A bela cidade de Barolo, no Piemonte, numa das íngremes colinas cobertas de vinhedos (langhe, no dialeto local) e onde se produz o extraordinário vinho que leva seu nome – os italianos dizem que o Barolo é redivini e vino dei re (rei dos vinhos e vinho dos reis) – apresenta a seus visitantes interessante instituição cultural, o original Museu do Saca-Rolhas. Utilizando-se da antiga adega do Palácio Comunal, montaram elegante exibição de mais de 500 tipos do utensílio, recolhidos desde a segunda metade do século XVII, desde suas formas primitivas, até os modernos inventos de hoje.
Os não iniciados no mundo do vinho dirão que se trata de instrumento para tirar a rolha dos gargalos das garrafas. Os enófilos, entretanto, têm um visão diferente, pois o simples ato de vencer a cortiça com a ponta do saca-rolhas e levá-la lentamente para dentro do vedante do vinho, é ato de fé e alegria, que antecede o enorme prazer de descobrir o néctar dos deuses, que, então, poderá ser degustado.
Quem tem intimidade com o vinho sabe que abrir uma garrafa é esperar uma experiência única, um momento mágico, uma descoberta nova em cada garrafa, pois o vinho sempre surpreende. Não há vinho sempre igual. Ele varia de acordo com o solo, a temperatura, a chuva, o granizo, a microfauna que se desenvolve na terra das videiras, tudo colaborando para um produto eterno, que desde priscas eras, encanta o Homem.
No começo de tudo, o vinho, muito diferente do que tomamos hoje, era guardado em ânforas de barro, fechadas com cera, alcatrão e lâminas de azeite, que proporcionavam pouca vedação e o consequente azedamento do vinho.
Com as primeiras garrafas, de vidro muito quebradiço, vieram as tampas do mesmo material, que se popularizaram como vedação de perfumes, especiarias ou remédios, sendo pouco usados para a bebida.
No início do século XVII, os ingleses aperfeiçoaram a técnica de confecção das garrafas, mais grossas e escuras, que passaram a suportar transporte de longo alcance. Com elas, vieram as rolhas de cortiça, até hoje usadas nos grandes vinhos do mundo, sendo Portugal o seu grande produtor.
Havia entretanto um problema, a dificuldade de retirar a vedação para se consumir o vinho. Por certo, houve várias tentativas de criação de um instrumento que possibilitasse a extração da rolha, mas, a primeira patente do saca-rolhas foi concedida ao inglês Samuel Henshall, em 1795.
Na sua forma primeira, era uma rosca incrustada num suporte para colocar os dedos da mão, como um grande T. O museu tem uma vasta coleção dos mesmos, em madeira, ferro, tartaruga, ouro, prata e porcelana.
Com o tempo, a criatividade humana permitiu o surgimento de vários tipos de saca-rolhas, todos representados na mostra. Entretanto, até nossos dias, sempre utilizaram a rosca, embora acessada de modos diversos. Ultimamente, foram lançados no mercado alguns instrumentos movidos a gás. Porém, todos utilizam a velha forma de inserir uma ponta roscada na cortiça.
O saca-rolhas preferido dos sommeliers é aquele que tem duas etapas de abertura. Com o canivete embutido num dos seus lados, corta-se a capa de proteção da rolha. Depois, introduz-se o parafuso na cortiça até um ponto que seja permitido colocar a primeira fase da alavanca, dando-se um impulso para que a rolha comece a subir, quando então, com a segunda fase, retira-se a mesma.
O Museo dei Cavatappi é mais uma atração imperdível da bela região italiana do Piemonte.