Tribuna Ribeirão
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O saber e o poder 

José Eugenio Kaça *  
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O Estado brasileiro foi construído por uma elite escravagista, e essa visão criou uma sociedade com a marca da segregação, impingida pelos donos do poder, e essa segregação se consolidou através da educação básica, que começou pública e com qualidade, mas tomando o cuidado para manter arraigada a segregação. Esse tipo de educação seletivista fez com que a maioria da classe trabalhadora e seus descendentes não tivessem acesso a alfabetização e por tabela aos conhecimentos científicos, e por conta disso erramos um País com mais de 70% de analfabetos, e tudo tinha continuado como sempre foi, se não fosse o interesse que o grande capital financeiro, que precisava expandir seus tentáculos, e seu olhar enxergou nos países periféricos, chamados de pobres como o Brasil, um caminho para seu expansionismo.  
 
O Movimento da Escola Nova de 1932 mostrou para o Brasil, o caminho para uma educação pública, laica e de qualidade para todos, que permitiria que o País encontrasse o caminho do desenvolvimento e finalmente chegasse ao patamar de uma Nação, entretanto a aristocracia rural juntamente com a Igreja Católica trabalhou para fechar estes caminhos, e mesmo assim alguns projetos exitosos como as Escolas Parques mostraram que uma educação básica pública de qualidade para os filhos dos trabalhadores era possível. No entanto este modelo exitoso de educação básica pública não foi replicado pelo País por motivos já conhecidos. 
 
Se apropriar do erário em beneficio próprio é o mantra de quem se acha dono do poder. A educação básica pública tinha qualidade quando atendia aos interesses das classes dominantes, quando os governantes brasileiros, por força de acordos internacionais foram obrigados a colocar nas escolas públicas os filhos da classe trabalhadora; houve a debandada dos filhos bem nascido da classe dominante, pois a segregação não permiti que os filhos de pobres e de ricos possam conviver no mesmo ambiente, e a escola pública passou a ser exclusividade da classe trabalhadora, e aos poucos foi sendo abandonada pelo poder público, e este abandono fez a escola pública chegar a encruzilhada dos dias atuais. 
 
A educação básica pública sempre foi tratada pelos nossos governantes como indigente, ficando com as sobras dos banquetes palacianos. Houve certa vez, em que um grande banco, praticando a velha filantropia resolveu doar para às escolas públicas, sucatas de computadores, que já não tinham mais serventia para o banco, e ainda teve governante que ficou lisonjeado com o ato altruísta, por ai ver-se como sempre foi tratada a educação dos filhos dos pobres deste País. Os países considerados evoluídos entraram de cabeça na educação digital, com os computadores fazendo parte da vida dos educandos desde a educação infantil, mas depois demais de uma década, os resultados mostraram um retrocesso no aprendizado dos alunos, e agora estão voltando a pedagogia da interação e da solidariedade. E nós fizemos igual ao filme: “A volta dos que não foram”. 
 
Os nossos educandos não experimentaram na plenitude o uso das tecnologias no ambiente escolar, pois quando tinha computador, não tinha internet, e a roubalheira na compra destes equipamentos mostrou que é coisa de máfia. A popularização dos celulares permitiu maior interação da meninada, com os conteúdos, mas a falta de critérios transparentes para o uso desta ferramenta criou um impasse delicado no ambiente escolar. A solução do problema deveria passar por amplos debates, com a participação de todos como reza o artigo 205º da nossa Carta Magana, entretanto, a solução mais fácil foi proibir o uso do celular no ambiente escolar. Continuamos no mesmo impasse: alunos do século 21 x dirigentes e professores do século 20 ou talvez 19; não tem com dar certo! 
 
* Pedagogo, líder comunitário e ex-conselheiro da Educação 

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