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O Peru e sua Literatura (14): Manuel Scorza

Manuel Scorza (1928-1983) foi um autor peruano que se dedicou ao romance e a poesia. Integrante da geração dos anos 50, voltou sua obra ao Indigenismo ou Neoindigenismo. Mestiço, filho de pai camponês e mãe indígena, passou sua infância nos Andes, estudando em colégio militar e iniciando-se, posteriormente, em atividades políticas. Poeta desde os 16 anos, em linha­gem oposicionista ao regime, foi preso após a implementação da ditadura de Manuel Odría, exilando-se no México, onde viveu por 7 anos, e, dali, terminados os estudos universitários, seguindo para o Chile e para o Brasil. Estabele­cendo-se em Paris, França, aprendeu o francês, empregando-se como leitor de espanhol na Escola Normal Superior de Saint-Cloud.

Seu primeiro livro, já no exílio, Las im­precaciones / As maldições (1955), traz versos repletos de desespero, refletindo as situações em que se encontrava imerso. Nos seguintes, tornou-se constante sua reflexão sobre os problemas sociais do Peru. Na década de 70, com uma obra de cinco romances intitulada A Guerra Silenciosa, o autor alcançou sucesso internacional. Traduzida para mais de quarenta idiomas, Scorza tornava-se um dos mais notáveis nomes da literatura peruana na segunda metade do século XX, influenciando fortemente a realidade política do Peru. Este trabalho, trazendo uma descrição detalhada dos objetivos político-ideológicos do autor, e das estratégias narrativas que o mesmo escolheu e desenvolveu com maestria para atingir públicos diferentes, denunciava os massacres e o feudalismo reinante na região dos Andes Centrais, que submetia as populações des­cendentes dos povos originários. Configurava-se, segundo especialistas, em uma porta de entrada na História e na literatura dos povos em luta contra a opressão.

Retomando postulados e posturas ideológicas vindas dos autores do chamado indigenismo, Scorza rompia os moldes estilísticos limitado­res dessa catalogação, resgatando o respeito e a capacidade de representar esses povos na sua riqueza cultural e simbólica. Em 1981, foi convidado pelo jornal italiano “Il Mattino” a ir a Nápoles para escrever uma série de artigos sobre uma cidade que, depois de um segundo terremoto, havia retornado ligeiro ressurgi­mento em 1980. Organizador do primeiro Fes­tival do Livro de seu país, Scorza traz uma obra em que mistura o imaginário e o onírico, o lúdico e o irônico, partindo dos mitos para en­focar a realidade. Na prosa, através da presença da origem indígena, o autor registra a história da rebelião e da repressão das comunidades andinas peruanas, construindo um imenso mural contemporâneo de seu país, fato, este, que, em 1968, mais uma vez o obrigou a deixar o Peru, perseguido devido à sua atuação política no movimento indigenista.

De acordo com estudiosos da obra de Scorza, se o narrador do seu romance questiona a capacidade do mito de desencadear uma revolução no mundo atual, ele, Scorza, também critica duramente a própria “mo­dernização”, que peca por não conseguir se adaptar ao contexto peruano. O ciclo fecha-se com mais um massacre e outras prisões, o que evidencia a permanência dos conflitos nos Andes: não existem soluções fáceis e imediatas no âmbito sociopolítico. Em outras palavras, as tensões hão de conservar-se, tal qual em grande parte, senão toda a, da histó­ria literária das nações andinas, cuja marca mais notável é a riqueza dos seus conflitos entoados por múltiplas vozes.

Em 28 de novembro de 1983, logo após a publicação de La danza inmóvil, romance que significava uma ruptura radical com A guerra silenciosa, o avião no qual Scorza viajava caiu, a poucos quilômetros do aeroporto de Madri, onde faria uma escala rumo a Bogotá, vindo o autor a falecer aos 55 anos. De sua autoria também foram os romances Redoble por Ranças (1971), Historia de Garabombo, el Invisible (1973), entre outros.

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