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O Paraguai e sua Literatura: Josefina Plá (3)

Os deslocamentos espaciais e culturais de Josefina Plá, ao impedirem seu prosseguimento nos estudos formais, ocasionaram à autora completar sua instrução de forma livre, tendo por guia a generosa biblioteca paterna, da qual também frutificou sua vocação literária. Desde sua chegada ao Paraguai, em 1926, o fato de publicar poemas nos jornais da nação, graças à influência de Campos Cervera, fez com que Plá fosse considerada a primeira mulher a atuar como jornalista no país. Re­cebida como um fenômeno da poesia, além de publicar gravuras em madeira ou linóleo para ilustrar tanto seus textos quanto os de outros autores, também colaborou com Roa Bastos em uma série radiofônica sobre o avanço da guerra na região e com Roque Centurión Miranda na primeira audição radiofônica local.

De acordo com a crítica, Josefina Plá pode ser considerada a primeira mulher a se colo­car em igualdade com uma intelectualidade masculina nas primeiras décadas do século XX, fundando no Paraguai uma original crítica literária e apresentando seja a primeira influência modernista local, seja a primeira crítica de arte contemporânea no país. Criadora da Escola de Artes Cênicas local, na qual ensinou literatura dramática até 1972, em suas colaborações jornalísticas, então sua principal fonte de renda, tratou de temas como a mulher, a infância, a guerra, a vida doméstica e festas pátrias paraguaias e estran­geiras, entre outros. Publicando seu primeiro volume de poesia, “El precio de los sueños” (1934), Plá dá continuidade às atividades docentes. Por sua vez, a morte prematura do marido, em 1938, na Espanha, por complicações de saúde que não puderam ser tratadas durante a Guerra Civil, a traz de volta ao Paraguai, agora ensinando a técnica de pintura ceramista indígena com ele praticada. No entanto, uma tristeza: deixar guardada em um museu espanhol, sem previsão de resgate e de repatriação, a obra do mesmo.

No poema Tus manos (1938), a dor do luto: “En mi carne de estío, como en hamaca lenta, ellas la adolescente de tu placer columpian. -Tus manos, que no son. Mis años, que ya han sido. Y un sueño de rodillas tras la palabra muda-.Dedos sabios de ritmo, unánimes de gracia, cantaban silenciosos la gloria de la curva: cadera de mujer o contorno de vaso. Diez espinas de beso que arañan mi garganta, untadas de agonía las diez pálidas uñas, yo los llevo en el pecho como ramos de llanto”. Traduzindo, “Na minha carne de verão, como numa lenta rede, eles, os adolescentes do teu prazer, balançam. -Suas mãos, que não são. Meus anos, que já foram. E um sonho de joelhos por trás da palavra silenciosa … Dedos sábios do ritmo, unânimes na graça, cantavam silenciosamente a glória da curva: o quadril de uma mulher ou um contorno de vidro. Dez espinhos de beijo arranhando minha garganta, dez unhas pálidas manchadas de agonia, carrego no peito como buquês de lágrimas”. Segundo a crítica, luto, morte, resig­nação, desilusão, pessimismo, dureza, crueza e tragédia serão os te­mas de sua obra nessa fase, atravessada que Josefina Plá estava pela experiência do exílio: uma obra que espelhava seu dilaceramento.

A despeito disso, será sua resistência, deslocamentos, dor e desilusão que lhe angariarão a resistência necessária para seguir em frente. Dedicando-se intensamente ao Paraguai, a pátria por ela escolhida, Plá viria, na ocasião, a construir uma das produções artísticas e literárias mais significativas do país. É, segundo especia­listas, a figura de uma mulher viúva e exilada, resignada, cuja dor e força superadora é potencializada. Sua obra artística, sempre norte­ada pela mestiçagem e hibridação da cultura paraguaia, assimilou, segundo estudiosos, o pré-colombiano e o popular, com ilustrações que reproduzem motivos rupestres e indígenas no mesmo cenário que personagens do campo, com vestimentas típicas locais, além de extensa obra dramática em guarani, embora sua língua materna fosse o castelhano peninsular. Por sua vez, sua obra crítica ocupou­-se mais da constituição identitária do país. Exemplos? Apuntes para una historia de la cultura paraguaya (1967), Cuatro siglos de teatro en Paraguay (1990/1), El barroco hispano-guaraní (1975), El espíritu del fuego (1977), El grabado en el Paraguay (1962), Literatura Paraguaya del siglo XX (1972), Bilingüismo y tercera lengua en el Paraguay (1975), Hermano negro (1972), Españoles en la cultura del Paraguay (1983), Ñanduty: encrucijada de dos mundos (1993), Italianos en Paraguay (2016). Sobre isso trataremos na próxima semana.

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