Existe uma citação usada no universo político de que política é semelhante ao jogo de xadrez e que qualquer movimento feito sem muito planejamento pode provocar conseqüências irreversíveis. Daí a necessidade da análisede todas as variáveis possíveis antes de qualquer movimentação das peças no tabuleiro.
Comparações estratégicas à parte, momento semelhante é o que estão vivendo vários partidos políticos de Ribeirão Preto. De olho nas eleições municipais para prefeito do próximo ano, eles estão analisando detalhadamente seus prováveis concorrentes e planejando ações que podem aproximá-los ou afastá-los, de acordo com interesses futuros. O pleito para escolha do novo prefeito e vereadores está previsto, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), para 4 de outubro de 2020.
A constatação de que a maioria prefere – neste momento- esconder o seu jogo, foi feita pelo Tribuna ao tentar descobrir que legendas irão lançar candidatos ao Palácio Rio Branco e quem serão os escolhidos. A pesquisa foi feita considerando-se os partidos com representação na Câmara de Vereadores e os três primeiros colocados nas eleições municipais de 2016. Ou seja, Duarte Nogueira (PSDB), Ricardo Silva, na época no PDT e o juiz Gandini, na época no PHS.
Naquela eleição Duarte Nogueira foi eleito no segundo turno com 56,94% dos votos válidos, e teve como vice Carlos César Barbosa (Cidadania). Nogueira venceu o candidato Ricardo Silva que obteve 43,06% dos votos válidos. Já o juiz Gandini terminou o primeiro turno daquela disputa em terceiro lugar. O Tribuna também consultou o Partido Social Liberal (PSL) já que a legenda ganhou projeção nacional com a eleição do presidente da Republica Jair Bolsonaro.
Dos três candidatos que concorreram ao Palácio Rio Branco em 2016, apenas Gandini, hoje do PSD, confirmou sua pré-candidatura a prefeito. Segundo ele, sua decisão atende ao desejo da população que quer mudanças estruturais na cidade.
Já o prefeito Duarte Nogueira, considerado nos bastidores políticos como “candidatíssimo” à reeleição, preferiu dar tempo ao tempo. Garantiu que a eleição só será realizada no próximo ano e que agora é hora de realizar os compromissos assumidos na campanha de 2016.
Se forem contabilizados os financiamentos que a Prefeitura conseguiu para a realização de obras ele terá muito trabalho pela frente. Com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC-II) do Governo Federal – herdados da antiga administração – e financiamentos feitos junto ao Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, Nogueira terá mais de R$ 600 milhões para investimentos.
O ex-vereador Ricardo Silva, hoje no PSB, que terminou a disputa em 2016 com 111.697votos também optou por resposta semelhante. Segundo ele, sua decisão será tomada em momento oportuno. “Tenho acesso às pesquisas que indicam que estou bem avaliado. Neste momento estamos trabalhando para que os nossos candidatos a vereadores façam a maior bancada da próxima Câmara”, afirmou.
Vereadores estão indecisos
Dos vereadores que têm sido citados como prováveis pré-candidatos nenhum confirmou a intenção em concorrer. Garantem que seus partidos ainda estão analisando se terão candidatura própria ou se farão coligação com outras legendas.
Este é o caso do atual presidente da Câmara, Lincoln Fernandes (PDT). Apesar de ter o apoio do presidente nacional da legenda, o ex-ministro Marcos Lupe, ele analisa se será candidato. Nos bastidores políticos, uma das possibilidades seria a de uma“dobradinha” com o já assumido pré-candidato Gandini. O ex-juiz não confirma, mas em entrevista recente ao Tribuna elogiou Lincoln chamando-o de “um jovem político com futuro promissor”.
PSL e PT terão candidatos
Os dois partidos com posições ideológicas diametralmente opostas, Partido dos Trabalhadores e Partido Social Liberal terão candidaturas próprias para prefeito em Ribeirão Preto. O PSL deverá concorrer com o empresário Rodrigo Junqueira, que já colocou seu nome como pré-candidato pelo partido. Nas eleições para deputado federal do ano passado, Junqueira concorreu e obteve mais de 14 mil votos, sendo sete mil em Ribeirão Preto.
Já o Partido dos Trabalhadores que tem cinco mil filiados na cidade e o vereador Jorge Parada, afirmou ao Tribuna que também terá candidato próprio. O nome mais cotado é o do promotor aposentado e professor de direito Antonio Alberto Machado que foi convidado e estaria analisando o assunto.
Se ele não aceitar, o partido já tem uma segunda opção. “O que posso afirmar é que teremos candidato”, afirma Fernando Tremura, presidente do Diretório Municipal. No começo do ano ele será substituído no cargo pelo advogado Jorge Roque eleito no começo de setembro, como novo comandante da legenda na cidade.
Vale lembrar que o coordenador do Partido Novo de Ribeirão Preto, Daniel Caetano também afirmou recentemente ao Tribuna que está realizando um processo seletivo para escolher o pré-candidato a prefeito.
Outros partidos
Consultados pela reportagem outras legendas afirmaram que ainda estão analisando o assunto. O MDB disse que estuda apresentar candidatura própria, mas ainda não há nome definido. Que no momento não há coligação em análise e que a proposta do partido é ampliar a bancada na Câmara.
