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O papel dos rios voadores amazônicos

E o ponto de compensação fótico

Muito se fala a respeito do período em que o holandês Maurício de Nassau nos governou. Seus admiradores brincavam dizendo que ele “fazia até boi voar”. Manuel Calado, no seu “O Valeroso Lucideno” escreveu:

“Quem foi, quem foi
Que falou no boi voador
Manda prender esse boi
Seja esse boi o que for”.

Chico Buarque de Holanda aproveitou do lendário e escreveu sobre o boi voador (“Boi voador não pode”).

“O boi ainda dá bode
Qual é a do boi que revoa
Boi realmente não pode
Voar à toa

É fora, é fora, é fora
É fora da lei, é fora do ar
É fora, é fora, é fora
Segura esse boi
Proibido voar”

É claro que a lenda não é verdadeira, mas, não é mentirosa a existência dos rios voadores.

Tais rios são grandes volumes de vapor d’água produzidos pela transpiração da floresta, concentrados na atmosfera e que correm toca­dos por correntes de ventos. Mais comuns na Amazônia, ficam entre e acima das copas das grandes árvores. São invisíveis e não apresentam margens definidas.

Um rio voador amazônico nasce a partir da evaporação de água do Oceano Atlântico nas costas brasileiras. Carregado pelos ventos alísios rapidamente se aproxima da curvatura do Acre, por onde não pode passar, impedido pela cordilheira dos Andes, que funciona como barreira geo­gráfica. Curva-se, então, para o sul passando por Bolívia, Paraguai e pelo sudoeste e sul do Brasil.

Esse trajeto garante o regime pluviométrico dessas regiões. Os rios voadores funcionam como regadores para as regiões por onde passam. Se atravessassem a cordilheira, as áreas desses chuveiros drenadas por esses rios ficariam secas, caminhando para a desertificação. Por essa razão, à pergunta se a Amazônia é o pulmão do mundo, a melhor resposta parece ser que não, mas que é o condicionador de ar, além de responsável pela irrigação das terras amazônicas.

Diferente dos rios terrestres, os rios voadores amazônicos nascem a partir da vaporização de águas do Oceano Atlântico. As “correntes” são determinadas por ventos alísios e se dirigem para o sudoeste. Não fosse a grande barreira andina esses rios iriam desaguar no Oceano Pacífico, deixando seco o seu trajeto real. No entanto, ao se aproximar da Cordi­lheira dos Andes, muda seu destino passando por Bolívia, Paraguai, norte da Argentina e Sudoeste e Sul do Brasil.

Os rios voadores determinam o regime de chuvas do sul e sudeste da América do Sul. A massa de vapor d’água vai gradativamente aumentando à medida que as correntes aéreas passam pela floresta. Vale lembrar que a Amazônia tem cerca de 600 bilhões de árvores, que carregam diariamente 20 bilhões de toneladas de água para os mares.

Note que isso é muito mais que os rios terrestres amazônicos que têm uma carga diária menor, de 17 bilhões de toneladas. Os rios voadores com umidade e chuva regam todo o seu trajeto. Assim não é difícil entender porque o desmatamento acaba levando à desertificação.

Tem sido repetido que “a Amazônia é o pulmão do mundo”. É uma afirmação no mínimo discutível. Se considerarmos o conjunto de grandes árvores, vamos concluir que suas partes verdes liberam oxigênio somente quando iluminadas, mas elas têm maior quantidade de partes não verdes que não liberam O2, apenas CO2, estando ou não iluminadas.

Parte das árvores fica à sombra. Por Ponto de Compensação Fótico en­tendemos a intensidade luminosa na qual o O2 produzido na fotossíntese é igual ao CO2 produzido na respiração. As algas marinhas, pela riqueza em células clorofiladas, liberam grandes volumes de O2. Talvez seja mais justo deixar o título de “pulmão” para elas.

Analise a afirmação: “Sem a floresta não há água”. Acha que está certa?

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