Os avanços que a humanidade conquistou através dos séculos, principalmente no final do século 20 e inicio do século 21, vem sofrendo no Brasil ataques virulentos por parte dos defensores de uma moral ultrapassada e retrógada, que quer trazer de volta os usos e costumes da Idade Média, mas esquecem de que vivemos outros tempos.
A ascensão social de um país passa inevitavelmente por uma educação básica de qualidade, e para todos, no entanto, a nossa educação básica pública não consegue soltar as amarras que a mantém presa aos séculos 18 e 19, e quando achamos que a educação básica começa a se livrar destas amarras – surgem fatos novos, que de novos não tem nada, e nos arrastam de novo para as trevas do eterno atraso, que nos mantém presos a eterna subserviência.
O projeto de alfabetização e cidadania de Paulo Freire, que foi copiado por diversos países, não frutificou entre nós, a Escola Nova naufragou na intolerância da Igreja Católica, que não admitia uma escola que proporcionasse autonomia e liberdade de pensamento para o povo brasileiro, a Escola Parque de Anísio Teixeira, que pensava na construção da cidadania, os CIEPs de Darcy Ribeiro, que valorizavam a educação de qualidade para os mais pobres – foram amputados, e transfigurados para que nada de novo pudesse acontecer.
Com todas estas barreiras tivemos alguns avanços na educação básica, que trouxeram, mesmo que timidamente algum alento a um horizonte marcado pela nebulosidade. A Constituição, o Estatuto da Criança e Adolescente, os acordos e tratados internacionais, o Plano Nacional de Educação e seus afins estaduais e municipais tentam colocar a educação básica num patamar mais elevado, a Lei da Inclusão, o AEE (Atendimento Educacional Especializado) que está previsto no Tratado de Salamanca desde 1994, mas somente em 2008 essa lei foi ratificada no Brasil.
Estas mudanças ainda são muito tímidas, mas mesmo tímidas já estão despertando a ira de quem não quer que nada mude neste País. O famigerado projeto “escola sem partido” é um exemplo cabal dos que querem enterrar uma proposta pedagógica que ainda não deu os seus frutos, mas somente as ideias de uma educação básica inclusiva já desperta a ira dos que acham que uma educação de qualidade para todos vai restringir os caminhos suaves de seus rebentos e por medo querem obstruir o direito inalienável que todos tem para aprender e ensinar nos ambientes escolares.
A luz não consegue ultrapassar o escudo da mediocridade e ignorância que toma conta do nosso cotidiano – achar que o ambiente escolar é somente para disseminar as ciências, que a construção da cidadania não passa por estes espaços é querer que a periferia pobre viva eternamente sendo subserviente. Mesmo com todas as dificuldades, e recebendo uma educação confinante e alienante, a periferia pobre ainda produz arte, e arte de qualidade. A leitura obrigatória do álbum “Sobrevivendo no Inferno” dos Racionais MC’ s, para o Vestibular 2020 da Unicamp – mostra que se tivéssemos uma escola pública inclusiva e cidadã teríamos um Brasil para todos. O século 21 pede licença!