Ex-trabalhador rural, o chamado “boia fria”, na década de 1980, nas fazendas de laranja de Bebedouro, cidade localizada a 80 km de Ribeirão Preto, o professor e pedagogo da rede pública de ensino, Mauro Inácio, é o pré-candidato do Partido Socialismo e Liberdade (Psol) na eleição para prefeito de Ribeirão Preto. O primeiro turno das eleições municipais está marcado para o dia 15 de novembro.
Em Ribeirão Preto desde 1990 ele não é um rosto novo para grande parte dos eleitores da cidade. Já foi candidato, a prefeito de Ribeirão nas eleições de 2008 e 2012 e a deputado estadual em 2010. Nestes pleitos foi candidato pelo Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU)
Atuante nas lutas do movimento sindical, do movimento negro, contra as opressões e nas lutas políticas da classe trabalhadora brasileira ele também faz parte do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp).
Tribuna Ribeirão – O que o levou a colocar seu nome a disposição do PSOL como pré-candidato a prefeito de Ribeirão Preto?
Mauro Inácio – Os governos sempre fizeram da prefeitura um balcão de negócios, governando com e para os grandes empresários. O PSOL escolheu meu nome para inverter essa lógica e governar com os de baixo, para os de baixo. Conosco serão os ricos que vão pagar a conta das crises que eles próprios criaram. E também atendi a um chamado de meus companheiros e companheiras de partido que queriam o Psol com uma face identificada com os oprimidos e com as lutas sociais de Ribeirão. Fiquei honrado com a tarefa dada.
Tribuna Ribeirão – No caso específico de Ribeirão Preto o partido não tem representatividade no Legislativo. Como reverter isso?
Mauro Inácio – No último período o partido esteve voltado para se construir junto às lutas das mulheres, dos servidores, dos negros e das negras, dos LGBTQI+ e na defesa dos serviços públicos, nas lutas recentes contra o fechamento da Unidade Básica Distrital de Saúde central, pela inauguração da creche do bairro Cristo Redentor. Também atuamos nas ações de ajuda durante a pandemia que os diversos coletivos do PSOL estão realizando como distribuição de cestas básicas, cozinhas coletivas e distribuição de kits higiênicos para a população mais vulnerável, além do apoio a luta das comunidades pela moradia. Isso nos dá autoridade e força para conquistar uma vaga no Legislativo, o que será um ponto de apoio importante às lutas do povo trabalhador da cidade.
Tribuna Ribeirão – O que sua candidatura propõe de novo em relação às outras até agora cogitadas pela imprensa e pelos próprios políticos?
Mauro Inácio – Nossa candidatura propõe fazer uma revolução na forma de governar. Vamos criar conselhos populares compostos por representantes dos movimentos sociais, sindicatos de trabalhadores, trabalhadores informais, microempreendedores. Com o apoio dessa base social vamos acabar com as terceirizações, combater a privatização do saneamento e fazer grandes empresas e bancos pagarem devidamente seus impostos.
Tribuna Ribeirão – Que avaliação o senhor faz da atual administração e quais os principais problemas da cidade?
Mauro Inácio – É um dos piores governos da história da cidade. Aprofundou as terceirizações; desde 2019 não reajusta o salário dos servidores, que estão arriscando a vida nessa pandemia para servir a população. Faz da prefeitura um cabidão carregado de comissionados que nem são da cidade. A crise sanitária evidenciou o caráter empresarial da atual gestão e sua irresponsabilidade com a vida das pessoas. Duas semanas após a reabertura do comércio pela prefeitura, para atender empresários, explodiu o número da casos de covid-19 e de vidas perdidas. O prefeito deveria decretar de um lockdown, associado a uma renda básica municipal para todos que precisarem. Os principais problemas da cidade são: Saúde, Educação, Moradia, Transporte Coletivo, Assistência Social, Segurança e Infraestrutura.
Tribuna Ribeirão – Como senhor analisa o atual momento político brasileiro?
Mauro Inácio – Gravíssimo. A economia mundial já dava sinais de crise, antes do coronavírus, a pandemia acelerou a crise do capitalismo, acertando em cheio o Brasil. A previsão de queda do nosso PIB é de até 10%. Ao mesmo tempo o país se torna o epicentro mundial da pandemia. O desemprego nas alturas e a renda média caiu 40%. Logos vamos superar 2 milhões de pessoas com covid-19, e 80 mil vidas perdidas. O governo federal é responsável por esse cenário, mas muitos governadores e prefeitos também. Se conseguirmos o impeachment do presidente miliciano, aí sim teremos uma luz no fim do túnel.
Tribuna Ribeirão – Dizem que a esquerda brasileira se perdeu no poder enquanto governou o país. O senhor concorda com esta afirmação?
Mauro Inácio – Não. A esquerda não se resume ao partido que governou o país. O Psol é um exemplo, sempre coerente na defesa do seu programa – no interesse dos trabalhadores; quer seja na atuação parlamentar, quer seja nas ruas com os movimentos sociais. Sempre na oposição à direita e a ultradireita, sempre enfrentando as políticas neoliberais, mesmo que estas tenham sido aplicadas por partidos que falam em nome da classe trabalhadora.
Tribuna Ribeirão – A pandemia do coronavírus deverá mudar o jeito e a forma de se fazer campanha. O PSOL está preparado para uma campanha mais virtual do que presencial?
Mauro Inácio – Sim. O Psol está preparando seus militantes e apoiadores para uma campanha mais virtual. Estamos implementando plenárias na internet que vão reunir centenas de filiados e simpatizantes para construir coletivamente um programa para Ribeirão. Esses companheiros já estão se engajando no debate de ideias e quando a campanha começar, todos estarão ajudando nas redes e também na militância tradicional em bairros e comunidades.
Tribuna Ribeirão – O Brasil vive atualmente um momento de polarização política muito intensa. Isso pode afetar as eleições municipais e transformar a disputa numa espécie de Fla-Flu?
Mauro Inácio – Após os protestos pela democracia convocados por torcidas antifascistas e pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, com Guilherme Boulos, ficou evidente que a hegemonia nas ruas é do campo democrático, não do bolsonarismo. O termo polarização política – que dá a entender equilíbrio entre campos opostos, não corresponde à realidade. Nós somos a maioria. Mas a ultradireita certamente vai reproduzir nas eleições municipais os métodos bolsonarista do gabinete do ódio, vai espalhar Fake News, usar caixa dois para financiar disparos nas redes sociais, ameaçar pessoas etc. Nós faremos uma campanha apoiada em argumentos racionais e científicos, pautada nos interesses da classe trabalhadora, mas com muita paixão e solidariedade também! Vamos discutir os problemas locais com propostas concretas para melhorar a vida das pessoas, mas não deixaremos de fazer a crítica a Bolsonaro e todos que flertam com a extrema direita, como o governador João Doria e o prefeito Duarte Nogueira. Não vamos permitir que ele destrua o Brasil e isso afeta Ribeirão. Faremos um governo para a maioria. As pessoas estão sofrendo muito com a pandemia e a crise econômica (especialmente as mulheres e os negros) com o desemprego, a violência doméstica e policial, a destruição ambiental, com as vidas que estamos perdendo. Eu compartilho dessa dor. Mas quero compartilhar também o sonho que carrego comigo, o de conquistar um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres e felizes, um mundo ecossocialista.