Ricardo Lima Melo Dantas
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Outro dia assisti ao 1º episódio da série “Fallout”, disponível no Prime Vídeo. Trata-se de uma série de TV de drama pós-apocalíptico: num mundo distópico, seguido da explosão de bombas nucleares por toda a Terra, a humanidade migrara para o subterrâneo, para que nossa raça não fosse extinta. O objetivo seria recolonizar a superfície do planeta, após a diminuição da radiação. Apesar de um tanto forçada a série, o enredo me pareceu bastante instigante e atual, embora ninguém goste de ficar pensando muito no armagedon nuclear –dada a nossa inata aversão ao caos.
Também assisti a dois episódios da série “Como Funciona o Universo”, disponível nesta mesma plataforma. Explica-se ali como se formaram as estrelas e os buracos negros – uma cadeia de eventos, desde o Big Bang (início do universo), que consiste em repulsão cinética e reunião gravitacional da matéria, com fusão nuclear (formação de estrelas) até que seu combustível (hidrogênio) se torne escasso o suficiente para que todos os demais elementos formados naquela fornalha colapsem sobre si e explodam numa supernova, donde há de surgir um buraco negro (que suga toda a matéria ao redor, por gravidade). Cada sistema, como o solar, possui material forjado nesse moto-contínuo caótico, que se iniciou há mais de 13 bilhões de anos.
Enfim, a vida (e a morte) é resultado do caos. Ou daquela ordem que ainda não compreendemos em detalhes. Alguns chamam isso de Deus, por exemplo. E esse caos segue e seguirá, indefinidamente –tudo o que narrei acima está em curso neste exato momento, no nosso universo conhecido (e infinito).
Nós, os seres humanos, ao revés, gostamos de ordem. Ou melhor: temos receio do desconhecido. Então, quando algo dá errado, ficamos com medo. Esse medo nos paralisa ou nos move. Ademais, há certas magnitudes de desordem que praticamente quebram nossa frágil estrutura social. Basta ver a terrível situação que está ocorrendo no Rio Grande do Sul, que vem enfrentando enchentes históricas.
Ilustre leitor, veja que trouxe o caos subjacente do macro (universo) para o micro (tragédia no RS), para que fixemos o total descontrole que temos quanto ao nosso destino. Então, convém ficarmos muito atentos aos paraísos holográficos que edificamos por comodidade no convívio social. Você pode se julgar alguém muito bem sucedido, com poder, fama e dinheiro. Pode inclusive passar a vida postando nas redes sobre isso. Mas, nada está sob seu controle. Tudo pode mudar, num piscar de olhos.
O que quero dizer é que não há portos seguros, amigo. Você não é o rei Sol. Aliás, o próprio Sol não é rei de coisa alguma. Estamos na periferia de um dos tantos braços de uma galáxia comum, a Via Láctea, que contém bilhões de estrelas como o Sol. A própria Via Láctea é uma dentre bilhões de galáxias que existem por aí. Penso que, um dia, nós deixaremos de ser seres biológicos e passaremos a ser consciências instaladas em máquinas. Ou seja, a vida deixará de ser orgânica e isso viabilizará nossa expansão pelo sistema solar (e além). Então, faremos contato com as demais inteligências que habitam por aí… e descobriremos que não somos o centro da criação divina!
Tudo isso só vai acontecer, aliás, se antes não nos aniquilarmos enquanto espécie. E isso conecta as ideias expostas nesta coluna com o parágrafo inicial: o armagedon nuclear – o mesmo fator responsável pela vida terrena (por fusão), pode eliminá-la (por fissão). Não é curioso?
O ponto a se frisar é: boa parte de todo o caos somos nós mesmos quem plantamos. Seja na nossa vida (principalmente!), seja no seio de nossa família, seja no nosso bairro, na nossa cidade, estado, país… e até no planeta como um todo, conforme a magnitude das consequências de nossas atitudes.
Não importa muito o que eu penso. Nem você, meu amigo. O fato é que o Oriente Médio está em ebulição – a coisa entrou numa espiral tão grande de caos que pode nos arrastar para um conflito maior. E não é só ali: a máquina de guerra russa já foi ligada há mais de dois anos no seio do continente europeu (palco das duas últimas grandes guerras). O império chinês, de seu turno, está também mostrando seus dentes de dragão. E tudo isso pode, num piscar de olhos, teletransportar todos nós para a mais nova temporada de “Fallout”. Ou nos devolver ao universo, como poeira cósmica. Há inclusive a possibilidade de que nada disso aconteça. Enfim, o caos é difícil de explicar (ou deter).
* Advogado, pós-graduado em tributos pelo IBET e pela Fundace, mora em Ribeirão Preto e também escreve em seu blog www.ricardodantas.blog.br