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O silêncio

Considero-me um ser comunicativo, de fácil entrosa­mento social e que gosta de manter contato com outras pes­soas. Papear numa happy hour, trocar experiências, discutir assuntos importantes, de tudo isto eu gosto e necessito para viver. Entretanto, gosto também de curtir o silêncio. Não o silêncio sofrido das horas difíceis, mas, o silêncio de alguns momentos do dia, quando os sons desaparecem e me sinto perfeitamente integrado na natureza.

Gosto de deitar na beira da piscina, olhar o verde das árvores que se destaca contra o céu azul destes dias de outo­no, paisagem algumas vezes cortada pelo voo rápido de um pássaro. Tudo é silêncio, um silêncio estrondoso, que nos induz à meditação.

Na correria do dia a dia de nossas vidas, é importante termos um momento só para nós, para nos lembrarmos de vivências agradáveis que tivemos, das dificuldades que vencemos e nos conscientizarmos de que a vida é bela, boa a e vale ser vivida.

No vazio do silêncio, podemos enchê-lo com nossas divagações, nossas realizações, nossos projetos, nossos so­nhos. Para alcançar meta que estipulamos é necessário antes vivê-la na imaginação. Nestes momentos de silêncio, pode­mos nos permitir descanso de nossas atividades e reavaliar nossos projetos.

É bem verdade que, de vez em quando, um pio estridente ou o latido distante de um cachorro quebram nosso silêncio benfazejo. Mas, como são sons da natureza, eles se incorporam ao momento mágico e complementam nossas divagações.

O silêncio é criativo. Nos meandros do pensamento, surgem ideias novas, novos projetos, novas esperanças. São momentos de encontro, de criatividade, de dar asas à imagi­nação e deixar emergir pensamentos.

Há também o silêncio da hora de leitura, quando nos concentramos no escrito dos livros e nos deixamos perder na grande aventura que é degustar um novo livro ou sabo­rear um antigo já lido e vivido. A literatura é mágica, nos transporta para um novo mundo, vivenciamos a história lida, nos permite ampliar nossa imaginação. Responde a nossas maiores indagações, aponta verdades que não víamos e sua mensagem vai fermentando dentro de nós.

Se estivermos lendo poesia, é lícito quebrar o silêncio, pois versos só podem ser apreciados em voz alta, declama­dos, vividos.

“A palavra é de prata, mas, o silêncio é de ouro” diz o ve­lho ditado, anunciando-nos uma nova dimensão do silêncio. Silêncio quando estamos conversando ou ouvindo prosa entre outras pessoas, o assunto é delicado e, muitas vezes é melhor nos omitirmos do que manifestar nossa opinião. Al­guns assuntos polêmicos, como religião e política costumam atrair grandes discussões, que a nada conduzem, senão à ani­mosidade gratuita entre as partes. Precisamos ter maturidade suficiente para nos calarmos, a não ser que nossa interferên­cia seja absolutamente necessária. Algumas vezes, o silêncio é a melhor resposta, afastando-nos de disputas estéreis.

Finalmente, há o silêncio da prece, que ocorre quando nos debruçamos sobre o divino e tentamos nos comunicar com o Criador, seja ele qual for, pedindo a interferência do sobrenatural. Ou quando, agraciados com alguma solução, nos lembramos de agradecer.
O silêncio, se bem compreendido e vivenciado é um grande amigo e companheiro.

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