismo filosófico de Jean Paul Sartre.

Entendendo, numa visão marxista, que a compreensão do mundo revelava-se na capacidade de o escritor avaliá-lo e compreendê-lo, encontrando uma possibilidade de mudança para o mesmo, Galeano assim o expressa em seus textos publicados até 1984. Buscando expressar-se em linguagem acessível, como defendeu Sartre, acreditando que dessa maneira conseguiria chegar à maior parte da sociedade. Com isso, também segundo especialistas, o autor “imprime em seus textos maior carga ideológi­ca, distanciando-se da linguagem literária. Isto é, ao se inclinar à abordagem marxista, no que tange à criticidade sobre a consciência do trabalho, o modo particular de análise dos problemas sociais, a percepção fatalística do processo histórico e, principalmente, a teoria econômica – relação do valor de troca e do valor de uso, Galeano sobrepôs mais camadas de significação a sua linguagem, ao mesmo tempo em que aumentava o grau de sua lente de interpretação. Para tentar explicar como esse processo instaura uma relação de exploração, Galeano não vê outra maneira senão a linguagem objetiva do jornalismo”.

Nas palavras do autor, “Cuando era niño me gustavan los libros con figuri­tas, no me gustavan los libros sin dibujos, o sea, los libros de pura letra me parecían aburridísimos, pero cuando no hay imágenes me gustavan los espacios vacíos en blanco que son como los silencios, imprecindibles para que las palabras multiplicasen a sus sentidos.”. O que isso significa? Significa como se deu seu encontro com a literatura. Por sua vez, de acor­do com estudiosos de sua obra, “Quando rapaz, foram os bares de Montevidéu, nos quais se reuniam narradores orais, os responsáveis por trazer para sua vivência literária o estímulo à sua imaginação narrativa.”, o que pode ser ilustrado nas seguintes palavras do autor: “no sabia quien las contaba, el narrador era el café, pero las narraba de tal manera que hablaban de los truenos, de los cascos de los caballos, contando alguna batalla de la guierra gaúcha. En estos instan­tes, yo miraba el piso de madera y veía la senda de los cascos, porque el arte de narrar permite esas mágicas.”

De acordo com estudos sobre o autor, “Em sua travessia, as radionovelas brasileiras tiveram uma grande importância quanto ao modo de compreender a composição da narrativa. Galeano declara que sempre lhe agradara o gênero em virtude do drama e do detalhamento da vida cotidiana. A narrativa fora, para Galeano, além de um meio de fazer emergir vozes condenadas ao silêncio, uma forma de derrotar a morte, uma arte da res­surreição. Por essa razão, escrever cada livro se constituía em um processo gestacional”. O que fica comprovado nas seguintes palavras do mesmo: “pues yo contengo en mi la responsabilidad por muchas vidas, siento con los libros un proceso de embarazo, una vez que ya tuve libros que se demoraran años y aún, las versiones, tras versiones, hay seimpre algo para corregir. Éste es todo el proceso de gestación de la creatura. Despúes que el libro aparece ya es de los demás, ya no me pertenece a mi, se multiplica en otros y va ser otra voz que entra en otro cuerpo y que de hechos habla. Creo que quien lee de verdad es tan creador cuanto quien escribe, incorpora el libro, los lleva a dentro, los lleva puesto”.

Em suma, em estudos sobre o autor e sua obra, para Galeano “Levar o livro dentro de si é muito mais que ter consciência e responsabilidade social. É ter em cada história enunciada um compromisso com a vida humana que ali se faz presente, isto é, um cuidado com a humani­dade do ser. Galeano era consciente de que toda profissão carrega em si uma atribuição social.”.

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