Era conhecido como o menino inventor, pelos moradores nas cercanias de sua casa, pois gostava de turbinar invenções e modas. Estava sempre procurando acrescentar alguma melhoria aos brinquedos, que dominavam os jovens, ou criar alguma coisa original para ser agregada aos hobbies e diversões praticadas pela juventude. Na época em que o ioiô virou febre e todos nas ruas e nas praças passavam o tempo empurrando para baixo e para cima o brinquedo, montou um ioiô com pratos de 30 cm. de diâmetro.
Eram grandes e pesados discos de madeira, unidos por um tolete do mesmo material, presos por parafusos. No lugar do barbante, uma corda com uma manopla de couro, por onde enfiava a mão e fazia funcionar seu brinquedo. Andava orgulhoso pelas ruas da cidade ainda pequena e todos admiravam a invenção. Muitos pediam para experimentar a novidade, mas, não era fácil manter o ritmo de brinquedo tão pesado. E lá ia ele, puxando e largando a corda do seu ioiô, feliz da vida.
Num agosto de muito vento, quando todos faziam suas pipas de papel de seda, montava a sua com a página central do Estadão. Usava não as varetas finas e delicadas, mas um ramo de bambu para estruturar seu papagaio. O cordonê substituía a linha comum e, depois que o vento o fazia decolar, era preciso força para que o papagaio não levantasse seu empinador. Bolou um suporte de papel celofane que abrigava uma vela acesa. De noite, quando a cidade começava a se recolher, via-se no céu uma luz tremeluzente, que flutuava no escuro, causando surpresa para muitos e medo para poucos. Não demorou para que se descobrisse o “fenômeno”, que rendeu boa prosa dos vizinhos.
Chegado o mês dos balões, numa época em que não se tinha ainda noção do perigo que os mesmos causavam, resolveu fazer o maior balão já visto. Reuniu os amigos, pediu auxílio a conhecidos mais velhos e elaborou um belo projeto: inúmeras folhas de papel de seda, das grandes, de cores alternadas; uma tocha de 1 m. de diâmetro. Esvaziou uma das salas da casa onde morava e começou a colar, meticulosamente, o material. O balão crescia a olhos vistos e tomava a extensão diagonal do cômodo. Chegou um momento em que precisou enrolar as seções já feitas e coladas. Antes de dormir, apreciava orgulhoso o fruto de seu trabalho.
Montou uma equipe para a soltura. Um dos amigos seguraria o bico do balão numa escada altíssima, que pedira emprestado, desdobrando lentamente a estrutura. Dois outros, com enormes bandejas circulares seriam encarregados de abanar a boca para que o balão se enchesse, pois só quando houvesse atingido a forma losangular seria possível acender a mecha, encargo de outro companheiro, que também devia segurar o balão para que ele não decolasse prematuramente.
No quintal enorme da casa, um grupo grande acompanhava, atento, os preparativos, soltando murmúrios de espanto e alegria, conforme o balão se enchia. Havia uma tensão em todos, pois jamais haviam visto balão daquele tamanho.Quando tudo estava pronto para o lançamento, alguém argumentou que haveria necessidade de um lastro, afim de que a peça subisse equilibrada. Logo se providenciaram dois tijolos, amarrados na estrutura da mecha.
Tudo pronto, caberia ao jovem inventor dar a ordem de soltura, o que foi feito depois de um momento de silêncio e apreensão. O balão desgarrou-se das mãos que o seguravam, subiu um ou dois metros, começou a adernar e as chamas da mecha lamberam e se espalharam rapidamente por umas laterais. Em segundos, aquilo que seria o maior balão jamais visto se tornou uma grande e única chama, que consumiu o papel de seda, restando somente a mecha ainda acesa, que caiu no chão. Ao anticlímax notado em todos, ouviu-se uma voz do menino inventor: “Não faz mal, faremos outro…”