Acima de tudo 2020 foi um ano de pandemia que levou muitas pessoas e que deixou diferentes reflexões. A necessária medida de isolamento social, recomendada pelas autoridades médicas e sanitárias, dentre elas, a Organização Mundial de Saúde (OMS), como medida mais eficaz no combate ao vírus, trouxeram junto, apesar dos pesares, uma fértil oportunidade de nos voltarmos para dentro, já que não podíamos ir para fora – e a recomendação é que continuemos não indo – e com isso refletirmos mais sobre a vida e todos os aspectos sociais que a preenchem e que nos faz coexistir em sociedade, como uma grande fraternidade universal que, se não somos ainda, é o que deveríamos ser e buscar ser.
São os conflitos entre as pessoas que fazem com que direitos humanos e sociais tenham que ser reivindicados, do contrário, se não existissem conflitos, não teria reivindicação. E essa situação é uma grande demonstração, portanto, do muito que ainda temos que evoluir.
Essa evolução é absolutamente possível, e todas as pessoas têm a capacidade de ser mais e melhor. E quando nasce um ano novo é comum que se pense em mudanças, em tudo aquilo que não se quer mais e tudo aquilo que se quer conquistar. A evolução e a mudança são possíveis desde que se tome decisão para isso, e se misture a ela quatro outros ingredientes ou valores: amor, luta, esperança e conhecimento.
Só o amor constrói, e constrói quando lutamos. Milagres acontecem quando vamos a luta. E o que nos alimenta na luta é a esperança e o conhecimento, que não só liberta, como, também, nos emancipa da ignorância que tanto mal produz.
É possível as mudanças que queremos ver acontecer porque temos a força motriz que tudo move nas engrenagens da vida. Não é por outra razão que, segundo o Cristianismo, o Pai teria dito: “sóis deuses”. E como deuses ele teria explicado que cada pessoa é capaz de fazer tudo aquilo que pede ao próprio Pai.
As pessoas, então, carregariam dentro de si, em sua centelha divina, a força e a capacidade de realizar mudanças, em suas própria vidas e na sociedade. No mesmo sentido o filósofo, escritor e educador indiano Krishnamurti afirmava que o autoconhecimento era a chave para solucionar os problemas humanos, e a urgente mudança social só seria possível a partir de uma transformação individual (Krishnamurti, o Livro da Vida, São Paulo, 3º Ed. Academia, 2.016).
Na trilha da evolução é imprescindível também que cada pessoa seja responsável por seus atos e pensamentos e o que eles geram em sua vidas, nas vidas das outras pessoas e na vida como um todo, no mesmo espírito que pregou Gandhi incansavelmente; “que cada pessoa seja a mudança que quer ver no mundo”. Tomar decisões sem se responsabilizar pelos próprios atos e as consequências deles é o mesmo que dizer “eu quero e sou capaz, mas não tenho coragem de assumir riscos e dificuldades, e, muitas vezes, erros.” Como se avança sem correr riscos?
E ai, então, para viver se verifica a necessidade de mais um ingrediente ou valor a se somar aos outros; a coragem. Para viver é preciso ter também “coragem”, que, por sua vez, decorre e é alimentada pela esperança, porque “o contrário do medo não é a coragem, é a fé”, como bem explicou Frei Betto, e da fé vem a coragem para agir. E no mesmo sentido, em versos que acaloram e estimulam a alma, Guimarães Rosa teria eternizado esse mandamento da vida: “A vida é assim; esquenta e esfria, aperta e dai afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.”
O que a vida quer da gente é coragem, hoje e sempre. Coragem para decisões, para agir, para viver e, sobretudo, para amar. Feliz 2021!