O Democratas afirmou que deveráapoiar a candidatura à reeleição de Nogueira, caso ele seja candidato. O PL – antigo PR, explicou que apesar de ver avanços nas realizações do atual governo, estuda candidatura própria. E o PP disse que ainda é cedo para definir se haverá ou não candidato eque está montando chapade vereadorescom potencial para ampliar a bancada na Câmara. Hoje, o PP tem três parlamentares.
Eleição para vereador será mais difícil
A disputa por uma cadeira no Legislativo ribeirão-pretano promete ser bem mais acirrada nas eleições do próximo ano. Isso porque, com a redução para vinte e dois parlamentares determinada pelo Supremo Tribunal Federal (STF)o quociente eleitoral, –total de votos necessários para que um partido consiga eleger um vereador – deverá aumentar significativamente. Na atual legislatura a cidade tem 27 parlamentares.
O quociente eleitoral é definido somando-se os votos válidos para vereador obtido por todos os partidos com os votos dados nas legendas. Isto é, aquele em que o eleitor vota apenas no número do partido. Este total é dividido pelo número de cadeiras da Câmara, no caso de Ribeirão Preto, vinte eduas. Na eleição passada o quociente eleitoral foi de nove mil votos, mas a projeção feita pelos partidos e por especialistas é de que na próxima eleição ele atinja 13 mil votos.
Outro fator que exigirá muita habilidade eleitoral dos partidos na hora de escolher seus candidatos está diretamente ligado ao fim das coligações proporcionais estabelecida pela mini reforma eleitoral de 2017 e a redução no número de parlamentares em Ribeirão Preto. Somados, estes dois fatores fizeram comque total de candidaturas por partido caísse de 44 para 33, das quais 11 terão que ser ocupadas por mulheres.
Resultado: com menos candidatos para ultrapassar o quociente eleitoral exigido, ospartidos terão que montar chapas completas e competitivas em que seus escolhidos tenham grande capacidade eleitoral. Caso contrário, não atingirão os votos necessários para fazer um vereador. Vale lembrar que além do partido ter que atingir oquociente eleitoral, o candidato também terá que ultrapassar a chamada cláusula de barreira, ou seja, terá de atingir 10 por cento do quociente para ser eleito.
Exemplificando: se o quociente eleitoral nas próximas eleições municipais for de 13 mil votos, o partido conseguir atingi-lo, mas nenhum dos seus candidatos ultrapassar a cláusula de barreira, – neste caso 1.300 votos -,ninguém da legenda será eleito. Vários presidentes de partidos ouvidos pelo Tribuna confirmam o acirramento da disputa e a dificuldade em montar suas chapas.
“Com o fim das coligaçõesna eleição proporcional é possível que alguns partidos não alcancem o quociente eleitoral, resultando na exclusão automáticada disputa de cadeira na Câmara Municipal, independente da votação individual de seus candidatos”, afirma o advogado especialista em direito eleitoral, Marco Damião. Na eleição majoritária – para prefeito – as coligações foram mantidas.
Tempo em televisão é a galinha dos ovos de ouro
Conseguir maior tempo na propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão do que seu adversário é o grande objetivo de qualquer candidato a prefeito, esteja ele disputando a reeleição ou sendo oposição ao governo. No caso do candidato a reeleição ele precisa de tempo na televisão para mostrar o que considera ser sua principais realizações, como por exemplo, as obras que fez. Já no caso de quem concorre como oposição, ele é fundamental para mostrar o que considera ineficiência ou erros de quem está no poder. Neste contexto, as coligações com outras legendas se tornam decisivas, principalmente com aquelas que têm maior tempo na TV. Vale lembrar que nas eleições do próximo ano, como foi no último pleito, o horário eleitoral gratuito no rádio e na televisão terá duração de vinte minutos, divididos em dois blocos de dez. Também haverá inserções durante a programação que deverão totalizar setenta minutos. A definição do tempo da cada partido é feita a partir do número de representantes que ele tem na Câmara dos Deputados em Brasília (DF). Ou seja, quanto maior for a legenda em Brasília, maior será seu tempo no rádio e na TV. Já uma pequena parte do espaço eleitoral é dividida em partes iguais entre todos concorrentes. Como nas eleições para deputado federal do ano passado houve mudanças significativas nas bancadas dos partidos o tempo de televisão do próximo ano sofrerá mudanças importantes. Daí, as articulações nos bastidores políticos de Ribeirão Preto, de alguns prováveis candidatos para viabilizar o chamado “casamento político” com aqueles que podem lhe dar alguns segundos ou minutinhos a mais no rádio e na TV. Oficialmente até o momento, somente uma legenda assumiu publicamente sua decisão de coligação: o Partido Republicanos (PRB) cujo presidente do diretório municipal, o vereador Otoniel Lima, afirmou em recente entrevista ao Tribuna que a legenda se coligará com Duarte Nogueira (PSDB), caso ele seja candidato a reeleição. Só para exemplificar, os doze partidos com maiores bancadas na Câmara dos Deputados e que, portanto, terão mais tempo individuais no horário eleitoral na campanha de 2020 são pela ordem: Partido dos Trabalhadores (PT), Partido Social Liberal (PSL), Partido Liberal (PL), Partido Progressista (PP), Partido Social Democrático (PSD), Movimento Democrático Brasileiro (MDB), Partido Socialista Brasileiro (PSB), Parido Republicanos (PRB), Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), Partido Democrático Trabalhista (PDT), Democratas (DEM) e Cidadania(antigo PPS).