O clima mudou. Em março era tudo fechamento, paralisação, isolamento. Passaram-se quatro meses e o momento é outro.
Banho de mar está autorizado (praia não). Os programas da TV estão voltando. O futebol recomeçou. Bares e restaurantes reabrem (em grandes cidades, nem todas). As escolas já anunciam as aulas presenciais dentro de mais um mês (há quem discorda). O comércio em geral conta as horas, os dias, para reabrir suas portas. Não há dúvida que estamos tentando recuperar o bom astral, acreditar que o pior passou. Ou, está passando, que é o mais prudente. Sem exageros, comedidamente, com responsabilidade, pedagogicamente.
O mundo registra a pandemia atual com informes conflituosos: a Europa teve retrocessos, especialmente na região do Reino Unido; Peru, Colômbia, Argentina, Bolívia também recuaram. Os avanços pela recuperação econômica (flexibilização) estão sendo contidos. Estados Unidos não oferecem um bom exemplo.
Por aqui os números da pandemia são altos, assustadores. Nada previsível para tanto otimismo. Nem há razões para um desmanche da orientação expandida por toda parte, que evitava maior contaminação, doentes e mortos. Infelizmente já anteciparam a desativação de leitos e hospitais de campanha, quando não sabemos ainda a real evolução da pandemia (se teremos uma nova onda).
Em situações tão gigantescas e imprevisíveis, como é o caso, este retrocesso (desmanche) da estrutura criada poderia aguardar um pouco mais (pelo menos até consolidar os números médios da pandemia, nos próximos 30/60 dias). Os administradores precisam ter moderação, equilíbrio, porque lidam com situações graves, de saúde pública, com vidas em risco.
Dá para sentir o quanto tem havido de pressão para o retorno às atividades comerciais, nas cidades de todos os portes. Os prefeitos, em especial, são forçados a atender os que perderam renda, fecharam seus negócios e caíram no desemprego.
Nota-se que a questão política confunde-se com o interesse social, num ano em que haverá eleição e o político se preocupa com o seu futuro.Todavia, é impossível que desconsidere o seu nível de consciência, que afeta os seus semelhantes, porque todos correm os mesmos riscos. Está em jogo a sobrevivência de todos nós, como nunca, desde a pandemia anterior (1918) nestes últimos cem anos.
Não podemos ter pressa. Esta é sempre inimiga de quem administra, principalmente de quem tem a responsabilidade de lidar com o interesse público.
Profissionais de outros países hoje evitam trabalhar no Brasil. O mundo nos olha com reservas, porque não tivemos uma liderança política responsável, que orientasse os brasileiros em vez de ser produtor de maus exemplos. Negou-se a ciência, desprezando as convicções mais seguras dos seus especialistas. O resultado está sendo catastrófico. Não precisávamos estar entre esses mais desavisados e inconsequentes. Mas assim foi.
Podemos, porém, ter agora o bom senso que faltou à liderança política nacional quando ainda estávamos ao início desse sofrimento. É o mínimo que se espera, sem atropelos e atos precipitados. Que assim seja, inclusive na mudança de faixas (cores) na classificação estadual.