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O Moldava

Tendo recebido escassos conhecimentos de música, tive a oportunidade de aprender que haveria dois degraus para a clas­sificação de sua categoria: há músicas abstratas e outras descriti­vas. Os meus mestres depositaram na primeira categoria as mais importantes criações. Na segunda identificavam as músicas de padrão inferior. Com certeza, há exceções.

Uma delas é a música de Beethoven conhecida como “Für Elise”, ou em português “Para Elisa”, cuja existência foi descoberta algumas décadas depois da morte do compositor. Qual o nome da obra e quem era a Elisa homenageada? A dedicatória foi transformada no nome da obra. É ela abstrata ou descritiva? Não se conhecen­do a razão do seu nascimento, passou a ser abstrata.

Afirma-se que a música mais relevante do nosso universo é a longa “Paixão segundo Mateus” de Bach. Como se sabe tem o seu texto para ser cantada. Uma música cantada, como a paixão de Cristo pode ser abstrata? Não há resposta porque não há palavras para sua conceituação.

O russo Rachmaninof compôs o seu famoso “Prelúdio”, que de tanto ouvi-lo retorna sempre na minha memória. Os norte-americanos transformaram o “Prelúdio” numa bela músi­ca popular “Lua cheia e braços vazios” ou “Full moon and empty arms”. Qual das duas é a mais conhecida. O “Prelúdio” ou a sua ver­são americana? Com certeza é a sua versão. O “Prelúdio” perdeu a sua abstração com a versão dele extraída? Não sai da minha me­mória, a apresentação do “Prelúdio”, no palco do Theatro Pedro II, ali por volta de 1965, apresentada por uma jovem pianista!

Posso ir mais perto. Um amigo enquanto estudante em Roma compôs o coro para a apresentação da “Missa de Angelis” no Vaticano. Sempre afirmou que, pelo menos para ele, a música desta Missa transformou-se na obra máxima da arte humana. Segundo a sua experiência pessoal.

“O Moldava” é o rio que passa pela região da Europa onde se encontra a República Moldava, a Tcheca e a Ucrânia. O rio Mol­dava corta a república Tcheca. Smetana (1828/1884), o seu mais conhecido compositor, compôs um poema sinfônico para home­nagear sua pátria. Seu nome: “Minha Pátria” ou “Ma Walst”.

Um dos capítulos do poema sinfônico retrata o rio Moldava. O texto é conhecido como tem seu nome, “Vltava”. Portanto, tanto o poema, como seu capítulo são músicas descritivas. Apresenta-se ou não como obra de primeiro grau? As notícias que nos chegam esclarecem que o poema sinfônico “Minha Pátria” é sempre aquele estudado como bom exemplo nas universidades europeias.

A música de “O Moldava”, descritiva que é, traz na memória do ouvinte desde o nascimento do rio ao seu encontro com o Rio Elba. Num momento, pelo seu som, refere-se a um casamento. Mais adiante as cornetas de caçadores. E até mesmo busca na sua abstração a dança das “ninfas”. A música retrata a sua passagem pela famosa ponte de Praga. Raramente ouvi música tão bela.

Após o fim da Guerra Fria, com o desparecimento da repú­blica comunista na Rússia, a área de sua influência e até mesmo da sua soberania sobre o leste da Europa, despedaçou-se em vários Estados soberanos. É desnecessário lembrar que a região notabilizou-se pela notável produção artística, não só na área musical, até mesmo no âmbito literário como demonstrou as obras de Tolstoy (1828-1919), de Dostoyevsky (1821-18810) e de Chekhov (1860-1904).

A transformação da convivência humana, com a eclosão da Guerra da Ucrânia, comandada pela Rússia, seguramente atingi­rá não somente a alma daquelas repúblicas, como a Moldávia, a Polônia, a Tcheca, a Ucrânia, até mesmo a Rússia, como também a convivência pacífica de todos os homens.

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