Nascido em 1936, Mário Vargas Lhosa é um autor peruano que conta, atualmente, com 85 anos. Atuando, também, na política, no jornalismo e como ensaísta e professor universitário, é um dos literatos e intelectuais mais importantes da América Latina, além de um dos principais escritores de sua geração. Em 2010, reconhecido com o Prêmio Nobel de Literatura por sua “cartografia das estruturas do poder e imagens vigorosas da resistência, revolta e derrota individual”, nas palavras da Academia Sueca, apresenta uma produção literária crítica da hierarquia de castas sociais e raciais, vigente ainda hoje, segundo o escritor, no Peru e na América Latina. Seu tema primordial? A luta pela liberdade individual na realidade opressiva do Peru.
Influenciado pelo existencialismo de Jean Paul Sartre, que separa percepção de imaginação, e pelo fluxo de consciência de William Faulkner, que procura transcrever o complexo processo de pensamento de um personagem, com o raciocínio lógico entremeado com impressões pessoais momentâneas e exibindo os processos de associação de ideias, apresenta muitos trabalhos autobiográficos, como “A cidade e os cachorros” (1963), “A Casa Verde” (1966) e “Tia Júlia e o Escrevinhador” (1977). Em 1981, publica “A Guerra do Fim do Mundo”, sobre a Guerra de Canudos, dedicando-a ao escritor brasileiro Euclides da Cunha, autor de “Os Sertões”. Em 2006, ao publicar o livro “Cartas a um jovem romancista”, acerca das técnicas de como escrever um romance, discorre, entre outros, sobre o que é imprescindível para a criação de um livro. De acordo com a crítica especializada, Vargas Llosa começa afirmando que todas as histórias se alimentam da vida de seu criador, bem como, que o estilo deve ser coerente com o tema narrado para que o leitor consiga viver a obra que está lendo. Por sua vez, acerca da relação narrador-espaço, afirma que o narrador é o personagem mais importante de todos os romances, pois dele dependem os demais, não devendo, o mesmo, ser confundido com o autor.
Chamando a atenção para a relação espaço do narrador e espaço narrado, afirma que, na narração de um personagem, esses dois espaços coincidem, mas, quando o narrador é externo à trama, isso não acontece. Já o narrador ambíguo, em sua opinião, pode, certamente, assumir qualquer uma dessas posições. Sobre o tempo do romance, Vargas Llosa afirma não ser, o mesmo, igual ao da realidade, mas, sim, constituído de uma instância que permite ao autor se desvencilhar do real. Distinguindo tempo cronológico como o que existe independentemente da subjetividade humana, afirma ser o tempo psicológico uma instância que funciona em função de nossas emoções. Por sua vez, ao abordar os níveis de realidade, bem como, tratar da relação que se estabelece entre o plano de realidade do narrador e aquele em que se desenrola a história narrada, Vargas Llosa entende que ambos podem coincidir ou não. Por adição, há o que ele chama de “caixa chinesa” ou “boneca russa” (matriosca), a saber, um recurso narrativo em que, tal como esses objetos, têm uma história dentro da outra.
De sua autoria, temos: Ficção, Os Chefes (1959), Batismo de Fogo (Brasil) // A Cidade e os Cães (Portugal) (“La ciudad y los perros”) (1963), A Casa Verde (1966) (Premio Rómulo Gallegos), Os Filhotes (1967), Conversa na catedral (Brasil) // Conversa n’A Catedral (Portugal) (1969), Pantaleão e as visitadoras (1973), Brasil: Tia Júlia e o Escrevinhador / Portugal: A Tia Júlia e o Escrevedor (1977), A Guerra do Fim do Mundo (1981), Historia de Mayta (1984), Quem matou Palomino Molero? (1986), O falador (1987), Elogio da madrasta (1988), Lituma nos Andes (1993). Premio Planeta, Os cadernos de Dom Rigoberto (1997), Brasil: A festa do bode / Portugal: A festa do chibo (Portugal) (2000), O paraíso na outra esquina (2003), Travessuras da menina má (2006), O sonho do celta (2010), O herói discreto (2013), Cinco Esquinas (2016) e Tempos Ásperos (2019). Como Teatro: A menina de Tacna (1981), Kathie e o hipopótamo (1983), La Chunga (1986), El loco de los balcones (1993) e Olhos bonitos, quadros feios(1996). Como Ensaio: García Márquez: historia de un deicidio (1971), Historia secreta de una novela (1971), La orgía perpetua: Flaubert y «Madame Bovary» (1975), Contra viento y marea. Volume I (1962-1982) (1983), Contra viento y marea. Volume II (1972-1983) (1986), La verdad de las mentiras: Ensayos sobre la novela moderna (1990), Contra viento y marea. Volumen III (1964-1988) (1990), Carta de batalla por Tirant lo Blanc (1991), Desafíos a la libertad (1994), La utopía arcaica. José María Arguedas y las ficciones del indigenismo (1996), Cartas a un joven novelista (1997), El lenguaje de la pasión (2001), La tentación de lo imposible (2004), Sabres e Utopias (2009), A civilização do espetáculo (2012) e O chamado da tribo: grandes pensadores para o nosso tempo (2018). Como Memórias: El pez en el agua (1993). Vários desses livros, como La tía Julia y el escribidor, tendo sido adaptados para o cinema.
Como muitos escritores latino-americanos, Vargas Llosa foi politicamente ativo ao longo de sua carreira. Entretanto, embora inicialmente tenha apoiado o governo revolucionário cubano, mais tarde se desencantou com sua política, principalmente após a prisão do poeta cubano Heberto Padilla em 1971. Depois disso, Llosa aderiu ao liberalismo político, sendo classificado como de direita. Concorrendo à presidência do Peru em 1990, via coalizão de centro-direita Frente Democrático, defendeu reformas liberais clássicas. Porém, foi vencido nas urnas por Alberto Fujimori. Atualmente, o autor mantém uma coluna jornalística em O Estado de São Paulo.