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O pensamento não pode ser aprisionado

O educador Paulo Freire afirmava que a educação não pode ser apenas o ato de receber informação e conhecimento prees­tabelecido, sem a devida reflexão, pois sem reflexão os conteú­dos vão passando e não são interiorizados, apenas são repeti­dos, e com isso a construção da cidadania fica comprometida.

O reconhecimento internacional de Paulo Freire não foi suficiente para que a sua pedagogia conseguisse fazer parte do currículo da educação básica brasileira. Isso se explica com a eterna casa grande e senzala – que está gravada no incons­ciente da maioria da população como um mantra – e o atual fundamentalismo religioso, que corroboram para que retro­cedamos alguns séculos.

Mas sua pedagogia é provida de luz natural, e isso causa pavor nos asseclas da escuridão, e se valem das barreiras invisíveis do obscurantismo, fazem de tudo para manter a pirâmide social como está, e sempre foi – com cada macaco no seu galho. Mesmo com as dificuldades impingidas pelas trevas, alguns educadores conseguiram colocar um pouco de luz no ambiente escolar – inaugurando o contraditório, que é a paúra dos tradicionalistas radicais.

A força e a luz da pedagogia de Paulo Freire não conseguiram penetrar na maioria das escolas públicas básicas brasileiras, mas ultrapassou as fronteiras, e foi acolhida na maioria dos países de­senvolvidos. Por ser uma pedagogia que trabalha a autonomia e a criticidade do ser humano, e cria a cidadania, não é compatível com a atual política reacionária calcada na ideologia do ódio.

Enquanto isso, as escolas privadas, mesmo que disfarçada­mente, e sem citar Paulo Freire, trabalham a autonomia para educar os filhos da elite branca e rica para comandar o País. É normal nestas escolas a prática da política partidária, com a criação de cidades fictícias, onde há eleições para prefeito e vereadores, e aprendem a “fazer política fazendo”, e até pouco tempo estes privilegiados eram unanimidade, com raras exce­ções, nas universidades públicas.

As audiências públicas que aconteceram no Supremo Tribunal Federal (STF) em 2010, para debater a implantação das políticas de cotas, escancararam o racismo velado e crimi­noso, que a elite rica e branca mantém contra os mais pobres. Mas a política de cotas foi considerada constitucional. Com a implantação das políticas de cotas, as universidades públicas passaram a ser um local de diversidade cultural e racial, e isso feriu de morte o orgulho dos senhores de escravos, que não aceitaram a derrota, e ficaram trabalhando nos bastidores, esperando o momento propício para contra-atacar.

Enquanto as universidades públicas eram somente para brancos e ricos, não havia problemas comportamentais, mesmo que em algumas delas o estupro, e até crime de morte, fizesse parte dos trotes com naturalidade – foi preciso a coragem de alguns docentes e a intervenção da Justiça para minimizar esta situação, mas ter pobre e preto neste ambien­te, na visão deles, é muito mais grave.

A autonomia, criticidade e a diversidade de ideias que são construídas nas universidades públicas, que eram exclusivida­de do topo da pirâmide, com as cotas vão começar a produ­zir conhecimento na base, e como o conhecimento derruba barreiras, e nos torna mais iguais, entra em conflito com a política de lambe-botas do Tio Sam do atual presidente.

Portanto, desconstruir as universidades públicas e acabar com as políticas de cotas é o caminho vil que encontraram para expulsar os filhos dos pobres das universidades, pois se a política de inclusão – que é um sucesso – continuar, logo, logo seremos uma Nação. Querem aprisionar o pensamento, mas se esquecem de que o pensamento voa e não há grade que possa aprisioná-lo.

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