O termo literatura colonial, ou literatura da colônia, faz referência ao estado do território denominado Peru, durante os séculos XVI ao XIX (1821 marca a data de independência), conhecido como Vice-reinado do Peru, cuja extensão cobria toda América do Sul, com exceção de Caracas (que pertencia a Nova Espanha, México) e a metade do atual Brasil (que integrava o domínio de Portugal). No período de 1532 a 1535, considerando os cronistas espanhóis, há vários grupos de escritores do gênero. Os primeiros são os cronistas do período de conquista e de colônia que, oficiais das expedições que eram, apresentam, ao lado de cronistas não-oficiais, sua visão particular dos feitos sucedidos. No primeiro grupo encontra-se Francisco de Xerez, secretário pessoal de Pizarro (espanhol conquistador do Peru, que submeteu o Império Inca ao poderio espanhol), autor de “Verdadera relación de la conquista del Peru e província de Cuzco llamada la Nueva Castilla” (1531) e “Relación Sámano-Xerez” (1528), no que se descrevem as primeiras viagens de Pizarro realizadas entre 1525 e 1527. Por sua vez, de autoria do Frei Gaspar de Carvajal (1541-1542), a obra “Relación del descubrimiento del famoso río grande de las Amazonas”, descreve a primeira expedição e cartografia da Amazônia peruana e os povos e habitantes indígenas. Já Pedro Sancho de la Hoz, autor de “La conquista del Perú” (1550), dá continuidade ao trabalho de Xerez. De Miguel de Estete, temos “Noticia del Perú” (1535); a “Relación de muchas cosas acaescidas en el Perú, en suma para atender a la letra la manera que se tuvo la conquista y poblazon destos reinos” (1552), de Cristóbal de Molina, considerada a primeira crônica identificada com o índio conquistado; e a “Crónica del Perú”, de Pedro Cieza de Leon, publicada em 4 partes: Parte Primera de la Chrónica del Perú (1550), El Señorío de los Incas (publicado séculos depois, em 1873 mas composto entre 1548 y 1550), Descubrimiento y Conquista del Perú (publicado em 1946) e a quarta parte, composta a sua vez de cinco livros: La guerra de las Salinas, La guerra de Chupas, La guerra de Quito, La guerra de Huarina y La guerra de Jaquijaguana (publicados em 1877, 1881, 1877 respectivamente). Os últimos dois livros nunca foram escritos devido a morte do autor. O que esses cronistas têm em comum? A origem, ou seja, são todos espanhóis, bem como, o fato de escreverem desde a perspectiva do conquistador, de civilizar e “levar a verdadeira fé”, até a visão indígena, esforçando-se por compreender esta última.
Neste contexto de crônicas, temos, também, os cronistas Peruanos, que se opõem a outro grupo similar, denominado cronistas nativos e mestiços. Os cronistas nativos, membros de elites regionais, incluem os membros da família real Incaica, como Titu Cusi Yupanqui, que, em 1570, abordou a relação de como os espanhóis entraram no Peru e a consequência que teve Mango Inca e o aprendizado da cultura dos espanhóis, utilizada para expressarem textualmente sua visão não oficial da própria história, seja em crônicas sobre a criação do mundo, seja sobre as diferentes idades da terra, as guerras civis entre os Incas, as tradições e costumes de seus povos e a conquista e os resultados das colônias. Junto a ele, Juan de Santa Cruz Pachacuti, escreveu, em 1613, sobre a relação de antiguidade do reino do Peru, tentando explicar a cosmogonia inca, seu uso rude do espanhol, fortemente influenciado pela cultura local. Felipe Guaman Poma de Ayala, escreveu entre 1585 e 1615, mas publicou apenas em 1936, sobre o processo de destruição do mundo andino, ocasionado pela resistência dos Incas e pela dificuldade de comunicação com os espanhóis. Dentre os cronistas mestiços, o principal representante é o inca Garcilaso de la Veja, em cuja crônica encontramos a junção do espanhol e o índio, que simboliza o Peru mestiço, e o criolo, em busca de um renascimento social. Sua obra mais popular, “Comentários reais dos incas”, é dividida em duas partes. Publicada, a primeira, em 1609, e, a segunda, um ano depois de sua morte, em 1617. Tratam da história do passado andino, exaltando a visão utópica do período do governo dos incas e resgatando a poesia quéchua utilizada pelo povo inca, pré-colombiano. Trata, também, da íntima conexão entre o autor, enquanto cronista, com os eventos que sucedem. Também escrita pelo autor é a crônica “Florida del Inca”, publicada em Lisboa, em 1605, e construída a partir de dados recolhidos pelo autor do expedicionário Gonzalo Silvestre, membro do grupo dirigido por Hernando de Soto a sua travessia pela Flórida.
Dentre os outros cronistas existentes, merece destaque um grupo de cronistas que retratam o descobrimento e a conquista do território peruano, mas que se faz de forma tangencial ou não centrando-se especificamente neste tema (como veremos no caso do Pai das Casas). A maioria dos cronistas deste grupo escrevem suas obras em um período posterior ao da conquista e as guerras internas entre Pizarro e Diego de Almagro. Neste grupo se inclui Bartolomé de las Casas, sacerdote dominicano que, em sua brevíssima relação da destruição das Índias (1552), inclui um capítulo titulado de “Os grandes reinos e grandes províncias do Peru”, abordando a captura e morte de Atahualpa, embarcado no espírito de denúncia da obra. Neste grupo de outros cronistas merecem destaque: Gonzalo Fernández de Oviedo, em sua história geral e natural das Índias, ilhas e terra firme do oceano (primeira parte publicada em 1535, editada completamente entre 1851 e 1855); Francisco López de Gómara dedica os capítulos 108 ao 195 de sua Historia general de las Indias e conquista do México (1552) à conquista e guerras civis do Peru; Antonio de Herrera dedicou o terceiro volume de sua história geral em feitos dos castelhanos nas ilhas e terra firme do oceano que chamam de Índias ocidentais (como foi conhecida por décadas, 1.601-1.615) a conquista do Peru realizada por Pizarro e o milanês Jerónimo Benzoni que, no terceiro livro de sua “Dell’historia del mondo nuovo” (Veneza 1565) realiza um reconto da história e características do reino do Peru.