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O sofrimento imposto pela ditadura aos Antunes 

Edwaldo Arantes – Agente Cultural 

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Conheci o Fernando Antunes Coimbra, carinhosamente chamado de Nando por meio de um brilhante e saudoso advogado, defensor das vítimas da déspota, facínora e homicida ditadura militar, atuava na busca do resgate profissional, da dignidade e da justa indenização pelos traumas, humilhações e sequelas, que marcaram aqueles que ousaram bravamente resistir e buscar libertar o país das mãos da tirania, devolvendo a justiça, a liberdade, a cidadania e o bem comum. 

A ditadura implantada com o golpe militar, executou, torturou, exilou, baniu, perseguiu e desapareceu com milhares de brasileiros, também demitindo, exonerando e aposentando profissionais liberais, artistas, educadores e demais categorias da sociedade civil, anulando suas atuações.  

Nando Antunes somou-se aos milhares, que foram vítimas deste despotismo golpe que jogou o Brasil nas trevas durante vinte e um anos. 

Escritor, professor, filósofo, artista plástico e o primeiro atleta brasileiro, craque do nosso futebol a ser anistiado, depois de sofrer na pele, os desmandos e a fúria dos algozes que assaltaram, vilipendiaram e tomaram a nossa pátria amada. 

Nando possui em sua trajetória uma história sofrida, porém, riquíssima, notável e significativa repleta de ações, momentos e fatos de sua trajetória como ser humano, professor e atleta profissional, formando ao lado dos irmãos, Edu, Antunes, Tonico e Zico uma das páginas mais lindas do futebol brasileiro. 

A história de perseguição, prisão e tortura foi guardada por Nando por 40 anos, episódios de humilhações nortearam a vida da gloriosa e dignificante família Antunes Coimbra, como exemplo, Zico foi cortado da Seleção Olímpica de 1978, Edu, considerado um dos dez melhores jogadores à época não foi convocado e seria Campeão do Mundo com a Seleção de 1970. 

Diversos episódios e acontecimentos marcaram de forma definitiva o Nando pelos sofrimentos impostos aos familiares e seu rol de amizades, apenas e tão somente pela sua existência. 

Nando, a irmã Zezé e a prima Cecília foram professores do PNA – Plano Nacional de Alfabetização de Adultos, criado e idealizado por Paulo Freire e instituído pelo Presidente João Goulart, com a determinação de erradicar o analfabetismo, com a perspectiva de obter expressivo sucesso. 

Além do amor pelos estudos, o futebol era a outra paixão desta família que já contava com Nando atuando na base do Fluminense, e os irmãos, Antunes e Tonico também no tricolor e Edu no América. 

Em treze de maio de 1964 o Ministério da Educação divulgou pela imprensa que o material utilizado na campanha de alfabetização tinha caráter subversivo. 

Nando, a irmã Zezé, a prima Cecília e seu marido, José Novaes, foram presos por agentes do DOPS, encaminhados encapuzados até as dependências do DOI-CODI, braço da inteligência e repressão do exército, onde sofreram violentas humilhações e ameaças sendo fichados como subversivos, o que praticamente acabou com as atividades profissionais de todos. 

Os coordenadores e professores que tiveram ligação com o PNA foram considerados nocivos ao país, sendo acompanhados de perto pelo regime militar.  

Em dezembro de 2010, a Comissão de Anistia, instalada pelo Ministério da Justiça, reconheceu que Nando foi um perseguido político da ditadura brasileira e se tornou o primeiro jogador de futebol a ser anistiado no país. 

Nando foi vendido ao time do Belenenses, tradicional clube português com sede em Lisboa, em plena ditadura de Salazar, interessante a conexão e os elos da repressão brasileira com outros países sob regime “fascista”, como no cone sul, a Operação Condor, Salazar, Francisco Franco e outros déspotas e ditadores.   

 Nando sofreu horrores em Portugal, em um instante de rara felicidade conseguiu voltar ao Brasil, após ameaças de ser obrigado alistar-se no exército do país, além de ser enviado para as frentes militares que combateram em Angola e outras colônias africanas e, principalmente, risco de ser mais um na lista sanguinária dos desaparecidos. 

A história do Nando está descrita e registrada no seu primeiro livro, “Futebol e Ditadura”, que tive a felicidade e o privilégio de lançar, ótima oportunidade para conhecer sua vida, caminhos e a estrada, pontilhada de lutas, ardores, entusiasmos, derrotas e vitórias.    

Aprender com ele, sempre atentos e combatendo bravamente quaisquer tipos de ditaduras e aqueles que defendem a volta das tiranias e o banimento total das nossas liberdades. 

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