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O Peru e sua Literatura (3): Ricardo Palma, Ciro Alegria e José María Arguedas

Manuel Ricardo Palma y Carrillo (1833-1919) foi um contista e ficcionista histórico peruano, colaborador em diversos jornais nacionais e estrangeiros e autor da coletânea “Tradições Peruanas”. Como diretor da Biblioteca Nacional do Peru (1883), solicitou livros de diferentes países para reconstruir tal instituição, destruída e saqueada por ocasião da guerra entre Peru e Chile. Desse perí­odo, duas peças teatrais de sua autoria conseguiram ser recuperadas: o drama “Rodil” (1851), redescoberto cem anos depois de sua estreia, em 1952, por José Jiménez Borja, na biblioteca do Club Nacional, e a comédia “El santo de Panchita”, que escreveu junto com Manuel Ascencio Segura. Seu primeiro livro de prosa, “Corona patriótica”, chegou em 1853, seguido de “Poesías” (1855) e “Armonías. Livro de um excluído”. Em 1890, publicou “A San Martín” , um poema que provocou protesto do governo chileno, que o considerou ofensivo ao seu país. No ano seguinte, veio a público sua última coleção de poemas, “Filigranas”. Em 1865, compilou a antologia “American Lira. Coleção de poesia dos melhores poetas do Peru, Chile e Bolívia”. No gênero histórico, escreveu “Anais da Inquisição de Lima” (1863), “Bolivar, Monteagudo e Sánchez Carrión”. Como linguista, defendeu a admissão de novas palavras, o que se refletiu em seus livros “Neologismos e Americanismos” (1896) e “Cédulas Lexicográficas” (1903). Os textos que compõem as “Tradições Peruanas”, trazem um novo gênero, intermediário entre o conto e a crônica, construído a partir de fatos históricos e anedotas populares do Peru. Enquanto alguns as consideram nostálgicas do passado colonial, outros, que a ironia com que descrevem esse passado esconde a crítica social.

Ciro Alegria (1909-1967), jornalista, político e contista peruano, foi um dos prin­cipais representantes do romance indígena de seu país, tendência que conviveu com a narrativa realista peruana nas primeiras décadas do século XX. Desde cedo envolvido na luta política como membro da Aliança Popular Revolucionária Americana (APRA), angariou duas penas de prisão (em 1931 e 1933) e seu posterior exílio no Chile em 1934. Nesse mesmo período, escreveu a parte mais significativa de sua premiada obra. Em 1935, com “A Serpente Dourada”, narrou a vida dos nativos das margens do Marañón. Em 1939, com “The Hungry Dogs”, apresentou a luta do homem contra a natureza hostil. Em 1941, com técnicas narrativas modernas e o fôlego de uma composição heroica, “O mundo é largo e estrangeiro”, de tema indianista, revela-se retrato épico das lutas de uma comunidade indígena contra os três poderes que querem destruí-la: a oligarquia fundiária, o Exército e o governo a serviço dos interesses dos EUA. Assim como Ricardo Palma, Alegria também se dedicou ao jornalismo, sendo eleito deputado após ter renunciado ao Partido Aprista. Nessa época, publicou um livro de contos, “Duel of Knights” (1963). Sua obra, juntamente com a do também peruano José María Arguedas, é a expressão artisticamente mais madura da narrativa regionalista e indigenista peruana do século XX. Após sua morte, suas obras mais conhecidas foram reimpressas, bem como, tudo o que ficou inédito. Dessa forma, dois romances inacabados, intitulados “Lázaro” (1972), com conteúdo político, e “El di­lema de Krause” (1979) foram publicados postumamente. Também é preciso destacar suas coletâneas de contos: “Panki e o guerreiro” (1968); “A oferenda de pedra” (1969), histórias andinas; “Sete histórias de quiromancia” (1978), escritas nos Estados Unidos e Porto Rico; e “O sol das onças” (1979), histórias da Amazônia. Em 1976, um livro de memórias apareceu sob o título “Mucha suerte con hato palo” .

José María Arguedas (1911-1969) foi um escritor e antropólogo peruano que, além de romancista, também se destacou pelas traduções da literatura quíchua e como estudioso do folclore de seu país. Em 1935, publicou sua primeira obra, a coletânea de contos “Agua”. Em 1956, “Los ríos pro­fundos”; em 1964, “Todas las sangres” e, em 1971, “El zorro de arriba y el zorro de abajo”. Buscando descrever os encontros e desencon­tros de todas as raças, e de todas as pátrias, em sua obra buscou repelir a violência do mundo valorizando o mundo dos oprimidos. Suicidou-se com um tiro, em 2 de dezembro de 1969. De acordo com especialista, “Se não faltam vozes dispostas a fazer a tradução de diferentes práticas discursivas a uma defini­ção universalista de literatura, inclusive em nome dos subalternos, a voz solitária de Arguedas parece insistir no direito a não fazer literatura, no direito a não ser imediatamente reduzido à ficção, no direito a não ter que escolher entre fato e fetiche, literatura e história”.

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