Edwaldo Arantes *
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Aos domingos sempre tomamos nosso café em uma simpática, agradável e charmosa padaria perto do nosso apartamento localizado na Rua Rui Barbosa.
Em uma manhã, ao chegarmos uma surpresa, na mesa ao lado estavam Rolando Boldrin, esposa e filha.
Sempre fui um admirador do Boldrin desde suas atuações como talentoso ator em inúmeras novelas, com destaques marcantes para: “O Direito de Nascer”, “Mulheres de Areia”, “As Pupilas do Senhor Reitor”, “A Viagem” e “Os Inocentes”.
Um brilhante apresentador de “talk shows” nos programas: Som Brasil/Globo, Empório Brasileiro/BAND, Empório Brasil/SBT e o último com índices sempre altíssimos de audiências, o Sr. Brasil/TV Cultura/SP.
Há muito tempo estava tentando um contato com ele na expectativa de trazê-lo para a nossa Feira do Livro.
Tímida e mineiramente dirigi-me até eles, Boldrin foi muito amável, pediu-nos para juntar as mesas e as duas famílias imediatamente estabeleceram uma sintonia.
Engraçado que uma identificação imediata surgiu, transformando-se em amizade fortíssima, perpetuando-se por anos e anos a fio.
Na despedida marcamos um encontro em São Paulo na TV Cultura para falarmos sobre a possível participação dele na nossa Feira Nacional do Livro, no que ele demonstrou interesse e entusiasmo.
Em São Paulo definimos sua participação, formada por um monólogo no Theatro Pedro II no sábado, após o espetáculo “Noite de Autógrafos” e lançamento de sua biografia, terminando com um “Café Filosófico”, na manhã do domingo.
Rolando Boldrin, um dos artistas mais dedicados e competentes que conheci, cuidava pessoalmente de tudo, ensaios, cenografia, figurinos, iluminação, sonoplastia e camarim, participando e vistoriando tudo.
O “apoiador” SEB/COC contava com uma equipe formada por profissionais altamente gabaritados que cuidaram de todo o marketing, realizando a campanha publicitária em ampla exposição nas mídias.
Sócrates participou ativamente colocando seu nome e o programa “Papo com o Doutor” à disposição, com uma entrevista que resultou em um sucesso retumbante.
Bem, vamos ao grande dia ou à grande noite.
Ônibus, vans e centenas de carros começaram a chegar de toda a região, principalmente São Joaquim da Barra e entorno.
O majestoso Theatro Pedro II um dos três mais importantes teatros de ópera do país, com capacidade para receber 1.500 pessoas estava lotado, tivemos que armar dois telões na frente do teatro para que todos pudessem participar do grandioso evento.
Cerca de 10 mil pessoas deslocaram-se ao Centro, ocupando a Esplanada, Calçadão, Praça XV de Novembro, “Quarteirão Paulista”, chegando até ao tradicional café “Única”.
O empresário, Paulo Ferreira, um amigo e apoiador, proprietário do “Pinguim” fez uma projeção para os seus clientes, então maravilhados e entorpecidos pelos chopps em um momento eterno.
No show, entrecortado por músicas, contos e “causos”, havia momentos de absoluto silêncio, onde não se ouvia o mínimo ruído, assim que o trovador começava a declamar.
Em um momento monumental sua voz levou aos corações um lindo poema, permeado pelo silêncio avassalador de pulsações contidas e respirações pausadas.
Um casal de idosos, acomodados na primeira fila no instante e auge do recital, o esposo fez menção de tossir.
A esposa não teve dúvidas e baixinho advertiu-o rispidamente:
-Tosse para dentro seu velho! Eu devia ter vindo sozinha.
Ela sem saber que a perfeita acústica captou e ecoou em alto e bom som as palavras sigilosas em todos os lugares, aos “quatro ventos” ou “quatro cantos”.
Foi um festival de risos, palmas, sibilos, apupos e assobios, tal qual a molecada nas matinês vendo o Tarzan pular na água e matar o crocodilo.
O cancioneiro popular, prosador, músico e ator não coube em si, soltou uma sonora gargalhada e continuou a declamar.
Ao final, ovacionado pelo brilho que inundava o recinto, ungido pelo talento, sob uma chuva de aplausos.
Sucesso magistral, retumbante e absoluto. Uma apoteose.
* Agente cultural