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Entretenimento

O problema das drogas na série nacional ‘Onde Está Meu Coração’

Por Luiz Carlos Merten, especial para o Estadão

No início, era um projeto da dupla George Moura/José Goldenberg para José Luiz Villamarim dirigir. Após o sucesso da parceria em O Rebu, de 2014, os dois roteiristas buscavam uma nova história. A maneira como as coisas ocorrem – Goldenberg, o Gold, levava a filha para a escola, antes das 7 da manhã. Numa rua de Botafogo, no Rio, viu aquele jovem bem vestido, mas desleixado, os olhos transtornados, os pés descalços. A imagem – forte – ficou com ele. Discutiu com o amigo Moura. Começaram a tecer uma história.

“Nosso tema de fundo é a droga, mas a série – Onde Está Meu Coração – é sobre relações familiares”, diz Goldenberg, o Gold. Levaram o projeto a Villamarim, mas ele estava sem agenda, comprometido com a novela Amor de Mãe. Foi a grande chance de Luísa Lima, que integrava o entorno de Villa e, como diretora colaboradora, realizava séries e novelas sob a direção geral dele. “Eu estava querendo dar o grande passo de uma direção solo, a emissora (a Globo) também achava que eu estava pronta e valia a pena investir. Dirigi Onde Está Meu Coração e foi tudo muito intenso.” Há mais de um ano, a série foi apresentada no mercado do Festival de Berlim. Estava apontada para estrear em 2020, mas aí veio a pandemia e o mundo parou.

O primeiro capítulo de Onde Está Meu Coração estreia na Tela Quente de 3 de maio. Já na madrugada de 4, a série inteira – dez capítulos – estará disponível no Globoplay. Um ano inteiro de espera – Luisa não teve momentos de ansiedade, revendo o trabalho, querendo mudar alguma coisa? “É normal, acontece com todo mundo, faz parte do jogo.” Embora o clique original tenha sido aquele garoto desgarrado, no Rio, o roteiro tomou outro rumo. Uma médica, Amanda. Exige muito de si mesma, gosta de experimentar coisas novas com o marido. Ele mantém o controle sobre si mesmo, ela se torna dependente. E tudo se passa em São Paulo. “Estudei aí, e achava que seria a locação perfeita para a nossa história”, diz Moura, falando do Rio. A selva de concreto

Luísa entrou na dos roteiristas e filmou, em HD, a série toda em locações. Nada de estúdio – “Isso ressalta o realismo, a impressão de urgência.” De cara, Moura e Gold decidiram que não queriam seguir a abordagem tradicional do tema ‘drogas’ no cinema brasileiro. Em geral são narrativas policiais. Pobreza, violência. Luísa fala nos atributos ‘confortáveis’ de Amanda. Branca, classe média alta. E Gold – “Queríamos desconstruir estereótipos, ir fundo na abordagem das contradições humanas.” Moura admite que fez direitinho sua lição de casa – reviu clássicos de Hollywood como O Homem do Braço de Ouro, de Otto Preminger, com Frank Sinatra, de 1955. “Revi também Farrapo Humano, de Billy Wilder.” Foi o grande vencedor do Oscar de 1945 O alcoolismo foi dando lugar às drogas mais pesadas, mas nunca deixou de ser uma ameaça – Vício Maldito/Days of Wine and Roses, de Blake Edwards, de 1962, em que Jack Lemmon e Lee Remick estão geniais.

O foco em Onde Está Meu Coração é a família. Pai e mãe divergem quanto ao tratamento que deve ser dado a Amanda. Letícia Colin é quem faz o papel. Está espetacular. O pai é interpretado por Fábio Assunção, que, todo mundo sabe, teve problemas com drogas na vida. Moura conta que o roteiro – completo – foi enviado a Assunção com um recado. “Gostaríamos muito que você fizesse, mas sinta-se à vontade para dizer não.” Ele disse sim. Luísa destaca um aspecto importante – “Esse cruzamento da vida pessoal do Fábio com a nossa trama me trouxe um senso muito grande de responsabilidade.” Esclarece – “Fábio me deu acesso a um grupo de pesquisadores, profissionais da área da saúde mental e de políticas de drogas no Brasil, no qual está completamente inserido como interlocutor respeitado.”

E mais – “Fábio é um ator visceral, gigante, que se entregou sem qualquer entrave nessa representação. Quando ele entrava no set a gente se olhava e falava o mínimo, muitas vezes nos emocionávamos nos primeiros instantes do ensaio, sentindo muita sintonia e compartilhando as sutilezas do que estava em jogo em cada cena.” Referendando tudo o que foi dito pelos roteiristas, Luísa enfatiza o propósito do trabalho.

“Nosso foco não é a droga, mas as fragilidades humanas e sociais, nossos traumas. O roteiro propõe um foco no tratamento dessas questões. É preciso empatia. Ninguém escolhe ser viciado. É preciso encarar o problema, e com o comprometimento de todas as esferas da sociedade.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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