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O presidente médico

Nesses últimos setenta anos, o Brasil teve um único médico como presidente da República. Seguramente, se ele vivesse, não teria receitado cloroquina para combater a pandemia que se alastrou pelo mundo, nem feito o Exército nacional adquirir montanhas desse produto, com licitação dispensada, sem a motivação que é sempre obrigatória e, no caso, técnico-médico-científica.

E nem precisa se lembrar de que médico tem responsabilidade de médico, segue os parâmetros da ciência, tem ética e respeito pelo outro. Estupidez supor que o médico aprecia a tortura da pessoa ou é devoto na sacristia do torturador. Em qualquer circunstância, ele defende o valor principal da existência humana, que é a vida. É o seu juramento. Como qualquer pessoa normal, reconhece sua humani­dade no outro. O contrário está no altar da psicopatia.

O médico inesquecível como político, e que fora oficial da Polícia Militar mineira, foi Juscelino Kubitscheck de Oliveira. Ele inoculou o vírus do sentimento de nação, despertou as melhoras forças do país para o momento sorridente da integração nacional. Nasceu para a presidência, junto com o espírito da bossa nova, das novas artes, da construção gigantesca e revolucionária de Brasília.

Foi homenageado com o título de “Presidente Bossa Nova”. Uma coincidência histórica está na cidade em que João Gilberto conse­guiu chegar à batida musical que o consagrou. Ela foi apurada no banheiro da casa da irmã do compositor, mãe recente, que se mu­dara para a cidade mineira de Diamantina, cidade na qual Juscelino nasceu no dia 12 de setembro de 1902.

Inoculou no país o sentimento da conciliação entre os diferentes, civis e militares.
Sua gestão teve um início tumultuado, com duas rebeliões de militares da aeronáutica: a de Jacareacanga e Aragarças.

Tratou os revoltosos com a grandeza do estadista que ele era. Anistiou-os logo.
Apoiou o golpe às instituições democráticas, em 1964, pensando em seu retorno em 1965. Logo viu a armadilha em que caíra. Foi cassado.

Os golpistas de 1964 não suportavam sua vocação democrática. Humilharam-no, na ditadura, o quanto quiseram, levando-o a inter­rogatórios absurdos.

Proibiram-no de visitar Brasília, a cidade de sua alma e de seu coração. Para matar a saudade de sua “criança” ele viajava de carona, em caminhão, para registrar a estupidez emergente no palco do Brasil, que ele não sonhara.

Os torturadores, aparentes e simulados do golpe de 1964, negaram-lhe o direito de viajar para a França, a fim de submeter-se à cirurgia de seu câncer na próstata – a consequência para ele foi terrível. A propósito, foram os mesmos que ordenaram que o carro fúnebre do ex-presidente Jango fosse do Uruguai até São Borja em alta velocidade.

Juscelino já estava cassado, escrevendo sua crônica semanal na redação da revista Manchete quando, inesperadamente, chega o coronel que fora líder das revoltas de Jacareacanga e Aragarças. Num ato de gigantismo, humildade e de coragem moral, o militar se apre­sentou dizendo-lhe: “Presidente, eu venho lhe pedir desculpas”.

Antes de morrer, os plantonistas da época anteciparam a notícia de sua morte. Era só um treino. “Eles querem me matar, mas ainda não conseguiram”. Antes disso, tentavam manchar sua imagem de líder, dizendo ter amealhado a maior fortuna da Europa. Os jornais divulgavam essas mentiras.

O acidente de carro que o vitimou, na Dutra, próximo à cidade de Rezende, no dia 22 de agosto de 1976, está envolto em penumbras e suspeitas de assassinato. Antes um pouco, fizera uma parada em um hotel cuja propriedade era de um militar aposentado do setor da inteligência militar. Para a Comissão da Verdade da Câmara Munici­pal de São Paulo, ele foi assassinado.

Morreu, deixando um apartamento no Rio de Janeiro e um pe­queno sítio, próximo a sua Brasília.

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