O Brasil foi o último país do mundo a abolir a escravidão dos povos africanos, que foram arrancados das suas terras de origem, e durante 350 anos serviram de mão de obra escrava para o desenvolvimento do País. A luta do povo negro pela liberdade durou mais de três séculos, e produziu grandes nomes que lutaram pela liberdade.
A luta e resistência do povo negro, que nunca se conformou com a condição de escravizado começou com a chegada forçada dos primeiros negros ao Brasil, e essa resistência se intensificou durante séculos, produzindo grandes personagens negras na luta pela liberdade, como: Aqualtune, (avó de Zumbi dos Palmares), Adelina, Anastácia, Zumbi dos Palmares, José do Patrocínio, Luiz Gama, André Rebouças e outros.
A liberdade do povo negro, sempre esteve ligada às questões econômicas do Império, onde a aristocracia rural resistia bravamente à libertação dos escravos, mesmo com a interferência econômica da Inglaterra, que por questões econômicas queria o fim da escravidão. A aristocracia rural brasileira tinha o escravo como um produto com prazo de validade, não eram considerados seres humanos, pois a Igreja Católica havia afirmado que o preto não tinha alma, e liberou a visão branca, de que negros não eram seres humanos.
Até a Lei Áurea, que em dois artigos libertou os negros escravizados no Brasil tiveram leis que pretendiam minimizar o sofrimento do povo negro, a Lei que proibiu o tráfico de escravos, conhecida como Lei Eusébio de Queiróz, a Lei do Ventre livre e a Lei dos Sexagenários, leis que eram inócuas, pois a vida útil de um escravo era em média de sete anos; quantos seriam beneficiados? Já a Lei do Ventre livre criou o primeiro contingente de menores abandonados do Brasil.
A Lei Áurea, que deveria ser um motivo de felicidade, se tornou um pesadelo, pois o ex-escravo descobriu a sua realidade no dia seguinte – estava jogado com a sua família na rua da amargura sem era nem beira. O golpe aristocrático-militar, que Proclamou a República colocou definitivamente a população preta à margem da sociedade, criando leis exclusivas para punir de acordo com a cor da pele.
Minimizar e tentar excluir da história do Brasil a contribuição da população negra foi o primeiro passo para institucionalizar o racismo. A torre da primeira Catedral da Sé, na cidade de São Paulo, o chafariz da misericórdia, com o primeiro encanamento de água da cidade, e fachadas de diversas igrejas foram algumas obras que tiveram a assinatura de Joaquim Pinto de Oliveira, um escravizado conhecido pelo nome de Tebas, mas o seu nome não aparece na história da famosa catedral.
Os negros não eram somente mão de obra braçal, como afirmam alguns, por má fé ou desconhecimento, eram artistas, engenheiros, arquitetos e uma infinidade de profissionais, que por conta da escravização viviam aprisionados. Em 2018, o Sindicato dos arquitetos do Estado de São Paulo reconheceu Tebas oficialmente como arquiteto e urbanista.
A proclamação da república, e os sequentes golpes cívico-militares, que colocou o negro numa situação de miséria e exclusão social, não conseguiu minar a resistência deste povo. Em 1971, na cidade de Porto Alegre foi criado o Grupo Palmares, que escolheu a data da morte de Zumbi do Palmares, como o dia da Consciência Negra, em 1978 em plena ditadura militar foi criado o MNU (Movimento Negro Unificado), que escancarou o racismo existente no Brasil, onde ser preto muitas vezes é uma sentença de morte. No entanto o racismo continua coberto sorrateiramente com o manto sofisticado da igualdade racial, mas tudo é feito para excluir o negro, e beneficiar o branco.
No dia 28 de setembro de 2021, o STF igualou o crime de injúria racial ao crime de racismo, mas isso não intimidou os juízes do Superior Tribunal de Justiça Desportiva, que absolveu a equipe do Brusque de Santa Catarina, que havia sido condenada em primeira instância, com a perda de três pontos, pelas injúrias raciais e racismo, proferidas por um dirigente contra um jogador do time adversário.
Nos tribunais embranquecidos, não há empatia quando se trata de questões raciais. A condenação de pessoas apenas com o reconhecimento fotográfico, ou de testemunhas, que muitas vezes são induzidas ao erro, principalmente quando o acusado é negro é algo corriqueiro em nosso cotidiano.
O preconceito racial no Brasil é algo de uma sofisticação ímpar, não é escancarado, mas causa dor e sofrimento, segundo Preto Zezé: “é um constrangimento pedagógico”. O dia 20 de novembro é dia de luta, temos pouco a comemorar!