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O Quarto Reich

Ricardo Lima Melo Dantas  
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Caro leitor, não sou historiador, não conheço a fundo a história de Israel ou da Palestina e tampouco estive fisicamente no Oriente Médio. Porém, a todos são acessíveis, hoje, informações fidedignas na internet. No mais, esclareço que não tenho preferência por algum dos dois povos.

Feita esta introdução e considerando que os povos palestinos estão instalados naquele pedaço de chão há milênios, assim como o estão gerações de judeus, é triste ver um embate que redunda em carnificina de parte a parte – especialmente após a criação do Estado de Israel em 1948 (para a qual o Brasil foi determinante, mediante atuação do chanceler Osvaldo Aranha, à época) e em decorrência das guerras travadas pelos países vizinhos para tentar reverter tal criação. Também há assentamentos ilegais israelenses e, ainda, um governo atual que se arvora na extrema-direita.

Porém, nesta coluna, me interessa entender a gênese do holocausto. Então, convém fazer um breve apanhado da história judia: primeiro, os povos hebraicos (judeus), foram escravizados pelos egípcios, na Antiguidade (Moisés os teria libertado, abrindo o Mar Vermelho). Depois, quando habitavam Judá (a “terra prometida”), foram expulsos desse reino com a ascensão do Império Grego Macedônico, por Alexandre, o Grande. Após resistirem, fundaram o Reino da Judeia, mas acabaram acossados e submetidos pelo Império Romano, com a oficialização do cristianismo como religião imperial, no século II d.C. Assim, se dispersaram pelo mundo numa “diáspora”.

No continente europeu, os judeus se dedicaram ao comércio, dado que não possuíam terras ali. Como emprestavam dinheiro a juros (foram os fundadores dos primeiros bancos), e como eram estrangeiros, acabaram despertando a raiva dos europeus, em especial os católicos, contrários à usura. Então, seguiram sendo perseguidos na Idade Média. Mas, foi no século XIX que o vimos se acentuar o antissemitismo, especialmente na Alemanha – ali os judeus foram responsabilizados pela miséria e fome no país. Mais tarde, durante o “Terceiro Reich”, Hitler e os nazistas prenderam e mataram cerca de 6 milhões de judeus, no que ficou conhecido mundialmente como holocausto.

Agora, assistimos no noticiário à invasão do território israelense por pelo menos 1.500 integrantes do grupo terrorista palestino Hamas, ocorrida na manhã do dia 07/10/2023, quando realizaram um verdadeiro massacre contra crianças, adultos e idosos – morreram mais de 1.350 israelenses, sendo que 2 centenas de outros foram capturados como reféns e levados para a faixa de Gaza. É o pior morticínio de judeus, pelo simples fato de serem judeus, desde o fim da 2ª Guerra Mundial.

Amigo leitor, não está em questão a luta do povo palestino pelo reconhecimento de seu direito a ter um Estado (o que implica numa divisão adequada da região entre ambas as nações), mas sim a prática de um ato inegavelmente terrorista, perpetrado pelo mesmo antissemitismo que animou os nazistas! Ora, o Hamas é um grupo tirânico que subjuga o próprio povo palestino na faixa de Gaza.

Assim, é espantoso ver pessoas, não só no Brasil, mas no mundo, defendendo as ações do Hamas ou mesmo justificando tais atos como uma mera “reação”. Aliás, o governo brasileiro tem apresentado severas dificuldades para condenar claramente o morticínio e seus perpetradores – a mesma posição de suposta “neutralidade” que dispensam à Rússia, quanto à sua bárbara invasão do território ucraniano. Mais: o grande problema não reside na defesa do povo palestino – está na defesa do Hamas e de seus atos e métodos. Tenho visto declarações surrealmente antissemitas em diversos veículos de imprensa e nas redes sociais. É como se o povo israelense merecesse a sina que enfrenta historicamente, especialmente a “reação” encabeçada pelo Hamas. É assustador!

O mundo está caminhando perigosamente para um ponto de não- retorno. Aqueles que defendem a democracia, conceitos liberais básicos, estão numa minoria triste, desacatados e desanimados entre duas máquinas de enfrentamento – a ultradireita e a extrema-esquerda. Na realidade, estão desenterrando o que já se viu de pior na face da Terra: ódio e holocausto. Angustiado, me pergunto: estaremos nós vivendo o tempo em que se plantam as sementes do “Quarto Reich”?

* Advogado, pós-graduado em tributos pelo IBET e pela Fundace, mora em Ribeirão Preto e também escreve em seu blog www.ricardodantas.blog.br 

 

 

 

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