De acordo com a crítica especializada, nos contos de Echenique, em especial, “Morte de Sevilha em Madrid”, “Com Jimmy, en Paracas”, “A descoberta de América” e “Baby Schiaffino”, é de extrema importância a crítica que o autor faz sobre a questão do machismo, elemento mítico que se erigiu em nome da identidade do homem latino-americano. Segundo Vargas Llosa, é polêmica a tese que considera a violência política ter ensanguentado a história da América Latina, assim como a de Cuba ser expressão, e consequência do machismo. Uma cultura homocêntrica, profundamente enraizada em todo o continente. Sendo o trajeto histórico da mulher latino-americana quase sempre condicionado a uma vida em que sempre preponderou a vontade e a determinação do homem, é o questionamento desse violento machismo que é apontado nos contos de Echenique.
O escritor não busca passar a ideia de que não existam diferenças sexuais ou que não se deva falar delas. O que faz, sim, é percorrer uma via de mão dupla: de um lado, abre a crítica contra os que não aceitam as mudanças dos papéis sociais que vêm ocorrendo nos últimos anos; de outro, combate o preconceito com o próprio preconceito. De que forma? Colocando em xeque o papel masculino de ser o homem detentor do poder pelo simples fato de ser o detentor da fala desse mesmo poder. Nesse caso, entende que a função do escritor deve ser, então, a de quem esclarece tais relações.
No conto “A morte de Sevilha em Madrid” o falocentrismo é posto em questão por meio do contraste entre duas personagens: Sevilha, o foco de atenção do conto, e Salvador Escalante, o excompanheiro de escola, que atravessa todo o conto através ela evocação memorialista de Sevilha. Enquanto Salvador Escalante é o ídolo, o futebolista admirado no colégio, tipo esbelto e atlético, louro, amado e desejado pelas mulheres, Sevilha é uma insignificância, pouco mais que uma figurinha de papel. Mas Salvador Escalante é apenas uma presença na memória de Sevilha: em momento algum faz algo que possa habilitá-lo como o grande conquistador. Dessa forma, percebe-se que Salvador Escalante é apenas um contraponto através do qual se lê a figura do antimacho e do anti-herói da narrativa.
O que se pode perceber, após o exame dos tipos que aparecem no conto? Segundo a crítica, o modo verticalizado com que Echenique se situa frente à condição humana e, nesse caso, o autor questiona a aparência do próprio homem, buscando a sua essência. Isso pode ser verificado na maneira gradativa com que a figura do macho vai sendo desconstruída, uma vez que esse invólucro é que constitui a sua aparência. É preciso, então, romper esse invólucro a fim de que se determine o ser – no caso, o homem latino-americano – em sua espécie, indicando sua matéria e sua substância, descobrindo, afinal, sua subjetividade.
Enquanto produto estereotipado de uma mito, a saber, a condição machista, o ser acaba vítima de um sistema que só quer despir sua essência para transformá-lo em ente. Assim, a objetivação não apenas despersonaliza o ser mas, pior ainda, retira sua essência. Desse modo, a obra de Echenique carrega-se das cores vivas do existencialismo na medida que mostra o homem “vítima de um sistema prepotente que lhe dita as ações” e, ao mesmo tempo, põe em circulação a concepção sartreana da “doutrina que torna a vida possível e que, por outro lado, declara que toda verdade e toda ação implicam um meio e uma subjetividade humana”. Ao final da narrativa, a reflexão a que o leitor é conduzido termina por questionar se todos os demais personagens, aparentemente secundários, não se supunham, sim, serem maiores que Sevilha.
“Afinal, nada havia a desmanchar neles, na linearidade da narrativa, uma vez que eles representam a grande aparência que o escritor vai desconstruindo. A morte de Sevilha em Madrid é, portanto, o ponto crucial para o questionamento de modelos fundados na aparência. Ela encarna, na verdade, a morte do antiherói, do outro, ou seja, do ser da alteridade, que ganha projeção, espaço e relevo, em função de tornar inoperantes valores sacralizados indevidamente”.