Tribuna Ribeirão
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O sonho não acabou! 

José Eugenio Kaça *
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O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova de 1932 trouxe uma nova visão para a educação básica pública brasileira; este movimento foi influenciado pelas ideias do filosofo e pedagogo estadunidense John Dewey, que colocava a educação como uma necessidade social, e que a escola não deve ser uma preparação para a vida, e sim a própria vida. Este movimento foi encabeçado por educadores preocupados com a defasagem da educação básica do povo brasileiro. Acontece que propor novas ideias em um país cujo a “elite” odeia pobre por convicção, e essa convicção não permite que uma educação básica pública de qualidade para todos equalize a condição de vida dos pobres.

Este Manifesto, mesmo sendo combatido pela Igreja Católica e pela “elite” escravocrata conseguiu proliferar suas ideias, e com elas novas pedagogias foram criaram e novos ambientes escolares surgiram. Mas a cada projeto exitoso, um novo ataque reacionário acontecia. O projeto da Escola Parque de Anísio Teixeira, mostrou que era possível se ter uma educação autônoma, com os educandos aprendendo o valor da vida humana, e praticar a verdadeira cidadania. Mas a força reacionária tratou de colocar pedras pontiagudas no caminho da educação libertadora.

O estabelecimento do financiamento obrigatório da educação básica pública, que deveria promover a qualidade tão esperada serviu para aguçar a sanha inescrupulosa de gente que quer fazer da educação básica pública uma fonte de desvios para o enriquecimento ilícito de alguns. A política sistemática e anacrônica atua para que o analfabetismo continue sendo uma mácula no seio da população pobre e preta de nosso País, “e assim se ganha mais dinheiro”.  Os projetos exitosos de uma educação libertadora e cidadã que acontecem em diversas escolas públicas pelo Brasil a fora, não desperta o interesse dos governantes de plantão.

A escola básica pública é o alicerce de uma Nação, e esse alicerce não se constrói tendo uma “elite” lambe botas do Tio Sam, e entreguista das nossas riquezas, que tem a pachorra de se intitular “patriotas”. O ódio que essa gente tem de pobres e de pretos fecham os caminhos de uma Nação, e não permite que a miséria seja eliminada da sociedade, e que todos tenham uma vida digna. Mesmo com todas as adversidades a escola pública e aos trancos e barrancos  consegue caminhar, e estas pequenas vitórias acontecem por abnegação de educadores que não deixam cair o bastão, e isso incomodou.

A extrema que andava na penumbra, a partir de 2013 saiu do esgoto, e escolheu a educação pública como um inimigo a ser eliminado, e não pararam mais. Repetir mentiras até que se tornem verdades é o lema desta gente. A mamadeira de piroca, os banheiros unissex, a perseguição aos professores que querem ensinar os educandos a pensar, são chamados por estes extremistas de doutrinadores. Para completar a segregação criaram as escolas cívico-militares, que vão atuar nas periferias pobres, sob a batuta da mesma polícia militar que invade as casas dos pobres de fuzil e metralhadora na mão. E por incrível que pareça essa situação não incomoda os 302 diretores (as) de escolas públicas estaduais de São Paulo que estão nestas periferias, pois manifestaram o interesse por este modelo de educação nas escolas que trabalham – que tipo de pedagogo é esse?

Aquele sonho, que foi sonhado com o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova no Brasil não despertou, continuou adormecido, e agora depois de 92 anos precisa se materializar, a hora é agora, não podemos mais deixar que herdeiros do sistema escravagista continuem colocando pedras no caminho do povo pobre, que é pobre não por vontade própria, mas por imposição de um sistema desigual e muitas vezes criminoso. Todos temos o direito de sonhar, o sonho não pode ser exclusividade de quem tem a caneta do poder nas mãos; a luta é desigual, mas a tenacidade do povo pobre vai vencer, afinal são as mãos dos pobres que carregam o País; sem elas não há desenvolvimento. O sonho dos pobres em ter um País mais igualitário não acabou, e esse sonho só vai se realizar quando a educação básica pública for de qualidade e para todos.

* Pedagogo, líder comunitário e ex-conselheiro da Educação
 

 

 

 

 

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