As irreparáveis perdas das vidas humanas, os grandes prejuízos financeiros e materiais e os danos à infraestrutura causados pelas fortes chuvas no Litoral Norte de São Paulo durante o Carnaval são mais um alerta sobre os riscos inerentes às mudanças climáticas. O volume pluviométrico na região foi o maior de todos os tempos no Brasil, algo muito fora da curva. Fenômenos semelhantes têm ocorrido em distintas regiões do planeta.
No caso de nosso país, a questão envolve numerosas vertentes, como a contenção do desmatamento ilegal, a substituição de fontes fósseis por energia mais limpa e renovável, a redução da emissão de gases de efeito estufa, inclusive pelo avanço das políticas de saneamento e resíduos sólidos, e a garantia das reservas legais nas propriedades rurais. Outra frente decisiva é uma política industrial que contemple produção cada vez mais sustentável, como temos disseminado no Estado de São Paulo, nas ações do CIESP, da FIESP e de suas instituições como o Sesi e o Senai.
Além disso, defendemos perante as autoridades uma política industrial aderente à agenda ambiental e, ao mesmo tempo, capaz de resgatar a competitividade do setor, imprescindível para a geração de empregos em grande escala, inclusão socioeconômica e redução das desigualdades. Cabe lembrar que uma sociedade pouco inclusiva é um caldo de cultura para moradias e comunidades precárias, sem saneamento básico, que jogam seus resíduos sólidos em lixões a céu aberto e, portanto, com mais pegada de carbono e mais suscetíveis a riscos climáticos. Sem falar do principal: a qualidade de vida e a proteção à saúde.
Esse olhar mais amplo, considerando todo o espectro sociológico, econômico, demográfico e as necessidade de o Brasil ascender ao patamar de país de renda alta, está expresso no documento que o CIESP e a FIESP entregaram aos candidatos à presidência da República e ao governo do Estado, em 2022, e que subsidia nosso diálogo com os novos governos: precisamos acelerar a transição à Indústria 4.0. Para isso, é preciso definir seu marco legal, adequando incentivos e reduzindo custos do financiamento. Deve-se, ainda, fomentar o desenvolvimento produtivo e tecnológico de fornecedores e startups, além de criar instrumentos para as médias, pequenas e microindústrias. Definir uma agenda de investimento também é crucial, contemplando redução dos juros e mais acesso ao crédito.
O fortalecimento da infraestrutura é outro fator urgente. Cabe fomentar o investimento público, mantendo a sustentabilidade fiscal, e incentivar o empreendedorismo, por meio de concessões e parcerias público-privadas. Também são prioritárias a reforma administrativa, para se alcançar uma estrutura fiscal saudável, e a tributária, com isonomia na taxação de todos os setores, instituição do Imposto sobre Valor Agregado (IVA) e desoneração das exportações e dos investimentos. Nossa proposta abrange, ainda, o aprimoramento das políticas públicas de saúde. Outra prioridade é elevar a qualidade do ensino, para que cumpra seu papel como alavanca do desenvolvimento.
Não podemos continuar negligenciando todas essas prioridades nacionais, dentre elas a necessidade de restabelecer a competitividade da indústria, dada sua capacidade de criar empregos em grande escala e pelo fato de pagar os melhores salários, agregar valor à balança de pagamentos e investir em tecnologia e inovação. O que preconizamos não é uma pauta em defesa do setor, mas de um país mais desenvolvido, mais engajado na agenda do clima e da sustentabilidade e capaz de prover vida de melhor qualidade à sua população, o que inclui moradias dignas e fora de áreas de riscos de enchentes, desmoronamentos e soterramentos. Preservando a vida e promovendo inclusão socioeconômica: ações decisivas!