Julio Ramón Ribeyro (1929-1994) foi um escritor peruano de destaque na Geração de 50 de seu país. Considerado um dos mais influentes contistas latino-americanos, também escreveu romances, ensaios e peças de teatro. Primeiro de quatro irmãos (um menino e duas meninas), Ribeyro, na infância, morou em Santa Beatriz, bairro de classe média de Lima, depois mudando-se para Miraflores, um dos quarenta e três distritos que formam a Província de Lima, situada na zona costeira do Peru. Com a morte de seu pai, o autor ficou extremamente abalado, além de sofrer profundas dificuldades na situação econômica de sua família.
Estudante de Direito e Letras na Universidade Católica de Lima, mudou-se para Paris para trabalhar como jornalista e, posteriormente, como assessor cultural e embaixador da UNESCO. Tendo vivido a maior parte de sua vida na França, intercalou breves retornos ao Peru. Em Paris, escreveu seu primeiro livro “Os urubus sem penas” (1955), coletânea de contos em que dá voz aos esquecidos e aos marginalizados, retratando a dura realidade de milhões de pessoas que residem não apenas no Peru, mas em todo o mundo. A dor, o sofrimento, a miséria e a crueldade neles apresentadas mostrando como falhamos, como seres humanos, há muito tempo.
Em 1958 voltou ao Peru, e em setembro do ano seguinte viajou para a cidade de Ayacucho, para ocupar o cargo de professor e diretor de extensão cultural da Universidade Nacional de Huamanga. Em outubro de 1960, retornando à França, trabalhou como tradutor e editor para a agência France Presse (1962-72). Em 1972 foi nomeado adido cultural peruano em Paris, delegado adjunto da UNESCO e, posteriormente, Ministro Conselheiro, até chegar ao cargo de embaixador peruano junto à UNESCO (1986-90). Por volta de 1993, estabeleceu-se definitivamente em Lima, sendo distinguido com o Prêmio Nacional de Literatura (1983), o Prêmio Nacional de Cultura (1993) e o Prêmio Juan Rulfo de Literatura Latino-Americana e Caribenha (1994), um dos mais prestigiosos prêmios literários na esfera cultural hispano-americana.
Suas obras, conhecidas por unirem crítica social e fantasia, a despeito de um aparente conservadorismo formal, contribuíram decisivamente para consolidar a transição da narrativa indigenista para a narrativa urbana no Peru. No gênero conto, escreveu “Os Urubus Sem Penas” (1955); “Contos de Circunstâncias” (1958), “As garrafas e os homens” (1964), “Três histórias rebeldes” (1964), “Os contos dos cativos” (1972), “No próximo mês eu subo de nível” (1972), “Silvio em El Rosedal” (1977), “Apenas para fumantes”(1987) e “Contos de Santa Cruz” (1992). No gênero novela, escreveu “Crônica de São Gabriel”(1960), “O Gênio do Domingo” (1965) e “Troca da Guarda” (1976). No gênero teatral, escreveu “Santiago, o Passarinho” (1975), “Atusparia (1981”). Como ensaio, escreveu “A caça sutil” (1975). Por sua vez, “Prosas apátridas” (1975) reúnem fragmentos que oscilam entre anotações em um diário, aforismos e o ensaio filosófico, passeando por temas como literatura, infância e velhice, amor e sexo, memória e esquecimento, com sensibilidade, elegância e amargura ímpares. Já “Ditos de Luder” (1989) pode ser entendido como uma manifestação de seu interesse em escrever o que ele pensava e sentia sobre o que estava acontecendo com ele ou o que ele imaginava. Como diários surgiram “A tentação do fracasso” (3 vol.) (1992- 1995) e, como correspondência, “Cartas a Juan Antonio” (2 vol.) (1996-1998).
Vindo a falecer em 4 de dezembro de 1994, dias depois de receber o Prêmio Juan Rulfo de Literatura Latino-Americana e do Caribe, deixou uma obra marcada por ironia recorrente, nela fazendo um recorte da realidade a partir de personagens cujas vidas e condutas foram diretamente afetadas pelo contexto social, sendo traduzido para vários idiomas.