Todo empreendimento comercial é sujeito a risco, o qual é ainda maior quando a atividade principal da empresa é o comércio de produtos no varejo. A necessidade de penetração no mercado e ampliação do crédito são fatores que expõem as empresas deste ramo às oscilações do mercado de uma maneira bem forte. Isso sem mencionar que o setor sofreu direta e intensamente os abalos trazidos pela pandemia.
Nas últimas semanas, tivemos notícias de rombos e quebras de várias das mais renomadas varejistas brasileiras, começando pelas Americanas, passando pela Tok Stok, Livraria Cultura e Marisa.
Apesar de cada uma delas terem suas características próprias, todas têm em comum o fato de parcelarem os seus produtos em muitas vezes, o que traz a elas uma exposição maior aos juros, inflação, inadimplência e concorrência, inclusive internacional, por parte de empresas tais como Amazon, Shoppee, Shein e outras. Isso faz com que as empresas acabem tendo problemas de fluxo de caixa, ou seja, a entrada de recursos não ocorre de maneira ou no tempo adequados para que elas possam honrar suas dívidas.
Com a pandemia, o fechamento de postos de trabalho e de comércio, e não obstante os esforços de diversos governos para minimizar este impacto negativo, por meio de auxílios e incentivos, houve uma retração e desestruturação de toda a cadeia produtiva e de fornecimento, e as varejistas tiveram que se adaptar aos novos cenários, inclusive à intensificação do comércio digital. Empresas que conseguiram realizar este movimento a tempo, tais como a Magazine Luiza, Casas Bahia e outras, enfrentaram esses desafios com mais galhardia, mas outras, que não conseguiram fazer tais ajustes, tiveram que enfrentar, além das perdas trazidas pela pandemia, o bom desempenho dos varejistas estrangeiros com preços abaixo daqueles praticados no país.
O governo recentemente reestabeleceu a cobrança de impostos sobre os produtos importados, a fim de diminuir a desvantagem que as varejistas brasileiras enfrentam com relação aos sites estrangeiros.
É de se questionar, também, a atuação das empresas de auditoria, que acompanharam por anos, por exemplo, o rombo das Americanas, sem apontá-lo adequadamente e a tempo ao mercado.
Neste momento de ajustes da economia, vemos algumas varejistas, como a Riachuelo e Lojas Marisa, fechando lojas físicas, demitindo pessoas e lutando para manterem suas atividades. Algumas, tais como a Livraria Cultura e a Amaro, pediram recuperação judicial. Outras, estão evitando esses pedidos e tratando com credores para evitar pedidos de falência.
Como vimos, algumas empresas enfrentam problemas com o fluxo de caixa, gerados também pela retração de segmentos do mercado, outras, sofreram com má gestão e apuração de fraudes ou erros grosseiros de controle.
A despeito de tudo isso, o varejo brasileiro, que já enfrentou crises nas décadas de 80 e 90, tem uma grande capacidade de se recuperar e se reinventar. O importante, para o empresário, é adotar regras de governança e gestão efetivas, capazes de mensurar os riscos e pontos fracos de seus negócios de forma que elas consigam contornar os obstáculos que as realidades financeira, econômica e cultural apresentam para este setor da economia.